SALVADOR, BA - A dois meses do fim do prazo para as convenções partidárias, o PL enfrenta indefinições na disputa de prefeituras de ao menos oito capitais, com embates entre aliados, assédio de outros partidos e uma corrida pela bênção do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em capitais como Campo Grande, Boa Vista e Porto Velho, o PL titubeia na definição por uma candidatura própria ou apoio a um partido aliado. A decisão deve passar pelo ex-presidente.
Em Belém, a expectativa é por um bate-chapa para definição do candidato. Em Fortaleza e Goiânia, os pré-candidatos do PL têm sido cortejados para deixar a disputa e firmar alianças até as convenções. Também há indefinição em Teresina, São Luís e Macapá, cidades em que o partido não deve ter candidato próprio e negocia alianças até com partidos de esquerda.
Os impasses refletem a estrutura de duplo comando no PL, onde os interesses de Bolsonaro não raro entram em rota de colisão com o os do presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto.
"As decisões sobre candidaturas cabem aos diretórios locais, mas tudo é sempre alinhado com Bolsonaro e Valdemar. Pode haver divergência em pouquíssimos casos, mas Valdemar nunca vai contra Bolsonaro", explica deputado federal Altineu Côrtes (PL-RJ), o líder do partido na Câmara dos Deputados.
Bolsonaro tem feito um périplo pelas principais capitais do país, dando a bênção para seus aliados mais próximos. Passou por Rio de Janeiro, Manaus, Fortaleza, João Pessoa e nessa sexta-feira (7) desembarcou em Palmas (TO).
Mas os impasses seguem em parte das capitais. Campo Grande (MS) é uma das cidades que sintetiza o cenário de indefinição. Desde o início do ano, quatro nomes do PL se sucederam como possíveis candidatos à prefeitura.
O deputado estadual Coronel David se lançou para a disputa, mas desistiu após Bolsonaro sinalizar apoio ao também deputado João Henrique Catan. Dias depois, contudo, o ex-presidente mudou a rota e indicou como candidato o ex-deputado Rafael Tavares.
Em nova reviravolta, o presidente municipal do PL e amigo de Bolsonaro, Tenente Portela, disse que ele mesmo seria o candidato a prefeito. A decisão desencadeou uma crise interna no partido.
Antes, o ex-presidente já havia sinalizado a possibilidade de apoio ao candidato Capitão Contar (PRTB) e não fechou a porta para um possível apoio à reeleição da prefeita Adriane Lopes (PP), aliada da senadora Teresa Cristina (PP).
Disputas internas
Em Belém, o deputado federal Éder Mauro (PL) caminhava para ser um nome de consenso no partido. Mas ganhou um concorrente: o Capitão Nassar, líder de um grupo de militantes bolsonaristas.
Ao se lançar candidato, Nassar disse que existem dois partidos dentro do PL: o de Bolsonaro e o de Valdemar da Costa Neto. Disse ainda que o presidente nacional do partido faz alianças que vão na contramão dos ideais do bolsonarismo.
"Somos patriotas, não somos negociadores políticos partidários. Temos interesse de ver uma Belém melhor", afirmou o pré-candidato. A tendência é que ambos batam chapa em uma disputa interna, a despeito do favoritismo de Éder Mauro, que controla do diretório estadual do partido.
A situação é semelhante em Boa Vista (RR) e Porto Velho (RO), onde disputas no campo do bolsonarismo travaram as definições de candidaturas.
Na capital de Roraima, quem se lançou para a disputa foi Frutuoso Lins (PL), vice-governador no primeiro mandato de Antonio Denarium, mas que rompeu com o governador em meio a uma sucessão de rusgas.
A candidatura, entretanto, ainda não é um consenso. O PL é cortejado para uma composição com Catarina Guerra (União Brasil), candidata apoiada pelo governador, mas que não conseguiu pacificar seu próprio partido.
Em Porto Velho, o deputado Coronel Chrisóstomo (PL) se lançou para a disputa representando o bolsonarismo raiz, mas sua candidatura enfrenta divergências internas. Caciques do partido defendem uma aliança com Mariana Carvalho (União Brasil), aliada do governador Marcos Rocha (União Brasil).
Em Goiânia e Fortaleza, Bolsonaro referendou as respectivas candidaturas dos deputados federais Gustavo Gayer (PL-GO) e André Fernandes (PL-CE). Mas o partido tem sido cortejado para possíveis alianças.
Gayer é um dos nomes do bolsonarismo mais populares nas redes sociais. Mas sua candidatura padece de um isolamento no campo da direita.
O governador Ronaldo Caiado (União Brasil), que se apresenta como potencial candidato à Presidência em 2026 e tem feito acenos a Bolsonaro, aposta suas fichas no empresário Sandro Mabel (União Brasil) e articula uma megacoligação que deve chegar a 14 partidos.
Aliados de Caiado tentam atrair o PL para a chapa, mas o movimento é rechaçado pelos bolsonaristas.
"Gustavo está muito determinado em ser candidato e não vai ceder para ninguém. Estamos abertos a alianças, mas não para ser vice", afirma Major Vitor Hugo, vice-presidente estadual do PL e pré-candidato a vereador em Goiânia.
A aliança também esbarra nos planos do partido para 2026: senador Wilder Morais (PL), que quer concorrer ao governo do estado e deve enfrentar o atual vice-governador Daniel Vilela (MDB).
Em Fortaleza, André Fernandes reafirma sua candidatura, mas mantém diálogo com Capitão Wagner (União Brasil), segundo colocado nas eleições de 2016 e 2020, para uma possível união do campo da direita.
O PL ainda referendou candidaturas próprias em Belo Horizonte, Vitória, Recife, João Pessoa, Aracaju, Cuiabá, Manaus e Palmas. Também vai disputar a reeleição em Maceió com João Henrique Caldas, o JHC, e Rio Branco com Tião Bocalom.
Em capitais como Teresina, Macapá e São Luís, o PL deve apoiar candidatos de outros partidos. Na capital do Piauí, a legenda se divide entre as candidaturas do prefeito Dr. Pessoa (PRD) e do ex-prefeito Silvio Mendes (União Brasil), que tenta se desvincular do bolsonarismo.
O partido também está dividido em Macapá (AP): a tendência é de aliança com o prefeito Antônio Furlan (MDB), mas parte da legenda ligada a Davi Alcolumbre deve caminhar informalmente com Josiel Alcolumbre (União Brasil) irmão do senador.
Em São Luís, há uma negociação para apoio ao deputado Duarte Nogueira (PSB), que tem o apoio do PT e ingressou na política pelas mãos do então governador Flávio Dino, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
Apoio a aliados
Em seis capitais, o PL definiu o apoio a aliados, endossando nomes de outros partidos em São Paulo, Salvador, Porto Alegre, Natal, Florianópolis e Curitiba.
O movimento mais recente foi na capital paranaense, onde o PL selou o apoio ao vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD), em uma articulação com o governador Ratinho Jr. (PSD).
O nome do ex-deputado Paulo Eduardo Martins chegou a ser cogitado, mas ele declinou da disputa. Ainda não há definição quanto ao candidato a vice-prefeito da chapa, que deve ser indicado pelo PL.
PL nas capitais
Candidato próprio:
Aracaju (SE) Emília Corrêa (PL)
Belém (PA) Eder Mauro / Capitão Nassar (PL)
Belo Horizonte (MG) Bruno Engler (PL)
Boa Vista (RR) Frutuoso Lins (PL)
Campo Grande (MS) Tenente Portela (PL)
Cuiabá (MT) Abílio Brunini (PL)
Fortaleza (CE) André Fernandes (PL)
Goiânia (GO) Gustavo Gayer (PL)
João Pessoa (PB) Marcelo Queiroga (PL)
Maceió (AL) JHC (PL)
Manaus (AM) Capitão Alberto Neto (PL)
Palmas (TO) Janad Vacari (PL)
Porto Velho (RO) Coronel Chrisóstomo (PL)
Recife (PE) Gilson Machado (PL)
Rio Branco (AC) Tião Bocalom (PL)
Rio de Janeiro (RJ) Alexandre Ramagem (PL)
Vitória (ES) Capitão Assunção (PL)
Apoio a outros partidos:
São Paulo (SP) Ricardo Nunes (MDB)
Porto Alegre (RS) Sebastião Melo (MDB)
Salvador (BA) Bruno Reis (União Brasil)
Natal (RN) Paulinho Freire (União Brasil)
Florianópolis (SC) Topazio Neto (PSD)
Curitiba (PR) Eduardo Pimentel (PSD)
Teresina (PI) Indefinido
São Luís (MA) Indefinido
Macapá (AP) Indefinido