A brincadeira foi descrita por Seif para aliados como um

A brincadeira foi descrita por Seif para aliados como um "beijo hétero"

crédito: Waldemir Barreto/Agência Senado

FOLHAPRESS - O senador Jorge Seif (PL-SC) viveu um momento inusitado com o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso. O episódio ocorreu antes do desfecho do julgamento que pode cassar o mandato do parlamentar no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

 

 

Em um restaurante em Brasília, o senador, que já pediu o impeachment do ministro, o cumprimentou com um beijo na bochecha. Ambos foram a um jantar, na semana retrasada, em homenagem à advogada de Seif, a ex-ministra do TSE Maria Cláudia Buchianeri.

 

 

 

 

Quando Barroso chegou ao restaurante e era cumprimentado com beijos e abraços pelos presentes, Seif pediu, em tom de brincadeira, que todos se afastassem, abraçou o ministro e lhe deu um beijo no rosto.

 

 

Os participantes riram. Foi um momento divertido reunindo uma autoridade do Judiciário e um aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Legislativo, segundo um advogado presente.

 

 

 

 

A brincadeira foi descrita por Seif para aliados como um "beijo hétero". Foi esse mesmo termo que ele usou quando também beijou Bolsonaro na bochecha, durante uma live semanal em 2020. O episódio conferiu notoriedade ao então discreto secretário nacional da Pesca.

 

 

O senador, de família árabe, tem o costume de beijar e abraçar as pessoas de quem gosta. Também cita sempre uma passagem do Novo Testamento em que o apóstolo Paulo diz: "Saudai-vos uns aos outros com ósculo [beijo] santo".

 

 

 

 

O gesto ilustra uma inflexão na relação do senador com membros do Judiciário, agora de maior cordialidade e proximidade - algo que outros parlamentares bolsonaristas também têm defendido.

 

 

Antes crítico ferrenho de alguns ministros, Seif já conversou com magistrados, em busca de uma salvação no TSE.

 

 

 

 

O senador enfrenta uma ação por abuso de poder econômico na campanha de 2022. Segundo a acusação, o empresário Luciano Hang cedeu de forma irregular um helicóptero para deslocar o então candidato.

 

 

Além disso, a estrutura física e pessoal da empresa de Hang também teria sido usada na campanha e no financiamento de propaganda eleitoral por entidade sindical.

 

 

 

 

O julgamento começou, mas foi interrompido em abril a pedido do relator por novas provas. Moraes queria decidir o caso ainda sob sua gestão, encerrada no último mês.

 

 

Questões técnicas, porém, impediram que isso ocorresse. O relator Floriano de Azevedo Marques indicou a pessoas próximas que deve liberar a ação para ser julgada até agosto.

 

 

 

 

Em conversas com aliados, o senador tem dito que Barroso é uma das maiores surpresas positivas em Brasília.

 

 

Em julho do ano passado, Seif pediu, com outros senadores, o impeachment de Barroso após o magistrado falar, em evento da UNE (União Nacional dos Estudantes): "Nós derrotamos o bolsonarismo". A iniciativa não prosperou.

 

 

 


Agora, o senador diz a uma pessoa próxima que a presidência de Barroso do STF ajudou a distensionar e pacificar as instituições. Ele elogia o fato de o ministro ter tirado de pauta o julgamento da descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação.

 

 

Ele também cita o fato de o Supremo ter derrubado, em fevereiro, a regra das chamadas sobras eleitorais, afastando a possibilidade de mudanças na composição atual da Câmara dos Deputados. Nesse caso, Barroso deu voto crucial para definir o julgamento.

 

 

 

 

Desde que seu caso chegou ao TSE, Seif pediu encontros com todos os ministros que compõem a corte.

 

 

Foi recebido por pelo menos 4 dos 7 que formam o tribunal. Apenas os ministros do Supremo que atuam no TSE não o encontraram: Kassio Nunes Marques, Cármen Lúcia e Alexandre de Moraes.

 

 

 

 

Essa mudança no comportamento ocorre num momento de expectativa positiva para o senador sobre seu julgamento. Atores da política e do Judiciário entraram em campo para preservar o mandato do parlamentar.

 

 

O principal deles, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), conversou com Moraes mais de uma vez em nome de Seif e também do senador Sergio Moro (União Brasil-PR), ex-juiz da Lava Jato.

 

 

 

 

Pacheco argumentou que seria um ato traumático cassar um senador eleito por voto majoritário. Disse ainda que se o TSE o condenasse, isso poderia piorar a relação do Judiciário com o Parlamento.

 

 

Além dele, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), também entrou em campo. Aliados de Seif dizem que até o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), se mexeu para preservar o mandato do colega no Congresso.

 

 

 

 

Moro foi absolvido pelo TSE em maio em ação que pedia a cassação do seu mandato por unanimidade. A expectativa entre senadores é que o julgamento de Seif tenha o mesmo desfecho.