BRASÍLIA, DF - O novo ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), Laércio Portela, teve uma atuação discreta em seu primeiro mês no cargo e dá sequência às orientações na pasta que foram traçadas por Paulo Pimenta (PT).
O antecessor busca manter a influência para retornar ao posto após o período no Rio Grande do Sul. Pimenta mantém o seu gabinete intocado, no segundo andar do Palácio do Planalto, de onde trabalha quando está em Brasília.
Seus principais assessores seguem em posições chave na Secom, despachando diariamente com o ministro interino.
Laércio foi nomeado ministro da Secom em 15 de maio. Ele substitui interinamente Pimenta, que assumiu o cargo de ministro da Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul.
Ao jornal "Folha de S.Paulo" Pimenta disse que as diretrizes da Secom não são suas, mas do governo Lula (PT), e elogiou o trabalho de Laércio.
"Eu procuro prestigiar e apoiar o Laércio na condução do dia a dia da Secom. É um profissional muito qualificado, agregador, que conduz o trabalho seguindo as diretrizes que não são da Secom, mas do governo", afirmou.
As primeiras semanas de Laércio revelam que, mesmo distante, Pimenta segue mantendo forte influência sobre a Secom.
A equipe permanece praticamente a mesma. Pimenta apenas levou consigo um secretário e, para ser seu secretário-executivo na nova pasta, o ex-secretário de Comunicação Institucional da Secom, Emanuel Hassen de Jesus, conhecido como Maneco.
Laércio deve nomear em breve duas ou três pessoas de sua confiança, mas a princípio não seriam para substituir nenhum indicado de seu antecessor.
Interlocutores no Palácio do Planalto afirmam que o novo ministro tem uma atuação forte internamente e toma todas as principais decisões da pasta. Eles atribuem a discrição de Laércio ao fato de ele ter acabado de chegar à pasta e ainda estar se ambientando.
Esses mesmos interlocutores afirmam que as diretrizes políticas da pasta seguem sendo as estabelecidas pelo ex-ministro, mesmo que ele não participe de reuniões internas. Nas palavras de um integrante da pasta, não haverá "cavalo de pau".
Há a previsão do "relançamento", por exemplo, da campanha Fé no Brasil que havia sido capitaneada por Pimenta, em um esforço para reforçar a imagem do governo em momento de queda na aprovação.
Embora oficialmente todos ressaltem o laicismo da iniciativa, nos bastidores há o reconhecimento que é uma forma de se aproximar com o público evangélico.
Laércio também ocupou o espaço de Pimenta nas reuniões matinais, quase diárias, com o presidente Lula para estabelecer os principais pontos da comunicação do Planalto. O presidente, citam aliados, tem "grande carinho" pelo novo ministro.
Por outro lado, ele atua sem falas públicas. Todos os eventos públicos de sua agenda foram acompanhando Lula. Internamente, manteve reuniões de alinhamento com a sua equipe e com outros ministros e integrantes de pastas da Esplanada.
A expectativa é que Pimenta volte a ser ainda mais presente na Secom nos próximos meses.
Ele tem dito a interlocutores que, neste momento, ainda está permanecendo praticamente a semana inteira no Rio Grande do Sul por causa do grande volume de questões a serem resolvidas.
No entanto, pretende em alguns meses passar a despachar um ou dois dias em Brasília. O argumento é que terá início uma nova fase da reconstrução, com a necessidade de reuniões com ministros de Estado, que não estarão mais se deslocando ao Rio Grande do Sul com tanta frequência.
Integrantes do Palácio do Planalto chegaram a comentar que as mudanças acabam por resolver problemas em diversas frentes.
Numa delas, o governo federal passa a marcar presença em território gaúcho, com um personagem forte para coordenar as ações federais e controlar a narrativa da reconstrução do Rio Grande do Sul. Também poderia ser uma forma de catapultar Pimenta, potencial pré-candidato ao Palácio Piratini em 2026, ou de minimizar resistências ao governo no estado, ajudando na recuperação.
Por outro lado, Lula teria conseguido resolver o problema da comunicação, um setor que vem sendo alvo de críticas, com a mudança. Nesse cenário, Pimenta voltaria remanejado para outra pasta.
A previsão é que Pimenta retorne a Brasília entre quatro e seis meses, segundo ele próprio tem afirmado. Na Secom, aliados dizem que até o Natal ele estará de volta.
Há uma preocupação entre auxiliares palacianos em deixar a Secom com um interino por tanto tempo. A comunicação do governo vem sendo alvo de críticas na Esplanada dos Ministérios, incluindo do próprio Lula, em um momento de queda na aprovação do governo federal.
Pesquisa Datafolha divulgada no fim de março mostrou que a reprovação da gestão Lula se igualou à aprovação pela primeira vez desde o início do atual mandato. Integrantes do governo afirmam que levantamentos internos apontam melhora na situação nas últimas semanas.
O momento de dificuldades coincidiu com o surgimento de rumores de que Lula pretendia promover mudanças na comunicação do governo.
O atual prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), era um dos cotados, após as eleições municipais, para a Secom, enquanto Pimenta poderia ir para a Secretaria-Geral - onde Márcio Macêdo vem desagradando o mandatário.
Lula, no entanto, tem dito a aliados que espera que Edinho Silva a presidência do PT na próxima gestão, para ter um homem forte e de sua confiança em 2026, ano em que o partido vai buscar se manter no poder.