Rafael Freire desiste de disputar a reeleição -  (crédito: Redes Sociais/Reprodução)

Rafael Freire desiste de disputar a reeleição

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"Este é um problema crônico no Brasil. Nosso país precisa de uma postura séria. Não dá mais para varrer a homofobia para debaixo do tapete", afirmou Rafael Freire (PSB), prefeito de Alpinópolis, ao Estado de Minas, ao descrever os últimos quatro anos à frente do município no Sul de Minas Gerais. Desde que assumiu o cargo, Rafael tem sido alvo de ataques relacionados à sua sexualidade. A homofobia, denunciada inúmeras vezes, o fez desistir da reeleição, apesar de ser o favorito no pleito.

 

A decisão foi tomada nessa segunda-feira (18/6) e anunciada nas redes sociais. Agora, manifestantes e prefeitos de cidades vizinhas prometem lotar a rua da prefeitura para protestar contra as ações que levaram à desistência do prefeito nas eleições municipais. O ato acontecerá nesta terça (18/6), às 14h.

 

Os prefeitos de Passos, Diogo Oliveira (PSD), e São Sebastião do Paraíso, Marcelo Moraes (PSD), estarão presentes. Quem também prestou solidariedade foi a deputada estadual Lohanna (PV-MG). Nas redes, a parlamentar disse: “Estamos em um país em que pouquíssimos políticos são assumidamente LGBTQIA+. Ter um representante como esse desistindo da reeleição por ataques homofóbicos é uma vergonha para Minas e o Brasil”.

 

Ao EM, Rafael falou sobre os ataques. Além de ameaças sofridas diariamente, um indivíduo chegou a ir à casa dos pais do prefeito. Com palavras de baixo calão e declarando homofobia, invadiu o local e foi preso pela polícia. Além disso, um grupo ligado à gestão anterior à de Rafael, liderada por seu rival político Zé da Loja (PSD), foi responsável por uma música que circula nos grupos de WhatsApp.

 

Na canção, falas homofóbicas são entoadas por Inteligência Artificial (IA), fazendo referências ao jeito afeminado e a um suposto romance ligado ao prefeito. “Amor à meia-noite na roça ele revolucionou. O coração do agroboy, o prefeito conquistou”, diz a balada.

 

De acordo com Rafael, inúmeras denúncias foram feitas à Polícia Militar (PM) e ao Ministério Público. “Essa é uma situação que venho sofrendo há quatro anos. Já venho denunciando às autoridades, mas nada foi feito. Sempre me falam: ‘Isso é bobagem, passa por cima’”, continuou.

 

“Nos grupos de WhatsApp, há uma quadrilha que passa o dia todo fazendo piadinhas. E, nesse fim final de semana, fizeram uma música com conteúdo atacando minha sexualidade, dizendo que eu estava tendo um caso amoroso com uma pessoa. Paralelo a isso, colocaram uma foto de um rapaz casado. E olha o prejuízo que a gente tem: uma pré-candidatura com 60% de aprovação”, prosseguiu o prefeito.

 

Segundo a F5 Atualiza Dados e Pesquisas, Rafael lidera a intenção de voto com 41,35%; seguido pelos indecisos com 39,52%; Júlio Batatinha, com 8,73%; e brancos/nulos, com 6,70%. Sobre a gestão de Rafael Freire, 61,90% dos entrevistados a qualificam como boa; 19,31% como regular; e 11,11% como ótima. Apenas 6,35% consideram ruim; e 1,33%, péssima.

 

Homofobia na política

No mês do orgulho, Rafael relembra que situações como a dele acontecem em todo meio político. Assim foi com Jean Wyllys (sem partido), que precisou deixar o Brasil após ataques homofóbicos.

 

“Eu vejo isso como um problema crônico no país. O Brasil precisa tomar uma postura. Não dá mais para empurrar essa realidade para debaixo do tapete. Espero que os agentes políticos e nossos representantes enfrentem essa situação. Temos movimentos isolados nas redes sociais, mas precisamos transformar isso em prática. Precisamos de uma lei que criminalize as fake news e a violência política. Sei que minha força é pequena. Mas farei dessa a minha pauta, onde quer que eu esteja. Agora, essa é minha luta”

Rafael Freire, prefeito de Alpinópolis

 

Parada LGBTIA+

Parada LGBTIA+

AFP/REPRODUÇÃO

 

O percentual de brasileiros adultos que se declaram assexuais, lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros é de 12%, ou 19 milhões de pessoas, levando-se em conta os dados populacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o que mostra um levantamento inédito conduzido por pesquisadores da Unesp e da USP e publicado na revista científica Nature Scientific Reports. Mesmo assim, a falta de representatividade ainda é fato escancarado no país.

 

O Brasil conta com dois governadores LGBTQIA+: Eduardo Leite (PSB), do Rio Grande do Sul, e Fátima Bezerra (PT), do Rio Grande do Norte.

 

Já no Senado, apenas um parlamentar é assumidamente gay, Fabiano Contrato (PT). Na Câmara, Clodoaldo Magalhães (PV-PE), Daiana Santos (PcdoB-RS), Dandara (PT-MG), Duda Salabert (PDT-MG) e Erika Hilton (PSOL-SP) assumem o local de representatividade LGBTQIA+.