Presidente Lula em visita a Cruzeiro do Sul, devastado pela cheia do Rio Taquari: ações do governo no desastre do Rio Grande do Sul são bem avaliadas pelo eleitor, segundo pesquisas -  (crédito: Ricardo Stuckert / PR)

Presidente Lula em visita a Cruzeiro do Sul, devastado pela cheia do Rio Taquari: ações do governo no desastre do Rio Grande do Sul são bem avaliadas pelo eleitor, segundo pesquisas

crédito: Ricardo Stuckert / PR

Pesquisa Datafolha divulgada na última semana trouxe um alívio — pequeno — para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi o primeiro levantamento que interrompeu a tendência de queda em sua popularidade, que vem sendo registrada desde dezembro do ano passado. Os índices apresentaram leve melhora na comparação com o levantamento anterior, divulgado em maio, mas dentro da margem de erro.

 

Influenciaram o resultado uma série de notícias positivas na economia e uma mudança na estratégia de comunicação do Planalto e do próprio presidente. O governo também trabalhou para fazer anúncios envolvendo alguns dos temas que deixaram a população insatisfeita, como preço da energia e dos alimentos.

 

 

No estudo do Instituto Datafolha, o índice de pessoas que avaliam o governo como bom ou ótimo subiu de 35%, em maio, para 36%. Já os que veem a atual gestão como ruim ou péssima caíram de 33% para 31%. A avaliação regular foi de 30% para 31%. Todas as variações se deram dentro da margem de erro, de dois pontos percentuais. Os questionários foram aplicados para 2.008 eleitores, em 113 cidades, entre 4 e 13 de junho.

 

Os resultados da área econômica também ficaram estáveis: 40% acreditam que o cenário vai melhorar, 28% que vai piorar, e 27% que vai ficar da mesma forma. O professor de ciência política da UDF André Rosa e o professor de MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV) Sérgio Praça avaliam que a pesquisa não pode ser tomada como prova de uma melhora na popularidade de Lula, mas indica que o governo colhe o resultado de algumas mudanças estratégicas. É preciso aguardar outros levantamentos nacionais, como os que devem ser publicados em julho pelos institutos Quaest e Ipec.

Peso no bolso

 

Sobre o preço dos alimentos, um dos fatores que mais afetam o bolso da população, Lula convocou reuniões com seus ministros, em março, e cobrou medidas. Ouviu de seus auxiliares — especialmente do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro — que a carestia era sazonal, influenciada pelos eventos extremos no Sul do Brasil, e que cairia em breve.

 

De fato, houve um alívio na maior parte dos itens consumidos pela população, desde então. Segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio, divulgado no início deste mês, apesar de um aumento de 0,62% no preço geral dos alimentos e bebidas, houve uma desaceleração dos itens consumidos em domicílio, de 0,81% em abril para 0,66% em maio.

 

Lula também agiu para reduzir o preço da energia elétrica. Em abril, no Planalto, o presidente assinou uma medida provisória (MP) que pode baixar a conta de luz em até 4,5% neste ano. Sobre os preços dos combustíveis, porém, não houve uma movimentação significativa do governo. A turbulência na Petrobras, que culminou com a recente troca no comando da estatal, pode ter influenciado a inação. Embora os índices de preços desses três itens estratégicos não tenham apresentado queda, o esforço feito para "mostrar serviço" contribuiu para estabilizar a avaliação.

 

 

Comunicação

 

Na comunicação do governo, Lula cobrou de seus ministros que divulgassem melhor os projetos e entregas das pastas. A chefe da Saúde, Nísia Trindade, acatou os conselhos durante a epidemia de dengue e passou a divulgar atualizações periódicas sobre a situação da doença para os veículos de comunicação. O Planalto também foi palco de uma série de entrevistas coletivas temáticas, nas quais o presidente prestigiou apresentações feitas por ministros sobre as ações do governo, mas evitou dar declarações para não ofuscar seus auxiliares.

 

Os discursos do presidente também sofreram ajustes. Ele foi orientado a não mencionar nominalmente o ex-presidente Jair Bolsonaro, e moderou as críticas em relação à campanha militar de Israel na Faixa de Gaza. Fala em que comparou a atuação isralense com o Holocausto foi mal recebida por parte do eleitorado e abriu uma crise diplomática com o governo israelense.

 

O presidente passou a tocar com menos frequência no assunto, e tenta deixar claro que suas críticas são endereçadas ao primeiro ministro Benjamin Netanyahu, e não ao Estado de Israel. Também adotou uma postura mais discreta sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia, apesar de não deixar de defender uma solução negociada para a paz no Leste Europeu.

 

"Quando o Lula fala de temas como Israel e a guerra na Ucrânia, ele pode ser visto como um briguento, como alguém que está opinando sobre coisas que não deveria", disse o professor Praça.

 

"Ficou claro que ele adotou uma estratégia mais neutra em relação às questões diplomáticas. Um movimento de se esquivar dos conflitos bilaterais e multilaterais. Isso tem dado uma certa tranquilidade. Moderou um pouco o discurso, que está muito mais ao centro em relação a janeiro", corroborou André Rosa.

 

Com o lançamento da campanha Fé no Brasil, em maio, o presidente também se mobilizou para tentar melhorar sua aprovação entre os evangélicos, um dos grupos mais avessos ao petista. Segundo o Datafolha, ele é rejeitado por 44% dos protestantes. Lula também aumentou o número de citações bíblicas ou de caráter religioso em seus discursos, falando com mais frequência sobre Deus, fé e milagres.

 

Sérgio Praça disse ver uma comunicação mais organizada por parte do governo. "O que pode ser ruim é uma divisão de responsabilidade, parte com a (primeira-dama) Janja e com o (Ricardo) Stuckert (fotógrafo oficial da Presidência), e com a Secretaria de Comunicação Social. Mas, me parece, isso está mais bem resolvido dentro do PT e do governo", pontuou.

 

O analista, porém, faz críticas a algumas das estratégias de comunicação adotadas nas redes, como ataques e disseminação de notícias falsas, citando como exemplo o deputado federal André Janones (Avante-MG). "O método bolsonarista foi amplamente adotado pelo PT nas redes. Infelizmente, esse método veio para ficar, não vejo nenhuma maneira de mudar isso", lamentou.