A polarização nacional entre direita e esquerda já respinga na pré-campanha eleitoral em Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas Gerais. A cidade, com 171 mil eleitores, caminha para confirmar dois nomes na disputa à prefeitura: o do atual prefeito Gleidson Azevedo (Novo) – irmão do senador Cleitinho Azevedo (Republicanos) e ligado ao bolsonarismo – e o de Laiz Soares (PSD), que tenta desassociar a imagem do grupo de esquerda que a apoia.
Com apoio da Federação Brasil da Esperança, formada pelo PT, PV e PCdoB, Laiz tem apostado em um discurso de "centro" tanto para se aproximar de empresários como para alcançar parte dos eleitores de direita. Além de ter o grupo como principais apoiadores, ela tem como "madrinha política" a deputada estadual Lohanna França (PV).
O desafio da oposição ao atual governo municipal será buscar na "direita" ou, até mesmo, no "centro" parte dos votos para tentar vencer as eleições no maior reduto do Centro-Oeste governado por um prefeito ligado à extrema-direita. Em 2020, Gleidson Azevedo teve 34,20% dos votos. Na época, ele teve oito adversários, dentre eles Laiz Soares, que terminou o pleito em terceira posição com 19,14%.
Agora, ambos devem brigar pelos mais de 50 mil votos que não foram nem para um nem para o outro. Contudo, a polarização das eleições de 2022 e o reflexo nas deste ano podem dificultar. Conduzir o debate eleitoral para além das questões ideológicas é visto por especialistas como um caminho.
No pleito anterior, Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, venceu no município com 55,64% dos votos válidos no segundo turno contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Deslocamento
Para o doutor em Ciência Política e professor da PUC Minas, Malco Camargos, é natural esse deslocamento em busca dos votos do centro. "A polarização faz com que candidatos de esquerda e direita conversem com seus nichos e, com isso, ganhem seguidores e, por consequência, votos. O que está acontecendo em Divinópolis hoje é um debate de esquerda e direita, mas os dois lados sabem que não ganham sem conquistar o centro, por isso, então, o movimento de candidatos de esquerda em buscar um pouco mais os eleitores de centro", explica.
Embora seja mais nítida a movimentação de pré-candidatos em oposição ao governo, para Camargos também será necessário que a direita faça esse deslocamento. "Se ambos os candidatos ficarem nos extremos, fica mais difícil conquistar esses eleitores, por isso o deslocamento. Se uma candidata faz isso agora, certamente, no futuro próximo, o outro candidato também o fará", analisa.
Debate ideológico
Para navegar entre os dois extremos, é necessário conhecimento profundo do eleitorado por meio de uma "velha ferramenta": pesquisas qualitativas e quantitativas. "Possibilitando a identificação de questões que podem ser exploradas para ampliar apoio e adesão política, reduzindo a interferência da questão ideológica", sugere o cientista político e sociólogo, Antonio Faraco Jr.
A partir delas, segundo Faraco, é possível identificar as forças e fraquezas dos candidatos, bem como quais segmentos do eleitorado, lideranças e regiões podem ser mais bem trabalhados e possuem maior potencial de conversão de voto. "Isto parece uma obviedade, mas é amplamente desconsiderado: informação de qualidade sobre o cenário político é fundamental para o planejamento de uma campanha exitosa", afirma.
Além da informação de qualidade, é necessário saber utilizá-la de forma a convertê-la em voto. "Neste sentido, é importante ter boa articulação política e boa comunicação com o eleitorado, e isso passa pela construção de um bom conteúdo que deve ser apresentado na forma de soluções práticas e viáveis", recomenda.
Para além de uma boa equipe de mídias sociais, conforme o cientista político, cabe um bom planejamento de agenda, aproximando-se de lideranças e eleitores para "pautar a campanha de forma a reduzir a relevância de questões ideológicas e ampliar o foco nos problemas do município."
*Amanda Quintiliano especial para o EM