Após sofrer ataques homofóbicos e anunciar que desistiu da reeleição, o prefeito Rafael Freire (PSB) de Alpinópolis, no Sul de Minas Gerais, voltou atrás e decidiu se candidatar novamente nas eleições municipais deste ano. A decisão foi influenciada pelo apoio de parte da população, que se manifestou contra as ameaças sofridas pelo chefe do Executivo da cidade mineira.
O prefeito contou ao Estado de Minas que a retomada da pré-campanha aconteceu após o avanço das investigações da Polícia Civil (PCMG), liderada pelo delegado Dr. Luan Maturano Dutra, que chegou até os suspeitos acusados de ataques homofóbicos.
“Sinto-me no dever de não me acovardar, levantar a cabeça e voltar a participar do processo eleitoral. Aproveito, para pedir paz e que, após a conclusão dos trabalhos pela Polícia Civil de Minas Gerais, tenhamos respeito aos envolvidos, pois não quero uma espetacularização do caso. A eles, que seja assegurado o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa”, afirmou o prefeito.
Desde o início do seu mandato, Rafael tem sido alvo de ataques relacionados à sua sexualidade. A homofobia, denunciada inúmeras vezes, o fez desistir da reeleição, apesar de ser o favorito no pleito. A decisão foi tomada na semana passada e anunciada nas redes sociais.
Na terça-feira (18/6), manifestantes e prefeitos de cidades vizinhas lotaram a rua da prefeitura para protestar contra as ações que levaram à desistência do prefeito nas eleições municipais. Os prefeitos de Passos, Diogo Oliveira (PSD), e São Sebastião do Paraíso, Marcelo Moraes (PSD), estavam presentes. Quem também prestou solidariedade foi a deputada estadual Lohanna (PV-MG). Nas redes, a parlamentar disse: “Estamos em um país em que pouquíssimos políticos são assumidamente LGBTQIA+. Ter um representante como esse desistindo da reeleição por ataques homofóbicos é uma vergonha para Minas e o Brasil”.
Ao EM, Rafael falou sobre os ataques. Além de ameaças sofridas diariamente, um indivíduo chegou a ir à casa dos pais do prefeito. Com palavras de baixo calão e declarando homofobia, invadiu o local e foi preso pela polícia. Além disso, um grupo ligado à gestão anterior à de Rafael, liderada por seu rival político Zé da Loja (PSD), foi responsável por uma música que circulava nos grupos de WhatsApp.
“Para Alpinópolis, eu desejo que façamos um debate maduro no campo das ideias, e que a disputa eleitoral se dê dentro da normalidade e dos limites da democracia. Aos meus adversários, quero dizer que vocês tem o meu respeito. Como disse, sei que ainda temos bons adversários. Tenham de mim o amor, não o ódio. Que briguem às ideias, não as pessoas”, seguiu Rafael em seu discurso sobre o mantimento da pré-candidatura.
Relato
Na semana passada, Rafael tinha alertado sobre os ataques. De acordo com o prefeito, inúmeras denúncias foram feitas à Polícia Militar (PM) e ao Ministério Público (MPMG). “Essa é uma situação que venho sofrendo há quatro anos. Já venho denunciando às autoridades, mas nada foi feito. Sempre me falam: ‘Isso é bobagem, passa por cima’”, continuou.
“Nos grupos de WhatsApp, há uma quadrilha que passa o dia todo fazendo piadinhas. E, nesse fim final de semana, fizeram uma música com conteúdo atacando minha sexualidade, dizendo que eu estava tendo um caso amoroso com uma pessoa. Paralelo a isso, colocaram uma foto de um rapaz casado. E olha o prejuízo que a gente tem: uma pré-candidatura com 60% de aprovação”, prosseguiu o prefeito.
Segundo a "F5 Atualiza Dados e Pesquisas", Rafael lidera a intenção de voto com 41,35%; seguido pelos indecisos com 39,52%; Júlio Batatinha, com 8,73%; e brancos/nulos, com 6,70%. Sobre a gestão de Rafael Freire, 61,90% dos entrevistados a qualificam como boa; 19,31% como regular; e 11,11% como ótima. Apenas 6,35% consideram ruim; e 1,33%, péssima.
Homofobia na política
No mês do orgulho, Rafael relembra que situações como a dele acontecem em todo meio político. Assim foi com Jean Wyllys (sem partido), que precisou deixar o Brasil após ataques homofóbicos.
O percentual de brasileiros adultos que se declaram assexuais, lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros é de 12%, ou 19 milhões de pessoas, levando-se em conta os dados populacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
É o que mostra um levantamento inédito conduzido por pesquisadores da Unesp e da USP e publicado na revista científica Nature Scientific Reports. Mesmo assim, a falta de representatividade ainda é fato escancarado no país.
O Brasil conta com dois governadores LGBTQIA+: Eduardo Leite (PSB), do Rio Grande do Sul, e Fátima Bezerra (PT), do Rio Grande do Norte. Já no Senado, apenas um parlamentar é assumidamente gay, Fabiano Contrato (PT). Na Câmara, Clodoaldo Magalhães (PV-PE), Daiana Santos (PcdoB-RS), Dandara (PT-MG), Duda Salabert (PDT-MG) e Erika Hilton (PSOL-SP) assumem o local de representatividade LGBTQIA+.