As primeiras projeções do resultado do primeiro turno das eleições legislativas da França, às 20h de Paris (15h de Brasília) deste domingo (30/6), indicam a ultradireita como maior força do Parlamento, pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial. O segundo turno será no próximo domingo.

 

O Reunião Nacional (RN), maior partido da ultradireita, obteve 34% dos votos, segundo a boca de urna, contra 28,1% da Nova Frente Popular (NFP), de esquerda; e 20,3% do Ensemble! (Juntos), coalizão do presidente Emmanuel Macron, grande derrotado das eleições.

 



 

Isso representaria 230 a 280 deputados para o RN, a depender do jogo de alianças entre o primeiro turno e o segundo. A esquerda ficaria com 125 a 165 deputados e a ex-maioria governamental com 70 a 100 deputados. Esses números ainda devem sofrer alterações ao longo das próximas horas, com a apuração.

 

"Nada está ganho. Precisamos de uma maioria absoluta para que Jordan Bardella seja nomeado primeiro-ministro", disse Marine Le Pen, 55, principal figura do RN e eleita deputada já no primeiro turno, referindo-se a seu pupilo e presidente do RN, de apenas 28 anos.

 

 

Foi a eleição com a menor abstenção dos últimos 40 anos. 67,5% dos eleitores compareceram às urnas, contra 47,5% na eleição legislativa anterior, em 2022. A última vez que a participação foi tão alta (67,9%) remonta a 1997. Esse índice é uma demonstração do enorme interesse despertado pelo pleito entre os 49 milhões de eleitores franceses.

 

Bardella afirmou, durante a campanha, que só aceitará o cargo se seu partido tiver a maioria absoluta das 577 cadeiras da Assembleia. Ele poderia, porém, atingir essa maioria por meio de alianças com outros partidos de ultradireita, de direita e até do centro.

 

Bardella votou às 10h em Garches, subúrbio rico da periferia oeste de Paris. Saiu sem dar declarações, porque, por lei, no dia da votação os políticos não podem se pronunciar antes do fechamento das urnas.

 

 

O presidente Macron, 46, votou às 12h45 no balneário de Le Touquet, no norte da França, onde ele e a mulher, Brigitte, 71, têm uma residência de veraneio, herança do pai da primeira-dama. Depois de votar, Macron passou mais de meia hora conversando e tirando selfies com eleitores e crianças.

 

Jean-Luc Mélenchon, 72, uma das principais lideranças do bloco esquerdista NFP, qualificou o resultado de "pesada derrota" para Macron e vê como certa a saída de Gabriel Attal, 35, do cargo de primeiro-ministro, que assumiu em janeiro passado.

 

Mélenchon anunciou o apoio do NFP aos candidatos de centro nos distritos em que tiverem mais chances de derrotar o Reunião Nacional no próximo domingo. O sistema francês permite mais de dois candidatos no segundo turno, e centenas de distritos terão "triangulares" entre candidatos de ultradireita, de esquerda e de centro.

 

Macron anunciou a dissolução da Assembleia Nacional no dia 9 de junho, assim que saíram os primeiros resultados das eleições para o Parlamento Europeu. Nelas, seu partido, Renascimento, ficou em segundo lugar, com apenas 14,6% dos votos, menos da metade dos 31,4% do RN.

 

 

A decisão de Macron causou perplexidade até mesmo entre seus aliados. As pesquisas apontam o risco de seu grupo político, hoje dono de quase metade dos assentos, tornar-se apenas a terceira força do Parlamento, atrás da extrema-direita e dos partidos de esquerda unidos sob a coalizão batizada de Nova Frente Popular (NFP).

 

Na França, o sistema eleitoral é distrital, majoritário e em dois turnos. O segundo turno está marcado para o próximo domingo, 7 de julho. Mais de dois candidatos podem passar para o segundo turno em cada distrito, desde que seus votos representem pelo menos 12,5% do total de eleitores inscritos.

 

A condição para um candidato vencer no primeiro turno é obter um total de votos superior a 50% dos inscritos naquele distrito. Cinco anos atrás, apenas cinco deputados, menos de 1% do total, se elegeram dessa forma.

 

 

Segundo pesquisa do instituto Ipsos, a inflação é o problema que mais preocupa os franceses atualmente (40%), à frente da criminalidade (31%), da imigração (27%) e da pobreza (25%). Bardella martela em seus discursos que anunciará desde o primeiro dia no governo medidas em favor do poder aquisitivo, a primeira delas a supressão da taxa sobre valor agregado de produtos essenciais.

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