Numa reviravolta típica de início de campanha eleitoral, o senador Carlos Viana (Podemos), até um mês atrás líder das pesquisas a prefeito de BH, avalia desistir da disputa. O assunto circulou desde o início da semana por conta de um trato pactuado, e não cumprido, entre ele e o controlador do partido dele, Marcelo Aro (PP), secretário da Casa Civil de Zema.
Viana havia acertado licenciar-se do cargo de senador para cuidar da campanha a prefeito a quatro meses da votação. Com isso, abriria espaço no Senado para seu suplente, Castelar Guimarães, um dos principais aliados de Aro. Em função de vários fatores, entre eles a queda nas pesquisas, Viana repensou seu futuro e achou melhor não deixar de ser senador para embarcar na aventura de ser candidato a prefeito.
Por lei, ele não precisaria licenciar-se do cargo de senador para a disputa, mas o acordo foi imposto pelo partido. Caso contrário, além da legenda, o Podemos poderia lhe negar o financiamento eleitoral. De imediato, já o retirou do comando municipal da agremiação.
Se a licença subiu no telhado, a futura candidatura vai junto. Viana sopesou o novo quadro eleitoral desde a entrada do deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos), hoje, o líder das pesquisas por causa de sua alta popularidade na TV. Viana e Tramonte disputam a mesma faixa do eleitorado, atraído pela presença de ambos na telinha. Nesse ponto, Tramonte leva vantagem.
Além de estar há 16 anos ancorando programa na TV Record, Viana deixou a emissora desde que virou senador há seis anos. Sem perspectiva eleitoral e sem um projeto definido, o senador não quer ficar refém de Marcelo Aro.
Ainda ontem, o pai de Aro, deputado estadual José Guilherme, espalhou que Viana poderia virar ministro de Lula em adesão do Podemos à base governista. Tudo somado, o senador avalia se vale a pena correr mais riscos que ameacem seu futuro político.
Zema aposta no insucesso
O governador mineiro já provou que um raio pode cair duas vezes no mesmo lugar, quando foi eleito e reeleito pelo partido Novo. As coisas para Zema só dão certo quando tudo dá errado para os outros, especialmente adversários.
Ele passou o primeiro mandato cultivando uma aliança com o então presidente Bolsonaro, mas nunca buscou solução para o principal problema de Minas: a dívida de R$ 160 bilhões. Nem pagou um centavo sequer desse endividamento. É possível que tenha feito no caixa no período. Desde que surgiu, há cinco meses, uma proposta salvadora e dialogada com o governo federal, ele vem fazendo figas.
Agora, à beira da apresentação do projeto, continua dizendo que não vai dar certo. Se tudo der errado, ele estará certo novamente, fazendo o raio cair pela terceira vez no mesmo lugar. A realidade, porém, é outra. Queira ele ou não, o projeto da dívida não é mais para Minas.
O assunto foi nacionalizado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), a partir da Assembleia Legislativa de Minas. Tanto é que, em vez de reclamar, os governadores de Goiás, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul pediram a Pacheco dois dias para avaliar a proposta. A partir daí, a tramitação será relâmpago, passando por cima de raios e de seus aliados.