FOLHAPRESS - A mudança de tom nas declarações do presidente Lula (PT) nesta quarta-feira (3) em relação à economia veio respaldada por avaliações de auxiliares e aliados políticos sobre a necessidade de uma nova postura a partir de agora.
Integrantes do governo e líderes no Congresso têm insistido para que o presidente reduza o embate com o presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, e foque seu discurso na divulgação de realizações da gestão. Há entendimento de que a insistência numa toada agressiva pode ser prejudicial ao governo.
Ao menos dois aliados conversaram com Lula sobre o tema nesta semana e disseram a ele que, em vez de enfraquecer, as críticas beneficiam Campos Neto e lhe dão um palanque. Um dos argumentos é o de que os ataques têm dado musculatura política ao chefe da autoridade monetária a ponto de ele ser citado como ministro da Fazenda de um hipotético governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Entre as ponderações levadas a Lula está também a de que, aos olhos de um eleitor que desconheça a existência de mandatos para o comando do BC, Campos Neto possa parecer poderoso, uma vez que permanece no cargo mesmo sob críticas severas do presidente da República.
Um ministro disse ainda que, para a população mais pobre, distante do debate sobre as oscilações de câmbio, o clima de confronto repercute negativamente. Fica a compreensão de que há ambiente pesado, de confusão.
Aliados têm afirmado que deve ficar com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), a contestação da política praticada pelo BC. Nessa linha de raciocínio, caberia a Lula a defesa de recursos para a implementação de programas sociais, além da recuperação econômica do país.
As críticas de Lula à política de juros do Banco Central não são novidade e encontram eco em ministros e auxiliares do chefe do Executivo. Ele reclama publicamente de Campos Neto ?nomeado pelo antecessor, Jair Bolsonaro (PL)? desde o início do mandato.
Lula e seus aliados ficaram também irritados com a presença do presidente do Banco Central em um jantar oferecido por Tarcísio em junho.
Por isso, um ministro e dois aliados influentes do governo no Congresso creem que era necessário o presidente fazer a denúncia sobre a atuação política do chefe da autoridade monetária e indicar que os juros altos seriam de responsabilidade de uma pessoa próxima ao bolsonarismo.
O problema é que o discurso extrapolou no tom, para esse grupo, e passou a gerar ruídos excessivos com o mercado. Isso ficou claro na medida em que coincidiu com a elevação do dólar, que chegou na terça-feira (2) a R$ 5,65, maior patamar registrado desde janeiro de 2022. A cotação recuou após as falas conciliatórias desta quarta.
Nesta quarta-feira, Lula evitou críticas ao Banco Central e declarações polêmicas sobre ajuste fiscal. No lugar, reafirmou que a responsabilidade fiscal é uma prioridade do seu governo até o fim do mandato.
Haddad, por sua vez, anunciou que o presidente havia autorizado o corte de 25,9 bilhões nas despesas obrigatórias por meio do pente-fino de benefícios e o cumprimento do arcabouço fiscal.
Segundo relatos, o próprio ministro da Fazenda sugeriu que o presidente se manifestasse em favor do arcabouço, que ele mesmo aprovou.
Na conversa, Lula questionou justamente o fato de estar sendo cobrado a declarar apoio a medidas que ele adotou, como a revisão de gastos, e ressaltou ter mostrado responsabilidade fiscal nos governos passados.
Ainda segundo relatos, Haddad argumentou que a estratégia dos opositores é lançar dúvidas sobre o comprometimento de Lula e, por isso, a importância da manifestação pública.
Para além dos conselhos de economistas e do próprio Haddad, Lula ouviu de ao menos dois auxiliares próximos da ala política o diagnóstico de que o embate das últimas semanas é mais prejudicial ao governo. O objetivo, segundo os relatos, é tentar ampliar a popularidade e influenciar as eleições municipais.
Há também uma avaliação geral de que o período de férias de Campos Netos colabora com a calmaria. Ele será substituído interinamente por Gabriel Galípolo, diretor de política monetária do BC, indicado por Lula, até 19 de julho.
A defesa feita ao presidente por aliados é que seria ideal tratar o presidente do BC como "cachorro morto", em fim de mandato que se encerra em dezembro. Três ministros e um auxiliar direto ouvidos pela reportagem compartilham dessa leitura.
Uma outra ala governista, por outro lado, aplaude a conduta adotada até agora pelo presidente, ressaltando a necessidade de se mostrar que a taxa de juros é fruto de uma política monetária implementada por um indicado por Bolsonaro.
Esses aliados do presidente chegam a mencionar a existência de pesquisas em que parte expressiva da população apoiaria a crítica de Lula aos juros praticados no Brasil. Essa linha se contrapõe à avaliação de ministros e congressistas com acesso ao Palácio.