Mauro Lourena Cid era chefe do escritório da Apex em Miami durante o governo Bolsonaro -  (crédito: Roberto Oliveira/Alesp)

Mauro Lourena Cid era chefe do escritório da Apex em Miami durante o governo Bolsonaro

crédito: Roberto Oliveira/Alesp

A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) concluiu que o general da reserva Mauro Lourena Cid utilizou a estrutura do escritório de Miami, nos Estados Unidos, para negociar joias do acervo da Presidência da República. A apuração interna aponta que o pai de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tirou foto de esculturas do acervo da Presidência na sede no exterior. O caso foi divulgado pela CNN.


Lourena Cid era chefe do escritório da Apex em Miami durante o governo Bolsonaro. A Apex afirma que o general da reserva aparece no reflexo de uma escultura de palmeira. O objeto ainda foi fotografado com o celular corporativo.

 

 

De acordo as investigações da PF, o item foi negociado nos Estados Unidos, mas não houve venda, já que a peça não tinha todos os componentes de ouro.

 

“A partir do relatório da Polícia Federal, foi possível concluir que, às 10:39 da manhã de 4 de janeiro de 2023, já demitido mas ainda nas dependências do escritório da Apex, ele usou o celular funcional para compartilhar fotos das joias e objetos de arte do acervo atribuído ao ex-presidente”, diz a Apex.

 

Segundo relatos à comissão da agência, o general resistia em devolver o notebook e o celular corporativo, mesmo após deixar o cargo na Apex.

 

 

“Na devolução do celular, seus dados foram apagados, de forma irregular, por um servidor do EA [Escritório Apex] Miami na presença de outros. (..) Em ambos os casos, foi contrariado o procedimento padrão de devolução e apagamento dos dados de equipamentos da ApexBrasil, que devem ter sua integridade atestada e seus dados apagados por uma empresa prestadora de serviços de tecnologia contratada da Agência. Seu passaporte oficial com visto de trabalho vinculado à ApexBrasil jamais foi devolvido”, diz a apuração interna.

 

A agência também concluiu que a presença de Lourena Cid no escritório, depois da saída dele do cargo, “contou com algum tipo de apoio ou omissão de funcionários”.

 

As presenças do general no escritório com o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, um de seus filhos e da esposa dele, Gabriela Cid, em janeiro de 2023, também foram relatadas à comissão.

 

Em agosto de 2022, o general também recebeu o corretor Cristiano Piquet nas dependências da Apex. Segundo a PF, Piquet foi o responsável por transportar a mala com a escultura de palmeira a pedido do ex-ajudante de ordens Mauro Cid.

 

“Depoimentos revelaram ainda a frequência de pessoas alheias aos negócios da ApexBrasil no gabinete do GM [general manager, cargo de Lourena Cid], sem registro em agenda”.

 

 

 Visita a QG do Exército

 

Ainda segundo o relatório, Lourena Cid, com outros dois funcionários, visitou o QG do Exército, em Brasília, em dezembro de 2022, onde os bolsonaristas manifestavam contra a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após as eleições, com verba da Apex. 

 

A comissão ainda relata que Lourena Cid "manifestava repetidamente aos funcionários sua convicção de que, mesmo depois de eleito, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tomaria posse e de que ele, Cid, continuaria em seu cargo". 

 

 

Desvios de função


Para a Apex, Lourena Cid apresentou “comportamento desviante” nas suas funções, com funcionários realizando serviços pessoais em sua residência. O relatório aponta que a gestão se afastou das atividades de negócios da agência e não captou investimentos para o país.

 

O relatório da Apex será enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), ao Tribunal de Contas da União (TCU) e à Polícia Federal (PF) para a análise de possíveis crimes. Segundo a Apex, “novas providências poderão ser tomadas após a continuidade do processo de apuração e responsabilização, inclusive o desligamento de colaboradores”.