Em 1999, por meio de pesquisa histórica, a Academia Mineira de Medicina, à época presidida por Fernando Araújo, apontou os 20 maiores vultos da categoria no século 20. Para tanto, bastava ter nascido em Minas ou por aqui ter exercido a medicina clínica, acadêmica ou científica. Todos os médicos radicados em Minas Gerais foram convocados ao escrutínio por entidades e corporações. A relação dos escolhidos é verdadeira sagração à ciência, ao humanismo, às letras e à cultura, mas, sobretudo, em favor de uma política pública de saúde no país. Uma maioria desses notáveis formou incontáveis discípulos em suas especialidades.

Donos de vasto conhecimento universal, eles dominavam outras línguas, tinham o dom da oratória, apreciavam livros e música. Essa constelação de abnegados da medicina escreveu páginas de ouro na história. Várias destas estrelas hoje são nomes de ruas, avenidas, praças e instituições em Belo Horizonte.

Alfredo Balena (1882-1949): um dos baluartes da fundação da Faculdade de Medicina, onde ocupou a cadeira de Clínica Médica, considerado missionário da cultura, ligou teoria à prática; Amílcar Vianna Martins (1907-1990): professor catedrático de Parasitologia e Zoologia, consultor da Organização Mundial da Saúde, autor do livro “Parasitologia Médica”; Carlos Ribeiro Justiniano das Chagas (1879-1934): autor da maior obra de medicina experimental do mundo, no sertão mineiro (Lassance), descobriu moléstia que leva seu nome; Cícero Ribeiro Ferreira Rodrigues (1861-1920): primeiro médico a atuar no antigo Curral d´El-Rey, mereceu elogios de Aarão Reis pelo cuidado de velar pela saúde pública na nova capital; Clóvis Salgado da Gama (1906-1978): astro da cadeira de Ginecologia da Faculdade de Medicina, com inúmeros trabalhos científicos na área, além de reconhecido entusiasta das artes; Eduardo Borges da Costa (1880-1950): considerado o grande mestre da cirurgia mineira por Pedro Nava, criou o Instituto Radium destinado ao tratamento e pesquisas de câncer; Ezequiel Caetano Dias (1880-1922): pesquisador de doenças infecciosas, fabricação de vacinas, soros e outros medicamentos, é identificado como criador da bacteriologia nacional; Hermenegildo Rodrigues Villaça (1860-1936): pioneiro da cirurgia asséptica no país, trocou a ultrapassada desinfecção por ácido fênico pela demorada fervura de instrumentos cirúrgicos; Hilton Ribeiro da Rocha (1911-1993): oftalmologista de renome, incutia nos alunos não só a necessidade de saber técnico, mas de sentimentos de desprendimento e solidariedade; Hugo Furquim Werneck (1878-1935): fundador da Ginecologia e Obstetrícia em Minas, provedor da Santa Casa construiu Asilo Afonso Pena, Maternidade Hilda Brandão e Hospital São Lucas; João Gallizi (1909-1999): fundador da Sociedade de Gastroenterologia em Minas, apresentou trabalhos científicos em mais de 40 congressos médicos, com título de honoris causa; José Baêta Viana (1894-1967): o jovem professor de Bioquímica da Faculdade de Medicina propôs a profilaxia do bócio, de grande incidência no estado, pelo uso do iodo no sal de cozinha; Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-1976): com especialização em Cirurgia e Urologia em Paris, dedicou-se aos pobres da Santa Casa, depois nomeado para o Hospital Militar; Lucas Monteiro Machado (1901-1970): interno do serviço de Ginecologia da Santa Casa, fundou a Faculdade de Ciências Médicas, dono de habilidade excepcional como obstetra; Luigi Bogliolo (1908-1981): membro do comitê científico da OMS e fundador da Sociedade Brasileira de Patologistas, montou o primeiro serviço de microscopia eletrônica da Faculdade de Medicina; Luiz Adelmo Lodi (1894-1979): mestre em Anatomia, foi presidente do conselho da Cruz Vermelha Brasileira, voluntário na Primeira Guerra, laureado na França, Itália e Luxemburgo; Oswaldo de Mello Campos (1896-1984): parasitologista, biologista, físico-químico e patologista geral foi chamado de mestre de mestres por seu desempenho clínico e acadêmico; Oswaldo Gonçalves Costa (1905-1996): sua tese “Acroceratoses” é referência na área de Dermatologia mundial, autor dos mais citados em tratados médicos especializados; Vital Brasil (1865-1950): sanitarista, ganhou notoriedade com tecnologia de soroterapia para a cura de envenenamento por picadas de cobras, considerado benemérito da humanidade; Wilson Teixeira Beraldo (1917-1998): um dos fundadores da SBPC, publicou mais de 100 trabalhos científicos, além de livro sobre Fisiologia, adotado em todo mundo médico.

Filantropia

A Santa Casa de BH completou 125 anos com cerca de 3 milhões de pacientes atendidos no ano passado. Todos pelo SUS. Estacionadas à sua volta, diariamente, dezenas de ambulâncias de todas as partes do estado. O Hospital da Baleia, outra referência em atendimentos médicos em Belo Horizonte, principalmente em ortopedia, celebra 80 anos, com a inauguração de um busto do seu fundador, o industrial Benjamim Ferreira Guimarães.

Afasia

O ex-governador Israel Pinheiro tinha falhas de memória. Titubeante, tratava seus auxiliares por “coisinha”. Um modo prático e carinhoso de justificar sua dificuldade em guardar o nome de batismo de terceiros. No Palácio dos Despachos, porém, havia um serviçal com este apelido, por pura coincidência. Ao garçom, o pessedista atalhou: “Por favor, ponha mais um cafezinho para mim, coisinha!”. Ligeiro, este retrucou: “Coisinha é o que serve o senhor pela manhã”. O ex-governador de São Paulo, Paulo Salim Maluf, no auge da popularidade, era um monstro na memorização de nomes. Nem o passar dos anos tirava-lhe esta qualidade, fundamental para evidência de um político, pois demonstrava intimidade. Por via das dúvidas, para ter certeza de que se lembraria do nome de todos ao seu redor, ele enviava um precursor às solenidades, que lhe cantava as presenças ao ouvido.


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