Bruno Nogueira e Renato Scapolatempore

 

O governador Romeu Zema (Novo) disse nesta sexta-feira (19/7) que, das duas opções de que ele dispõe para tentar minimizar o problema da dívida de Minas com a União, o Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag), proposto pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, é o que se apresenta mais viável. Segundo ele, o Regime de Recuperação Fiscal (RRF), em tramitação na Assembleia Legislativa, é uma alternativa a curto prazo. Mas ao longo do tempo, não reduz o endividamento, que pode chegar ao final de nove anos do programa a mais de R$ 200 bilhões. Hoje, a dívida gira em torno de R$ 165 bilhões.


Zema participou de um café da manhã com jornalistas em que fez um balanço sobre sua administração, abordando principalmente a questão da dívida com a União. Entre comentários e avaliações sobre o processo de negociação no Congresso e na Assembleia, o governador apresentou números que mostram a situação pela qual o estado ficará se tiver de pagar integralmente a dívida e se optar pelo RRF ou pelo Propag.




 

De acordo com esses dados, com o pagamento de parcelas integrais, Minas teria de tirar dos seus cofres R$ 8,28 bilhões neste ano e R$ 22,66 bilhões em 2025. Com a adesão ao RRF, o dispêndio seria de R$ 1,37 bilhão em 2024 e R$ 5,16 bilhões no ano que vem. Já com a adesão ao Propag, considerando amortização de ativos no valor de 20% da dívida, o estado pagaria R$ 8,2 bilhões em 2025, quando começaria a valer o programa.


O governador aproveitou para rebater as críticas de adversários, de que seu governo não pagou parcelas da dívida e que, por isso, ela cresceu nos últimos seis anos. Em uma indireta ao ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), que chamou o atual governo mineiro de irresponsável, Zema afirmou que a gestão dele foi a que mais pagou a dívida de Minas Gerais com a União: “Parece que um ministro gosta de vangloriar de que nós só avançamos porque não pagamos dívida. Provo matematicamente que somos o governo de Minas que mais pagou dívida”.

 

Segundo ele, desde 2022, o estado já pagou R$ 6,7 bilhões do que é devido ao governo federal.



Além das questões relacionadas ao endividamento bilionário, o governador de Minas falou durante o café da manhã sobre eleições municipais, seu futuro político, governo Lula e os motivos de não gostar da esquerda. Confira alguns pontos da conversa mais abaixo.



Leia mais: Pacheco, Haddad, Bolsonaro e dívida são temas em café da manhã de Zema 


Governo vigiado

Para Zema, seu governo sofre uma marcação implacável dos órgãos de controle e fiscalização. “Desde o início da gestão, estamos fazendo aquele que eu diria ser o governo mais vigiado da história de Minas. Nunca um tribunal de contas fez tantas exigências quanto fez ao nosso governo, é só ver o quanto os governos passados gastavam com educação e saúde e ver o que o nosso gasta. O que foi bom para o estado, porque (antes) não se cumpria, ficava por isso mesmo. Um governo reteve o empréstimo consignado de mais de 200 mil funcionários e nada aconteceu. Se eu fizer isso na empresa eu sou preso, um governador faz uma escala gigantesca e nada acontece.”



Secretários

Zema criticou secretários de gestões passadas e disse que seu governo preza por critérios técnicos. “Se meu governo acabasse hoje, acho que um legado expressivo já aconteceria, porque mostramos uma estrutura mais profissional, mais enxuta, de gente comprometida faz toda a diferença. Na minha opinião, é um absurdo ter um secretário de meio ambiente, de saúde, que nunca trabalhou na área. Isso para mim é quase que inconcebível.”

 

Zema ainda afirmou que não terá tolerância com erros de seus comandados. “O que friso e repito sempre com meus secretários é 'pisou na bola, tá fora', não conte com minha boa vontade. Sou bom enquanto você está sendo uma pessoa que procede corretamente. A partir do momento que você não procede, não tenho mais nenhum compromisso. A partir do momento que você não procede corretamente, tenho um incêndio, e a única maneira de apagar é deixando você longe, se não vai contaminar o resto.”



Base na Assembleia

Sobre sua base na Assembleia Legislativa, Romeu Zema mandou um recado direto aos parlamentares que votaram contra os interesses do governo ou que simplesmente deixaram de votar o projeto do Regime de Recuperação Fiscal (RRF): “Queremos na nossa base quem está conosco na alegria ou na tristeza. Somos um governo bem avaliado, e todo mundo tem o direito de ser da oposição, mas não me venha passar por falso amigo.”

 

Na votação de primeiro turno do RRF, o governo teve vários problemas para conseguir quórum em plenário. Ao fim, conseguiu aprovar com 33 votos a 20 a proposta. Diante do resultado, o governo se viu obrigado a tirar de pauta outro projeto referente à dívida, sobre teto de gastos, que precisava de quórum qualificado (39 votos a favor).




Eleições municipais

O governador Romeu Zema diz que a ex-secretária Luisa Barreto tem seu total apoio na disputa pela Prefeitura de BH (PBH) e que gostaria que ela permanecesse na disputa, embora dentro do Novo haja questionamento sobre sua viabilidade eleitoral. “Luisa Barreto é uma pessoa brilhante e a minha candidata”, afirmou. Ele reconhece, porém, que a ex-secretária também seria uma boa puxadora de votos para o partido se fosse candidata a vereadora.


Perguntado sobre quem apoiaria no segundo turno, caso Luisa Barreto fique pelo caminho, Zema disse que ficará sempre do lado de candidatos da direita. não somente em BH, como também em municípios do interior. Caso o enfrentamento no segundo turno na capital seja entre dois candidatos de direita, ele afirmou que ficará neutro na disputa.



Eleições 2026

O governador Romeu Zema (Novo) voltou a se colocar em segundo plano na disputa presidencial de 2026 e reforçou que o nome mais forte da direita, no momento, é o de Tarcísio de Freitas (Republicanos). Segundo o governador de Minas Gerais, Tarcísio tem a candidatura mais viável, mas caso o paulista não concorra, a direita ainda tem opções com Ronaldo Caiado (União Brasil), governador de Goiás, Ratinho Júnior (PSD), governador do Paraná, além dele mesmo. Sobre a possibilidade de se candidatar ao Senado em 2026, Zema disse que isso está fora de questão e que prefere cargo executivo.




Rejeição à esquerda

“A esquerda é social só da boca para fora”. Essa foi parte da resposta de Zema ao ser perguntado porque tem aversão à esquerda. Ele afirmou que, no governo anterior, de Fernando Pimentel (PT), escolas estaduais serviam de merenda água com arroz aos alunos carentes. “A esquerda só vive de euforia de propostas, mas na hora do 'vamos ver' não faz.”



Governo Lula e Acordo de Mariana

Para Zema, a negociação da dívida bilionária de Minas com a União vai ser o termômetro para ele dizer se o governo do presidente Lula tem boa vontade com Minas Gerais. Segundo ele, em outra questão importante, o acordo de Mariana, o governo federal não teve essa "boa vontade". “Já poderíamos ter assinado esse acordo, mas o governo federal não aceita o valor”, disse o governador, para quem a possibilidade de Minas receber mais investimentos incomoda o governo federal.




Contratos temporários

Romeu Zema revelou que está estudando com coronéis da Polícia Militar uma mudança na estrutura da corporação com a contratação temporária de servidores. Seria um modelo semelhante ao que já é empregado pelo Exército e em alguns estados. Nele, o servidor militar aprovado em concurso ficaria no cargo por tempo determinado, atuando como cabo ou sargento. Ao fim do período, ele perderia o vínculo com o Estado, mas estaria capacitado para atuar como “segurança privado ou dono de uma empresa de segurança”. A ideia, que tem de ser aprovada pelo Legislativo, seria uma forma de reduzir os custos com a Previdência.

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