FOLHAPRESS - A embaixada da Venezuela em Brasília, único local no Brasil com possibilidade de votação para o pleito presidencial no país vizinho, reuniu no início neste domingo (28/7) alguns venezuelanos opositores a Nicolás Maduro, mas também brasileiras que apoiam o ditador.

 

Integrantes de movimento agrário dissidente do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), as mulheres disseram que foram convidadas pela própria representação para prestar "apoio moral".

 



 

No meio da tarde, dezenas de venezuelanos contrários ao ditador fizeram um protesto na Torre de TV, no centro da capital federal, com gritos de "viva à democracia" e "que se vá, Nicolás".

 

Entre eles, estava a diplomata Maria Teresa Belandria, representante no Brasil do líder oposicionista venezuelano Juan Guaidó e que foi reconhecida durante a gestão de Jair Bolsonaro como embaixadora da Venezuela no Brasil.

 

Pouco antes, a Folha havia conversado com alguns venezuelanos que foram à embaixada.

 

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A venezuelana Ruth Cordero, de 62 anos, chegou no Brasil em 2016 --a única de sete irmãos a deixar seu país. Em março, ela disse que buscou a embaixada para solicitar uma carta consular necessária ao processo de naturalização como brasileira, e aproveitou para requisitar o registro para votar nas eleições.

 

Ela afirmou ter sido informada de que precisaria de um passaporte válido, e a única maneira de emiti-lo seria viajar de volta à Venezuela.

 

Sua filha, Jennifer Espitia Cordero, de 37, formada em comércio exterior, disse ter enfrentado a mesma dificuldade. Grávida de nove meses, pediu ajuda à embaixada para renovar seus documentos, mas não teve a solicitação atendida.

 

Alberto Sifontes, 29, trabalha como autônomo e chegou no Brasil há cerca de cinco anos. Segundo ele, a embaixada da Venezuela no Brasil impôs muitas travas para atualizar o registro de votação, exigindo documentos atualizados como cédula de identificação e passaporte.

 

"Estamos aqui para dar ajuda logística, apoio moral, emocional e sobretudo espiritual", disse Sifontes, que atuava como uma espécie de anfitrião dos venezuelanos na embaixada, fornecendo orientações e explicando as travas pelas quais muitos deles não poderiam votar.

 

Oposição

 

Todos os venezuelanos barrados na votação que conversaram com a Folha apoiam a oposição. Segundo eles, "a melhor opção é mudar". Alguns deles preferiram não se identificar, dizendo temer represálias a familiares que moram na Venezuela.

 

Pouco antes das 15h, seis mulheres brasileiras com camisetas da organização FNL (Frente Nacional de Luta Campo e Cidade) chegaram à embaixada, em dois grupos. O movimento foi criado por José Rainha Jr., um dos fundadores do MST e que, depois, rompeu com o movimento.

 

No primeiro, uma delas, chamada Lucieni, disse que elas haviam sido chamadas pela embaixada, mas que ainda não sabia do que se tratava.

 

A coordenadora, Conceição Pereira, 55, chegou na sequência e disse que o movimento foi convidado pela representação para se fazer presente. Segundo ela, o movimento defende a reforma agrária e tem na embaixada venezuelana uma aliada. Questionada sobre quem apoiavam nas eleições, ela respondeu Maduro.

 

Ao ser perguntada sobre as restrições que impediram os venezuelanos de votar, Pereira fez uma pausa na fala. Depois, disse que não sabia dos relatos.

 

"Após a eleição nós vamos procurar entender isso. Por que o voto é negado?", pergutou. "A gente entende que a embaixada está aqui no Brasil para fornecer esses documentos."

 

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Eleições

 

A Venezuela realiza neste domingo eleições em um cenário jamais visto em 25 anos de chavismo. Sob pressão internacional e desgastado pela crise econômica prolongada, Maduro vê uma ameaça inédita ao regime, que ele comanda desde 2013.

 

São dez os candidatos presidenciais a disputar a preferência de mais de 21 milhões de eleitores, que em recentes pesquisas demonstraram ampla vontade de ir às urnas, ainda que o voto seja facultativo.

 

Edmundo González Urrutia, de 74 é o candidato de oposição e de María Corina Machado, de 56.

 

A ex-deputada liberal, uma das opositoras mais vocais do chavismo desde os anos 2000, foi impedida pelo regime de concorrer a cargos públicos por 15 anos após sua liderança ficar evidente ao despontar com mais de 90% de apoio nas primárias realizadas pela oposição.

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