O processo eleitoral na Venezuela, com o anúncio da reeleição do presidente Nicolás Maduro, dividiu opiniões entre integrantes do governo, petistas e partidos de esquerda que apoiam o Palácio do Planalto, entre os quais, o PSB do vice-presidente Geraldo Alckmin, que condenou como se deu o pleito no país vizinho.
A nota da Executiva do PT reconhecendo a eleição de Maduro, e uma declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva — que não viu "nada de grave, nada de assustador" na maneira como se deu a recondução do presidente venezuelano — geraram críticas de aliados políticos do governo.
Ainda que aprovada de forma unânime, a nota do PT escondeu divergências entre alguns dirigentes da agremiação, que se manifestaram contra relativizar as eleições na Venezuela. Mas, como foi vencido no debate, o grupo minoritário aderiu à posição da maioria da cúpula petista.
Ontem, o líder do governo no Congresso, o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP) — que retornou à legenda há duas semanas, em um ato de filiação no Palácio do Alvorada, ao lado de Lula —, se manifestou de maneira crítica ao que está acontecendo na Venezuela. O parlamentar entende que houve uma eleição "sem idoneidade".
"Uma eleição em que os resultados não são passíveis de certificação e os observadores internacionais são vetados é uma eleição sem idoneidade", afirmou Randolfe, em nota.
O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, também condenou o processo de reeleição de Maduro e classificou o regime como ditadura. Esse é um posicionamento que o partido, aliado histórico do PT, adota desde uma resolução de agosto de 2019, quando decidiu deixar o Foro de São Paulo (grupo que reúne lideranças e partidos de esquerda da América Latina desde o início dos anos de 1990) com críticas ao governo da Venezuela.
"Consideramos esse regime uma ditadura e, como tal, sabíamos que ele não faria uma eleição livre, transparente e democrática", disse Carlos Siqueira, nesta semana.
A presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), tomou a iniciativa de, logo na manhã da última segunda-feira, um dia depois do pleito, mobilizar a Executiva a tomar uma posição em favor da Venezuela.
"Importante que o presidente Nicolás Maduro, agora reeleito, continue o diálogo com a oposição, no sentido de superar os graves problemas da Venezuela, em grande medida causados por sanções ilegais", diz um trecho da nota do PT.
Também o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) — organização que, ideologicamente, anda ao lado do PT — considerou legítima a reeleição de Nicolás Maduro para mais um mandato de seis anos. Ontem, um grupo de 30 movimentos sociais e populares, incluído o MST, divulgou um texto em "defesa da paz na Venezuela", mas atacando os críticos do processo eleitoral naquele país, os classificando como "extrema-direita".
"Queremos saudar o povo venezuelano pelo belo exemplo de jornada pacífica, transparente e organizada demonstrada nestas eleições. Mas, a extrema-direita, articulada e financiada pelo imperialismo estadunidense, não reconheceu os resultados das urnas e está provocando desestabilização. Queremos denunciar a tentativa de golpe de Estado contra o presidente eleito Nicolas Maduro", diz a nota dos movimentos sociais.
Chamou a atenção a ausência do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), que tem entre seus líderes o deputado Guilherme Boulos (PSol-SP) como signatário. Boulos é candidato a prefeito de São Paulo.
A ministra do Meio Ambiente e das Mudanças Climáticas, Marina Silva, também criticou o processo de votação na Venezuela e declarou que o país vizinho "não se configura como uma democracia". O senador Paulo Paim (PT-RS) também foi às redes sociais condenar a eleição que reconduziu Maduro, ainda que nenhuma ata de votação tenha sido apresentada até agora, quase uma semana depois do pleito.
"A situação na Venezuela é gravíssima e lamentável. Espero por dias melhores para o seu povo e para o país como um todo. Sem transparência no processo eleitoral, liberdade política e de expressão, e respeito aos direitos humanos, não há democracia."
Outro senador petista, Fabiano Contarato (ES), foi na mesma linha do colega de Parlamento. "O resultado das eleições venezuelanas não merece reconhecimento da comunidade internacional enquanto as exigências mínimas de transparência não forem satisfatoriamente atendidas."