SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O candidato Guilherme Boulos (PSOL) disse que reagiu às provocações do adversário Pablo Marçal (PRTB) em debate eleitoral, na manhã desta quarta-feira (14/8), porque não tem "sangue de barata" e se justificou afirmando que não se pode normalizar um postulante a prefeito como o influenciador.
Boulos e Marçal tiveram embates acalorados, culminando no momento em que o empresário e ex-coach agitou uma carteira de trabalho diante do deputado após chamá-lo de vagabundo. O prefeito Ricardo Nunes (MDB), que também se envolveu em discussões, afirmou que o clima bélico ultrapassou os limites.
Apesar de afirmar, na saída do debate ao ser indagado em coletiva de imprensa sobre Marçal, que não vai "cair nessa", o representante do PSOL ficou irritado no palco do evento e tentou tirar o documento das mãos do adversário.
"Quando a pessoa vem na tua frente, mente de maneira descarada, te ataca e te provoca, ninguém tem sangue de barata", disse. "Você precisa ter o mínimo de indignação. O que me espanta é que essa indignação não seja de todos", continuou, falando que Marçal faz chacota e atrapalha a discussão de propostas.
"O que temos que tomar cuidado é para não naturalizar o absurdo. Nós já vimos o preço que o Brasil pagou por ter naturalizado o absurdo", disse, citando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). "É isso o que está acontecendo aqui de novo, alguém que vem para mentir, provocar, tumultuar o debate."
Boulos disse que, nos próximos debates, manterá a linha de buscar discutir soluções para os problemas da cidade. Ele alfinetou Nunes ao citar o apoio de Bolsonaro ao prefeito, falando em "risco de ideias retrógradas, atrasadas e negacionistas" ganharem espaço na capital paulista.
Marçal, por sua vez, afirmou ter sido quase agredido por Boulos e buscou se isentar da sua contribuição para um debate recheado de ataques.
Questionado pela Folha se Boulos havia caído em sua pilha, ele respondeu: "Eu não tenho pilha, eu tenho reator nuclear". "Ali você está vendo o que é o Boulos de verdade. Eles estão forçando fazer o 'Lula paz e amor' na versão Boulos, mas ele quase me agrediu", completou.
Mais tarde, ao dar entrevista para toda a imprensa, debochou e disse não ter se sentido agredido pelo deputado do PSOL. "Nada. Agressão de um cara molenga daquele?", questionou. "Isso aqui não é um debate, isso aqui é um embate. Não tem como colocar proposta num ambiente que está armado para destruir as pessoas. Eles fazem isso de propósito, só que estão mexendo com o cara errado", reclamou.
Questionado sobre ter feito parte do embate, distribuindo uma série de ataques aos rivais, o membro do PRTB respondeu: "Mas você está mexendo com um comunista, amigo; você não está conversando com gente inteligente, nobre, não".
O empresário disse ainda que as pessoas "vão ter que aguentar" esse tipo de debate porque ele reúne políticos que o povo colocou em condições de disputa. "E a gente vai tirar esse tipo de político agora. Se propuserem um debate, eu vou debater com o maior prazer ali. Não é um debate, é baixaria mesmo."
Uma das reclamações da equipe de Boulos era de que Marçal não poderia ter levado ao palco um objeto, como a carteira de trabalho. Marçal afirmou não saber se isso estava ou não de acordo com as regras.
Nunes declarou que "o nível passou demais dos limites" e isso "é um desrespeito à população que está em casa", o que comparou a uma briga com "dedo no olho, canelada".
Em sua defesa, o emedebista disse que muitas mentiras foram difundidas no debate. Ele já havia rebatido informações dos rivais no palco, defendendo sua gestão e seu trabalho, afirmou que os participantes precisam "melhorar o nível" para os próximos encontros, priorizando propostas.
Nunes respondeu ainda que esse estilo de confronto não beneficia nenhum dos candidatos, já que impede o eleitor de avaliar qual é o melhor e mais preparado. "As pessoas não estão vindo para debater a cidade, mas para agredir as pessoas e fazer recortes para a internet", continuou, em alusão a Marçal, que usa intensivamente as redes sociais para sua campanha.
Tabata Amaral (PSB) também disse lamentar "o nível do debate", mas ressaltou que não fez perguntas pessoais aos candidatos e afirmou discordar dos pedidos de resposta concedidos a Nunes a partir de falas dela.
"Eu não fiz nenhuma acusação. [...] Não estou falando sobre factoide. O prefeito é investigado pela Polícia Federal na máfia das creches", disse ela. Nunes faz parte da investigação, mas não foi indiciado.
"Debate é para falar de propostas. E ninguém juntou um time melhor do que eu ou se preparou tanto. [...] Mas é muito importante que as pessoas conheçam os candidatos", acrescentou a deputada.
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