Carlos Viana foi o quinto entrevistado na série de sabatinas do Estado de Minas com candidatos à Prefeitura de BH -  (crédito: Tulio Santos/EM/D.A. Press)

Carlos Viana foi o quinto entrevistado na série de sabatinas do Estado de Minas com candidatos à Prefeitura de BH

crédito: Tulio Santos/EM/D.A. Press

Candidato à Prefeitura de Belo Horizonte pelo Podemos, Carlos Viana reforça a própria imagem como uma alternativa independente na corrida pelo comando da capital mineira. O senador foi o quinto entrevistado da série de sabatinas do Estado de Minas com os nomes que concorrem ao Executivo municipal e listou o que considera os investimentos e passos prioritários de uma eventual gestão da cidade.


Segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto, Viana não poupou críticas ao atual líder dos levantamentos, o deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos), ao governador Romeu Zema (Novo) e à atual gestão da capital mineira. O senador ainda destacou o ajuste nas contas da cidade e a mobilidade urbana como prioridades de seu plano de governo.



ENTREVISTA



Por que o senhor quer ser prefeito de Belo Horizonte? 


Eu estou na política por uma questão pessoal. Eu poderia estar aposentado, morando fora, mas amo o Brasil e amo BH. Moro aqui há 45 anos e sei do que a cidade precisa, pois, como jornalista, conheci essa cidade de uma ponta a outra. Hoje, Belo Horizonte é uma boa cidade para se viver, mas estamos perdendo qualidade de vida. O Centro da cidade está morto. A Praça da Estação, onde estive ontem, passa por uma reforma inútil todo ano, e as soluções que realmente esperamos não vêm. É por isso que quero ser prefeito; precisamos de um projeto para uma BH do futuro. Uma BH onde a gastronomia, que é um dos nossos principais atrativos, encontre a BH da tecnologia.

 

Eu quero assumir o ensino médio. Como prefeito, quero conversar com o governo do estado para que a prefeitura abrace os estudantes do ensino médio e nosso ciclo seja completo e, aí sim, possamos dar novas oportunidades. Precisamos trabalhar muito nas questões de mobilidade e saúde. Precisamos trabalhar por uma Belo Horizonte que seja de todos, uma BH que preserve seus espaços históricos e uma Belo Horizonte das vilas e aglomerados, que não têm recebido políticas públicas nos últimos anos.

 

Na época de eleição, todo mundo inventa um plano de governo mirabolante que resolve o problema da cidade em um passe de mágica. Eu e minha equipe econômica analisamos os planos das últimas cinco eleições, desde Patrus (Ananias, PT) até chegarmos ao atual prefeito, que não fez absolutamente nada de positivo para a cidade em termos de planejamento. Vamos manter o que foi bom, tirar o que não foi e trabalhar principalmente o orçamento.



Se eleito, qual seria seu primeiro ato ao assumir?



O primeiro passo chama-se "BH Déficit Zero". O atual prefeito encaminhou uma Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para a Câmara com uma dívida de R$ 37 milhões. Por que isso acontece? Porque foram destinados quase R$ 1 bilhão para as empresas de ônibus, e pela primeira vez em 20 anos, Belo Horizonte está no vermelho. Temos um déficit primário, que se refere à entrada e saída de recursos; se não regularmos e cortarmos o que é supérfluo e incentivarmos a arrecadação, em 2026 a dívida será de R$ 200 milhões, o que vai tirar totalmente a capacidade da prefeitura de investir no que é importante.

 

O segundo passo é se reunir com a Fiemg e com a Fecomércio para elaborar um novo plano de desenvolvimento para Belo Horizonte. Nos últimos anos, desde Kalil, Belo Horizonte passou a tratar os empreendedores como inimigos. A questão da chamada cessão onerosa, por exemplo, que é quando você paga pelo espaço onde a prefeitura já fez benfeitorias. Ou seja, para construir um prédio maior em uma área de avenida, você tem que pagar à prefeitura pelas benfeitorias que já foram feitas. Isso é até correto, mas o problema é que esse valor chegou a um patamar tão alto que hoje o construtor não constrói mais em Belo Horizonte; ele foi para Nova Lima e está indo para a região norte, porque o IPTU e os imóveis são mais baratos e vendem mais rápido.

 

Como resultado, aquela região do Barroca vai morrendo, assim como outros bairros de Belo Horizonte, como o Centro, o Barro Preto, o Prado e o Lagoinha. Tudo porque a prefeitura começou a tratar o empreendedor como inimigo, mas não deve ser assim. Temos que mudar. Precisamos atrair novos investimentos para Belo Horizonte em conjunto com os empreendedores. Na Avenida do Contorno com Cristóvão Colombo e na Avenida Nossa Senhora do Carmo, por exemplo, precisamos fazer uma trincheira. Belo Horizonte precisa de muitas trincheiras para melhorar a mobilidade na cidade. De 2026 para 2027, haverá um novo plano diretor; vamos trabalhar com as entidades e os empresários para poder dar a Belo Horizonte um novo plano de crescimento.



As pesquisas realizadas nas últimas semanas mostram Mauro Tramonte à frente e o senhor na segunda colocação. Como o senhor espera conquistar mais votos e crescer nas pesquisas até outubro?



Antes, as pesquisas estavam contaminadas pelo número de candidatos, que agora já se confirmou. Neste momento, a população já sabe quem realmente está competindo. Quando começou todo esse rumor de que fulano é candidato, ciclano é candidato, eu estava em primeiro lugar; caí oito, sete pontos e depois subi três ou quatro, dependendo da pesquisa. Hoje, estou em segundo. Ou seja, a população está começando a prestar atenção em quem realmente tem propostas para a cidade, e eu vou trabalhar muito nisso.

 

O que está em primeiro lugar, por exemplo, que saiu da televisão recentemente, é uma pessoa que não conhece Belo Horizonte. Ele nem é daqui e não é um candidato independente, porque, quando ele se juntou ao governador e ao ex-prefeito, fez acordos. Ali já tem secretaria separada, como o próprio Kalil já disse. Então, esse candidato que está em primeiro lugar é um candidato "marionete". É uma pessoa que não depende só dele; ele vai ter que entregar. A vice dele me foi oferecida, e eu cheguei a cogitar. Só que currículo aceita qualquer coisa. Na época, eu falei: "Olha, o currículo dessa senhora é bom", mas, quando você olha em profundidade, vê quem ela realmente é. É uma secretária que está desde o governo Aécio e que não teve competência para consertar os elevadores da Cidade Administrativa. É a mulher que assinou o aumento de 300% do salário do Zema, dos secretários e dos jetons. É a mesma que não deu dinheiro para os policiais, bombeiros e professores.

 

Aí, o pessoal fala que eu não tenho padrinho político. Graças a Deus! Eu não devo nada ao ex-presidente Bolsonaro. Fui fiel a ele até o último minuto, porque, quando dou a minha palavra, eu cumpro. Eu também não devo nada ao Lula e converso com o governo; minha base é independente no Senado. Belo Horizonte precisa parar de ser trampolim político, porque o "marionete" quer fazer o Kalil governador, e o Zema não sabe para onde vai.


O senhor e Tramonte têm algumas semelhanças, como o fato de ambos terem ganhado visibilidade como jornalistas. Como pretende se destacar do seu concorrente?


O Mauro não é jornalista. O Mauro é um apresentador, é diferente. Eu sou jornalista, me formei, pós-graduei, trabalhei 23 anos nas ruas e sei o que é ser jornalista. Eu sou de Belo Horizonte, conheço Belo Horizonte; o Mauro não é daqui, é de Poços de Caldas. Inclusive, ele perdeu a eleição para vereador lá porque não ia à Câmara. A mesma coisa acontece aqui: ele sai da televisão às 15h30; que horas ele chega na Assembleia?

 

Eu saí do jornalismo, me tornei senador e mergulhei de cabeça na política. Estudei, aprendi e estou entre os cinco melhores do Brasil há 4 anos. Ano passado, fui eleito o melhor senador do país em transparência nas contas do gabinete; não respondo a nenhum processo na Justiça, nunca fui investigado. Sou segundo vice-presidente do orçamento do Brasil, que era o que eu queria aprender. Levei quatro anos para entender como funciona o orçamento e onde está o dinheiro. Hoje, Belo Horizonte não recebe muito dinheiro porque o prefeito não vai lá fora pedir. Nem ele nem o Kalil. Foram pedir empréstimo para obras no Vilarinho, mas dinheiro de projeto e de Ministério, não tem. Assim como Minas também não recebe porque não há diálogo com o governo federal. Então, essa é a diferença. (Mauro Tramonte) é uma boa pessoa, um ótimo apresentador de televisão, mas, quando o assunto é profundidade, a gente nota quem realmente conhece Belo Horizonte.

 

O senhor tem destacado a sua independência, mencionando que não tem ‘padrinhos políticos’, e também falou da sua fidelidade ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e da necessidade de o prefeito de Belo Horizonte buscar financiamento em outras esferas. Como é o seu trânsito no governo Lula e com o governo estadual, chefiado pelo governador Romeu Zema?

 

O trânsito com o Zema é nulo. O Zema não conversa com ninguém. Isso é característico da base do Novo, não há diálogo. Essa falta de diálogo, inclusive, prejudicou muito Minas. Nós não conseguimos resolver o problema da dívida, o estado não recebeu investimentos, e isso pode se repetir em Belo Horizonte. Se colocarmos aqui candidatos que não têm diálogo interpartidário, vamos deixar Belo Horizonte isolada no tempo, como Minas ficou. Zema, no primeiro dia em que foi reeleito, anunciou que seria candidato à Presidência da República. Você acha que vem recurso? Não vem R$ 1 para Minas. O estado está sobrevivendo das liminares do STF e do dinheiro de Brumadinho. Mas esse diálogo precisa ser estabelecido. Eu espero ter diálogo com o governador como prefeito, porque preciso dele para integrarmos as empresas de ônibus.

 

Com o presidente Lula, eu não apoio, não votei. Votei em Bolsonaro, porque sou da direita. Ele representava, naquele momento, o que eu entendia que era melhor para o país. Hoje, não entendo mais; ele passou. Quero um outro modelo para a direita brasileira, e Bolsonaro já deu a sua contribuição, com seus tropeços. Precisamos apresentar ao país um novo modelo para a direita.

 

E o presidente Lula é uma coisa impressionante. Ele me ligou duas vezes: uma depois da posse, em fevereiro, e outra recentemente, em um encontro em Brasília, no qual ele sancionou leis das quais fui relator. Ele falou comigo: 'Senador, o senhor tem que vir aqui conversar comigo para trazer os evangélicos. Eu quero conversar com os evangélicos. O senhor pode me ajudar'. Eu falei: 'Presidente, vamos. Nós vamos dar uma olhada nisso, né? O senhor é presidente, e a Bíblia diz que a gente tem que orar por todos os governantes e orar por eles’. Ainda não agimos, mas me impressionou a proximidade e a vontade de dialogar; isso será muito bom para o prefeito.


Aproveitando o gancho do transporte público: se o senhor for eleito, começará a governar em janeiro de 2025. A concessionária informa que a conclusão das obras do metrô está prevista para 2029. Qual será a sua primeira medida para a mobilidade urbana, caso seja eleito?



Belo Horizonte subsidia quase R$ 1 bilhão. No ano passado, foi meio bilhão; este ano, R$ 350 milhões. Não há como continuar com esse subsídio, precisamos mudar esse modelo. E o modelo é a integração com o metrô. Por quê? Porque você melhora a mobilidade no centro da cidade com menos ônibus, dá mais rapidez para quem está vindo para o centro e cria a condição de equilibrar a tarifa. Por exemplo, quem mora em Neves paga praticamente R$ 10; quem mora em Belo Horizonte, R$ 6; e quem mora em Contagem paga um preço um pouco superior. Com esse dinheiro, podemos implementar uma tarifa média, e o mais importante é a integração.

 

Vamos fazer também um pente-fino nos ônibus. Hoje, é muito fácil, por aplicativo, a pessoa entrar em contato com a prefeitura e informar: "Ó, tem um vazamento aqui no meu ônibus e o pneu está careca." É preciso mandar imediatamente a Guarda Municipal e a Secretaria para verificar e multar essas empresas de ônibus. O cidadão precisa ter uma resposta de qualidade.

 

O senhor mencionou a questão da tarifa. Hoje, por exemplo, quem mora na região de Venda Nova paga mais caro se precisar pegar um ônibus até o metrô e depois o metrô até o centro de Belo Horizonte. No entanto, a tarifa do metrô não é algo que compete à Prefeitura de Belo Horizonte. Como o senhor pretende negociar com a concessionária e com o governo do estado para conseguir essa integração tarifária?


Depende da conversa com o governo. A prefeitura não integrava com o governo do Estado. Nós temos que integrar, e eu vou propor isso ao governo. Esse diálogo é possível. É uma questão de deixar de lado a vaidade partidária e começar a trabalhar no que interessa para a cidade.


Quando acompanhamos o senhor nas redes sociais, percebemos a presença da religião. Como o tema será abordado caso o senhor seja eleito?

 

Depois que afirmei que sou o único candidato evangélico nesta disputa, passei a sofrer uma série de ataques. O Estado é laico, mas isso não me obriga a abrir mão da minha religião. O protestantismo, antes de tudo, é o respeito entre as religiões e faz parte da nossa reforma protestante. Por que surgiu? Porque havia intolerância no passado com aqueles que não concordavam com a imposição. Esse tipo de intolerância nós não queremos mais. Belo Horizonte deve ser uma cidade onde todos tenham sua liberdade: dos terreiros, das igrejas evangélicas e ter uma catedral da Igreja Católica, que será um atrativo para a cidade e que atrairá turistas para a capital. Precisamos abraçar isso e transformar BH na capital da fé. Shows, encher os hotéis. O carnaval já está presente em Belo Horizonte; vamos trazer outros eventos.


Sabatinas do EM

 

As sabatinas do Estado de Minas começaram na última segunda-feira (19/8), com a entrevista de Lourdes Francisco (PCO). Nos dias seguintes, foram entrevistados Indira Xavier (UP), Wanderson Rocha (PSTU) e Bruno Engler (PL).

 

Confira a agenda com as próximas entrevistas:


  • Segunda-feira (26/8) - Duda Salabert (PDT)

  • Terça-feira (27/8) - Rogério Correia (PT)

  • Quarta-feira (28/8) - Mauro Tramonte (Republicanos)

  • Quinta-feira (29/8) - Gabriel Azevedo (MDB)

  • Segunda-feira (2/9) - Fuad Noman (PSD)

 

Debate na Alterosa


Em setembro, a TV Alterosa e o Portal UAI convidam os telespectadores para assistir ao debate entre os candidatos à PBH. No dia 11, às 17h30, os sete candidatos dos partidos com representação em Brasília – como determina o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – se encontrarão para confrontos diretos em quatro blocos.

 

Com uma duração aproximada de 2h15, o debate será apresentado pela âncora e editora da TV Alterosa, Carolina Saraiva. Na ocasião, Bruno Engler (PL), Carlos Viana (Podemos), Duda Salabert (PDT), Fuad Noman (PSD), Gabriel Azevedo (MDB), Mauro Tramonte (Republicanos) e Rogério Correia (PT) terão de responder perguntas feitas entre eles.

 

O primeiro, o segundo e o terceiro blocos serão exclusivos para os confrontos. O primeiro candidato será definido por sorteio e terá 30 segundos para formular uma questão para que outro candidato de sua escolha responda em até 1min30. O desafiante terá 1 minuto para a réplica e o desafiado 30 segundos para a tréplica. A ideia é fazer com que cada candidato seja questionado por outro.

 

Em caso de ofensas e ataques, os candidatos podem levantar o braço em direção a Carolina Saraiva e pedir direito de resposta. O pedido será analisado por uma comissão. Se concedido, o candidato terá a fala no início do bloco seguinte.

 

O quarto e último bloco será destinado às considerações finais. Cada candidato terá 2 minutos para encerrar sua participação no debate. Os melhores momentos poderão ser conferidos no portal do Estado de Minas e também na edição impressa do dia 12.