O sindicalista João Paulo Pires de Vasconcelos morreu nesta sexta-feira (23/8) aos 92 anos. Deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT-MG) por dois mandatos (1987 a 1994), ele teve papel fundamental na elaboração da Constituição de 1988 ao lutar em defesa da classe trabalhadora.
Segundo a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o velório acontece neste sábado (24/8), das 8h30 às 11h30, no Cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte. O sepultamento está marcado para as 16h30. A causa da morte não foi divulgada.
Nascido em Belo Horizonte, João Paulo é de uma família de 11 irmãos. O pai dele, engenheiro especialista em urbanização, foi convidado pelo então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitscheck, para planejar o crescimento da capital, quando chefiou a execução do Plano Diretor.
Em 1960, João se mudou para João Monlevade e, no mesmo ano, ingressou na então Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira (atualmente, ArcelorMittal). No ano seguinte, ele se filiou ao Sindicato dos Metalúrgicos no município (Sindmon-Metal) e cumpriu dois mandatos como presidente, de 1972 a 1978 — ano em que comandou uma das primeiras greves realizadas no Brasil durante a vigência do Ato Institucional nº 5 (AI-5), que representou o momento mais duro da ditadura militar e permitia aos governantes punir de forma arbitrária quem era considerado “inimigo” do regime.
"A chegada de João Paulo à presidência do sindicato de Monlevade enfrentou resistência da diretoria da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira. (...). A empresa fez campanha contra o que rotulou de 'chapa dos Contramestres', numa referência ao fato de vários integrantes serem supervisores", lembrou o Sindmon-Metal.
João Paulo se tornou um dos principais líderes do "novo sindicalismo", um movimento que, iniciado em 1978, desafiou a legislação antigreve e começou a romper as amarras da organização sindical subordinada ao Estado, modelo implantado no país desde a década de 1940.
"Os trabalhadores impulsionaram a luta pela redemocratização não somente por meio de greves: iriam criar seu próprio partido, o PT, em 1980, e a Central Única dos Trabalhadores, a CUT, em 1983. Articulado com outros movimentos sociais, o novo sindicalismo levaria a pauta dos trabalhadores às ruas e à Assembleia Constituinte (1987-1988), conferindo nova qualidade à luta política na transição da ditadura para o regime democrático", descreve o Memorial da Democracia. Logo, enquanto deputado constituinte, João Paulo trabalhou especificante na elaboração do capítulo sobre direitos trabalhistas na Constituição de 1988.
Na década de 1980, ele também participou da criação da Articulação Nacional dos Movimentos Populares e Sindicais (Anampos), ao lado de Frei Betto, entre outros nomes, e tornou-se o primeiro presidente da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG).
Em publicação no X, o presidente Lula lembrou que João Paulo foi um dos fundadores do PT em Minas e da CUT. "Combatendo a ditadura, organizando os trabalhadores e liderando greves, [João Paulo] inscreveu seu nome na história da modernização do movimento sindical e da democracia brasileira. Neste momento de perda, estendo minha solidariedade a todos os seus familiares, amigos e companheiros".
O companheiro João Paulo Pires de Vasconcelos, metalúrgico, um dos fundadores do PT em Minas e da CUT, foi um companheiro com quem convivi muitos anos, inclusive foi deputado constituinte comigo em 1987 e 1988.
— Lula (@LulaOficial) August 23, 2024
João Paulo teve intensa atividade ao lado dos trabalhadores, da…
A bancada do PT na Câmara também se manifestou. "Sua atuação ao longo de décadas contribuiu para a formação de muitas lideranças, que se espelharam em seu exemplo de militância e de defesa dos interesses nacionais e populares", diz trecho do comunicado.
Escrito pelo também sindicalista Kleber William de Souza, o livro intitulado “João Paulo Pires de Vasconcelos – Documentos e fatos de um sindicalista ativo e atuante” foi lançada em 2015. A obra retrata a visão crítica de João Paulo sobre questões do mundo dos trabalhadores e da política, como o golpe de 1964, condições degradantes de trabalho e o comportamento do empresariado brasileiro.