A suspensão das redes sociais de Pablo Marçal (PRTB) ofereceu aos bolsonaristas um elemento de conciliação com o próprio público, com impacto, inclusive, no posicionamento de lideranças mineiras, em meio às campanhas municipais. Os adeptos mais fervorosos da extrema-direita brasileira se viram, nos últimos dias, diante de um embate que colocou, de um lado, a família do ex-presidente e seu séquito político mais próximo e, do outro, os eleitores e seguidores do candidato à Prefeitura de São Paulo. O bate-boca digital entre os grupos se arrefeceu após liminar derrubar os perfis do coach. O acontecimento evidenciou a Justiça Eleitoral como um inimigo em comum e deu sinal verde a manifestações de bolsonaristas em solidariedade ao concorrente ao Executivo paulistano.
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Preso na fidelidade partidária, Jair Bolsonaro (PL) atua na campanha pela reeleição de Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo. O apoio divide o público mais radical à direita na capital paulista, com tendências a votar em Pablo Marçal, e ganhou proporções nacionais quando o ex-presidente chamou o coach de mentiroso e iniciou uma série de troca de farpas entre Marçal e os filhos de Bolsonaro, especialmente o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL), chamado de ‘retardado’.
Colocados contra a parede, os principais nomes bolsonaristas assistiram o início da confusão calados e recebendo centenas de comentários nas redes sociais pressionando por um apoio a Marçal na corrida pela prefeitura paulistana. No último sábado (24/8), o juiz do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), Antonio Maria Patiño Zorz, atendeu a um pedido do PSB de Tabata Amaral, concorrente de Marçal, e determinou a suspensão dos perfis do coach baseado na denúncia de que os conteúdos publicados utilizavam uma "estratégia de cooptação de colaboradores para disseminação de seus conteúdos em redes sociais".
A entrada da Justiça Eleitoral, um dos alvos preferidos do bolsonarismo, no imbróglio foi um alívio para os nomes alinhados ao ex-presidente e seu partido. O próprio Jair não tardou a baixar o tom e dizer que “não concorda com censura”, ao comentar o caso. A postura do capitão desencadeou a quebra do silêncio de figuras relevantes do PL em Minas Gerais, caso do candidato à Prefeitura de Belo Horizonte, Bruno Engler, e seu principal cabo eleitoral, o deputado federal Nikolas Ferreira.
Já no sábado, Nikolas usou seu perfil no X, antigo Twitter, para uma solitária manifestação sobre o caso, com foco na crítica à liminar do TRE-SP. “Já tive meu perfil derrubado por perseguição judicial e sei que derrubar a conta de alguém é pra anular a pessoa do mundo. Com o Marçal, a situação é outra, mas sabemos que o intuito é o mesmo. Estão errados e espero que a liminar caia. Vergonhosa a atitude da Tábata - desequilibrada, antidemocrática, e claro, chata”, escreveu.
No domingo (25/8), durante ato de campanha na Feira Hippie, Centro da capital mineira, Engler se posicionou sobre o tema e seguiu a mesma linha cautelosa de Nikolas. O candidato à Prefeitura de BH tem apostado em um tom mais moderado durante a campanha e sua fala destacou a influência da mobilização do partido em torno de Nunes na forma como o bolsonarismo tem se comportado em relação a Marçal.
"O nosso candidato apoiado pelo PL em São Paulo é o Ricardo Nunes, mas, independentemente de qualquer coisa, não podemos admitir a censura a um candidato." Segundo ele, "calar um candidato, tirá-lo do jogo é uma situação que não é agradável; consideramos isso muito negativo e lamento que tenha ocorrido", avaliou.
Mais contundência
Embora a cautela seja uma tendência entre os nomes mais importantes do PL, o tom comedido não é uma regra. A deputada estadual Amanda Teixeira Dias, por exemplo, não hesitou em declarar apoio a Marçal, fazendo inclusive um sinal com os dedos anelar, indicador e médio para formar a letra “M”.
Em um vídeo publicado no Instagram, a parlamentar recém-empossada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) contemporiza o apoio de Bolsonaro a Nunes dizendo que o ex-presidente “está em um patamar político muito acima de todos nós e tem direito a fazer algumas alianças por projetos maiores”. Ainda assim, ela se disse ao lado do coach e encerra a gravação com uma inusitada relação entre a política nacional, paulista e de Governador Valadares, cidade mineira no Vale do Rio Doce.
“Eu tinha um pé atrás com o Marçal no início pelo fato dele ser coach, mas depois percebi que não tem como ganhar dele nos argumentos. Ele escancara o sistema de velha política em São Paulo e no Brasil inteiro. Em 2026 eu quero Bolsonaro presidente, Tarcísio governador de São Paulo, Marçal prefeito e Coronel Sandro (PL) prefeito em Governador Valadares”, disse.
Na publicação da deputada, um dos comentários mais curtidos traz a mensagem “faz o M e vem 28”, em referência ao número de urna do PRTB. O autor é o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos), outro bolsonarista mineiro que não seguiu a linha comedida e mergulhou de cabeça na campanha paulistana.
Até o início da noite desta segunda-feira (26/8), as três últimas publicações do senador em seu perfil no Instagram eram sobre Marçal, incluindo uma ligação em vídeo com o candidato. Apesar de não ser do PL, Cleitinho formalizou seu apoio a Bruno Engler em Belo Horizonte e integra até mesmo o material de campanha do partido na corrida pela PBH. Na convenção que oficializou os nomes da legenda na disputa pela prefeitura e por vagas na Câmara Municipal, o parlamentar respondeu sobre possíveis questionamentos de traição ao Republicanos esbravejando “que se exploda a infidelidade partidária”.
Nomes do PL à Câmara Municipal de BH com campanhas mais ligadas a Jair Bolsonaro também se manifestaram sobre a suspensão das redes de Marçal, quase sempre em uma linha que aborda mais a indignação com a liminar do TRE-SP que em apoio puro e simples ao coach e sua candidatura. As cenas dos próximos capítulos da tensão na extrema-direita e seus reflexos em Belo Horizonte serão apimentadas pela presença do ex-presidente na capital mineira em 5 de setembro, durante ato de campanha de Engler.