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Duda: "No primeiro dia após ser eleita vou protocolar um projeto de lei para que Belo Horizonte pague o maior salário para professores entre as capitais"

crédito: JAIR AMARAL/EM/D.A PRESS

A candidata à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) pelo PDT, deputada federal Duda Salabert, diz que não foi eleita para discutir questões identitárias nem se o certo é falar “obrigado ou obrigade” e nem qual banheiro as pessoas trans vão usar. “Fui eleita para discutir temas que são caros para a cidade como o fato, por exemplo, de Belo Horizonte ser uma das cidades que têm maior desigualdade sócio-econômica do país”, afirmou Duda na sexta sabatina que o Estado de Minas está fazendo com todos os dez candidatos à PBH.


Duda, que exerce seu primeiro mandato na Câmara dos Deputados, prometeu acabar com as máfias que, segundo ela, consomem o dinheiro público e investir esses recursos na melhoria da saúde, educação, transporte e na despoluição da Pampulha.

 

De acordo com a candidata, caso eleita, se em dois anos de gestão não melhorar a qualidade da água da lagoa, ela renunciará ao mandato. Duda também criticou a atual gestão da PBH e as alianças feitas por adversários e disse que parte de sua rejeição junto ao eleitorado tem origem na sua exposição e na exploração negativa que a direita faz de sua condição de mulher trans.

 

 

Por que a senhora quer ser prefeita de Belo Horizonte?


Quero ser prefeita para que a cidade de Belo Horizonte tenha a melhor educação pública do Brasil. É impossível transformar a sociedade se não começar pela escola. A escola tem que ser o exemplo da cidade, da sociedade, do país que nós queremos e sonhamos, valorizando os professores, mas para isso há questões anteriores que devem ser resolvidas e que, infelizmente, as últimas gestões não resolveram. E pior, pioraram, que são as três grandes máfias responsáveis por não fazer Belo Horizonte crescer e desenvolver. BH é a quarta cidade mais rica do país, mas temos três grandes máfias que atuam como sanguessugas do dinheiro público e impedem o desenvolvimento sustentável da cidade, que é a máfia do transporte público, do lixo e da Lagoa da Pampulha, que lucra com a lagoa suja.

 

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Qual o seu primeiro ato como prefeita de BH?


Serão dois. No primeiro dia após ser eleita vou protocolar um projeto de lei para que Belo Horizonte pague o maior salário para professores entre as capitais. (...) Depois iremos para a Lagoa da Pampulha medir a qualidade da água, fazer um anúncio público e protocolar. Se em dois anos a qualidade da água da Lagoa da Pampulha não melhorar, eu renuncio.

 

Como combater esses grupos que a senhora qualifica como máfias?


Nós temos uma empresa que lucra com a lagoa suja. Os contratos feitos com essa empresa, a gente mostrou e denunciou, estão matando e assoreando a Lagoa da Pampulha. Então vamos fazer um novo contrato com uma nova empresa e dar espaço para nossos técnicos atuarem de forma mais eficaz. Porque todo ano é a mesma novela, milhões e milhões de dinheiro para despoluir a lagoa, mas a qualidade da água tem melhorado de forma tímida.

 


Mas a poluição da Lagoa da Pampulha não tem a ver com Contagem? Como resolver?


São Paulo, Niterói (RJ), Brasília e outras capitais e cidades do mundo já conseguiram despoluir rios e córregos em cenários complexos e parecidos com a Lagoa da Pampulha. (...) Mas todos os prefeitos jogam a culpa em Contagem e na Copasa (Companhia Estadual de Saneamento), mas então vamos sentar com a prefeita de Contagem (Marília Campos) e discutir um projeto para despoluição da Lagoa da Pampulha. (...) Vamos enfrentar o problema de frente porque a lagoa tem potencial ecoturístico ímpar. Somos a capital dos bares e restaurantes e dá para desenvolver lá um turismo gastronômico maravilhoso que gere emprego e renda para a cidade. (...) Então vamos tomar a lagoa, que é nossa, e chamar a Prefeitura de Contagem para discutir publicamente um plano de recuperação.

 

Candidata, outros prefeitos se elegeram prometendo abrir a caixa-preta do transporte e resolver essa questão, mas não houve avanços. Como resolver de fato?


Eu digo sempre, a cabeça pensa onde o pé pisa, então primeiro é importante ter o diagnóstico do transporte público de Belo Horizonte e não naturalizar o fato de termos o segundo pior trânsito do Brasil e um dos 50 piores do planeta. (...) Não é natural ter um trânsito caótico como este. E o que a prefeitura fez para enfrentar essa realidade? Piorou, porque nos últimos anos, de 2013 a 2023, a prefeitura cortou cerca de 64% do valor destinado a melhoria do transporte público e da mobilidade na cidade e, pior, destinou mais de R$1 bilhão de reais para as empresas de ônibus. Então, em vez de melhorar a infraestrutura urbana, melhorar a mobilidade, melhorar a qualidade da Lagoa da Pampulha, melhorar o salário dos professores, melhorar a estrutura da cidade, os nossos impostos estão indo para o bolso dos empresários (...) para a máfia do transporte público e o prefeito (Fuad Noman, candidato à reeleição) é conivente com isso. Então o primeiro passo é fazer um novo contrato que não priorize os empresários de ônibus e seja construído a partir do que a sociedade entende como prioridade. (...) Vamos chamar os melhores especialistas de trânsito e construir um novo contrato pensando em quem usa o transporte público e não em quem lucra com transporte público.(...) Sendo prefeita, vamos liderar um movimento, chamar os prefeitos de outras capitais, para forçar o governo federal a tirar do papel o sistema único de mobilidade urbana para que a União subsidie, passe recurso e pense também a mobilidade em diálogo com os prefeitos.

 

Para completar esse trio que a senhora citou, e que chamou de máfia, falta a questão do lixo?


Belo Horizonte recicla hoje 0,55% dos seus resíduos, mas se eu for prefeita vou triplicar e ainda vou ficar com vergonha porque o número é muito baixo. E por que se recicla pouco em Belo Horizonte? Porque essa máfia fez um contrato com a prefeitura (...) para que mandemos por dia cerca de duas mil toneladas de lixo para o aterro sanitário, só que Belo Horizonte gera, por dia, cerca de 1.800 toneladas lixo, ou seja, a gente gera menos do que é obrigado a mandar para o aterro, por isso não conseguimos ampliar a coleta seletiva nos bairros(...) e nem melhorar a estrutura do trabalho dos catadores e catadoras. Por isso fico com ódio desse cenário.

 

Nessas prioridades que a senhora destacou não apareceu o item saúde, reconhecidamente uma das principais mazelas da capital, como é que ela entra no seu programa de governo?


A saúde é e sempre será prioridade junto com a educação, até porque para a gente conseguir melhoria e mais recurso para a saúde, temos que antes resolver questões básicas como essas das máfias que estão sugando o dinheiro público. Cinquenta por cento do nosso IPTU está indo para o bolso dos empresários de ônibus tomar champanhe, dinheiro que poderia ser investido na melhoria da cidade. Infelizmente, temos hoje cerca de 30 mil pessoas na fila para cirurgias eletivas, não podemos naturalizar e tratar esse dado como um natural. Primeiro há que se fazer mutirões em Belo Horizonte e parcerias com hospitais privados, e trazer para a cidade a melhor tecnologia que tem disponível no mundo para zerar essa fila. E para fazer saúde de qualidade é preciso ter recurso e, muitas vezes, falta médico, porque ele vai para iniciativa privada, que paga mais. Nós temos que revisar o salário dos servidores para que a capital seja interessante para receber os médicos.

 

Candidata, a senhora aparece nas pesquisas com uma das maiores rejeições. A que atribui esse índice?


Se pegarmos 100% das eleições e os políticos que ganharam, as rejeições deles eram altas. A do presidente Lula, por exemplo, é altíssima. A do ex-presidente Jair Bolsonaro também era altíssima, porque é um processo corrente numa campanha eleitoral. Quanto mais a gente se expõe e fica mais conhecida, mais aumenta o processo de rejeição. No entanto, temos uma aprovação maior do que a rejeição e esse é o critério que penso ser fundamental. E vamos diminuir a rejeição. Tem um dado também que acho importante que é o preconceito também por eu ser uma pessoa trans. A direita, nas últimas eleições, buscou fazer uma caricatura sobre mim, me mostrando como uma pessoa intolerante, que só discute pautas identitárias e jogaram isso nas redes. Por isso esse processo eleitoral também é importante para diminuirmos isso. Vamos terminar com menos rejeição porque as pessoas vão entender que estamos discutindo saúde, educação moradia, temas fundamentais para cidade que nossa candidatura não é uma candidatura identitária, exclusivamente pautada em questões LGBT, pelo contrário. Nunca foi. (...) Não fui eleita para discutir se é obrigado ou obrigade. Não fui eleita para se discutir que banheiro vou usar. Fui eleita para discutir temas que são caros para a cidade, como o fato, por exemplo, de Belo Horizonte ser uma das cidades que têm maior desigualdade socioeconômica do país.

 

 

Candidata, depois de muita discussão o governador Romeu Zema (Novo) optou por indicar Luísa Barreto (Novo) como candidata a vice na chapa do candidato a prefeito, Mauro Tramonte (Podemos). Isso gerou um fato inusitado, que foi o apoio do ex-prefeito Alexandre Kalil, adversário de Zema, à chapa. Qual sua avaliação?


As verdades absolutas estão cristalizadas no ditado popular “antes só do que mal acompanhada”. A política anda muito mal no Brasil por causa de costuras bizarras como esta. Você une setores da esquerda, da direita, centrão, uma igreja, e uma outra estrutura de poder para disputar, exclusivamente, um espaço de poder e não um projeto de cidade. Porque se somos de campo ideológicos distintos, temos visões diferentes da sociedade. Mesmo que a lógica política seja a busca do consenso, há limites. O que está sendo discutido na candidatura do Mauro Tramonte é fatiar a prefeitura de Belo Horizonte, o que é um dos principais problemas da gestão Fuad Noman. Ele dividiu, fatiou, literalmente vendeu partes da prefeitura. (...) O Tramonte nem foi eleito e já está loteando a Prefeitura de Belo Horizonte, então ele mantém o erro da atual gestão.

 

Com sua chapa solo a senhora ficou com pouco tempo no horário eleitoral gratuito e já anunciou que não fará uma campanha com santinhos que, mesmo com o avanço das redes, ainda é um meio de comunicação com o eleitor. Como a senhora vai driblar isso tudo para garantir sua ida ao segundo turno?


Eu estou em segundo lugar sem precisar de nenhum santinho, nenhum papel, sem sujar a cidade. (...) Fui eleita, com recorde de votos, deputada federal em Minas Gerais pelos 853 municípios sem nenhum papel e estou em segundo lugar nas pesquisas sem imprimir nenhum papel. É tolo quem acha que o papel vai fazer a pessoa votar nela. O que vai fazer a pessoa votar nela é a trajetória que ela tem na cidade, é o diálogo com o povo, as entregas para a cidade, e nós temos essa trajetória.

Tem ainda uma questão importante de programa de governo que é a questão do emprego, obviamente uma discussão econômica nacional, mas em que é possível uma interferência do prefeito?


Belo Horizonte é a capital mundial dos bares e restaurantes e temos que potencializar o nosso turismo gastronômico e a economia criativa para gerar empregos. (...) A nossa culinária é maravilhosa, o que falta é justamente potencializar o turismo gastronômico. Temos cerca de 10 mil bares e restaurantes que geram cerca de 60 mil empregos diretos. Potencializando o turismo gastronômico, a gente consegue ampliar os postos de emprego. Eu estive ano passado em Bruxelas, na Bélgica. Fui convidada pela ONU para palestrar sobre a educação no Parlamento europeu e vi filas de pessoas para comer o chocolate belga. Se eu for eleita prefeita de Belo Horizonte, vai ter fila aqui para experimentar o nosso pastel da galeria do ouvidor, vai ter fila de estrangeiro para ir no mercado central tomar a melhor limonada, vai ter fila para experimentar o nosso catuaçaí, que é um patrimônio do carnaval de BH. Isso é importante para gerar emprego e renda. Além dessas, há questões estruturais, além de valorizar a economia criativa. Belo Horizonte tem cerca de 20 imóveis abandonados para cada pessoa situação de rua, vamos transformar em moradia popular para reduzir essas demandas, mas, além disso, nesses imóveis abandonados, a prefeitura pode fazer parceria com grandes empresas para trazer investimento para cá. (Vamos) entrar na briga, já no dia primeiro de janeiro, para que Belo Horizonte seja sede dos Jogos Panamericanos, para trazer a estrutura, trazer investimento internacional, para gerar emprego e renda.