"Nas próximas eleições, nós temos que derrotar o bolsonarismo, porque eu acho que isso foi uma praga que aconteceu no Brasil e que não pode voltar", disse Rogerio Correia em sabatina com o Estado de Minas

 -  (crédito: Jair Amaral/EM/D.A Press)

"Nas próximas eleições, nós temos que derrotar o bolsonarismo, porque eu acho que isso foi uma praga que aconteceu no Brasil e que não pode voltar", disse Rogerio Correia em sabatina com o Estado de Minas

crédito: Jair Amaral/EM/D.A Press

O deputado federal Rogério Correia, candidato à Prefeitura de Belo Horizonte pelo PT, afirmou que quer ser eleito para “cuidar da vida das pessoas”, elencou o trânsito como o principal problema da capital mineira, e disse que é preciso fazer o debate sobre o que significa eleger um prefeito alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Acho que sempre seria um desastre. Ficar xingando o presidente Lula e falando de coisas esquisitas, estratosféricas, nós não precisamos de um prefeito desse”, disse.

 

Em entrevista ao Estado de Minas e Portal UAI, ontem, o candidato detalhou seus projetos para a cidade. Ele afirma que um de seus primeiros atos de governo será criar uma comissão para fazer um novo contrato com as empresas de ônibus e mandar um projeto de lei (PL) para a Câmara Municipal criando um programa de transferência de renda para os idosos.

 

O parlamentar também comentou suas propostas para Saúde e Educação e atrelou um projeto de privatizações ao candidato Mauro Tramonte (Republicanos), apoiado pelo governador Romeu Zema (Novo). “Nós precisamos da prefeitura presente na vida das pessoas e não sair privatizando as coisas”, frisou. Disputando votos na esquerda com a deputada federal Duda Salabert (PDT), o parlamentar ainda aposta na militância petista e na experiência para chegar ao segundo turno. “Eu tenho muita certeza que a gente tem mais condições de estar no segundo turno”, declarou.

 

 

Por que o senhor decidiu se candidatar para ser o próximo prefeito de Belo Horizonte?

 

Eu quero ser prefeito para cuidar das pessoas, do dia a dia das pessoas. Fui vereador por 10 anos, deputado estadual, deputado federal. Já fui gestor no segundo governo do presidente Lula. Fui fundador do Sind-UTE (Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais). A gente vê uma mãe, por exemplo, que vai levar o seu filho para a creche e ela não pode arrumar um emprego porque às 11h30, 12h tem que pegar a criança. Nós vamos garantir que essa mãe tenha o direito de colocar essa criança em tempo integral. Então de 0 a 3 anos, toda criança em Belo Horizonte terá creche e pré-escola em tempo integral. A gente vê pessoas em filas na saúde, principalmente para exames e consultas especializadas. Nós vamos cuidar disso, vamos fazer convênio com hospitais especializados que atendam o SUS (Sistema Único de Saúde) para diminuir essa fila. Vamos contratar mais médicos e equipes da saúde, enfim, eu quero cuidar desse dia a dia. Quero cuidar da Lagoa do Pampulha, para que ela possa em 2028 já estar despoluída e existe plano concreto para isso. Quero cuidar da Serra do Curral, tirar de lá as mineradoras e colocar um grande parque nacional que nós estamos discutindo com a ministra Marina Silva. Quero ser prefeito para cuidar das pessoas.

 

O senhor falou sobre uma série de problemas que Belo Horizonte tem hoje, mas qual você diria que é o principal problema da cidade?

 

O principal problema é o trânsito. Nós temos 2 milhões 600 mil carros. É mais carro do que gente. Por que as pessoas andam tanto de carro? Porque o ônibus está uma porcaria. Uma medida que nós vamos ter que fazer é exatamente refazer os contratos que existem com as empresas de ônibus. Eu não vou esperar até 2028. Nós queremos fazer esse contrato antes para que a gente tenha uma nova relação com essas empresas para que elas coloquem o quadro de horário, número de ônibus, tipo de ônibus. Tudo isso sob controle da prefeitura e não da própria empresa. Então nós vamos fazer mudanças nessa parte que é um dos principais gargalos da mobilidade urbana.

 

Qual seria o seu primeiro ato caso seja eleito?

 

O primeiro deles é exatamente isso, vou assinar uma portaria e nomear uma comissão com os empresários de ônibus, mas também os usuários, equipe da prefeitura e técnicos, para a gente refazer o contrato. Em seis meses essa equipe trabalha em um novo contrato e nós vamos negociar com as empresas. Se for necessário, vamos até a justiça, mas esse contrato não pode permanecer. A segunda questão que eu vou fazer é assinar um projeto de lei, que vamos enviar para a Câmara logo no primeiro dia, criando o 'Pró-Idoso'. Ele passa por uma renda mensal para o idoso, porque o dinheiro dele muitas vezes sustenta a família. Para se ter uma ideia, 53% dos idosos em Belo Horizonte arcam com mais da metade da renda familiar na despesa da casa. Então nós vamos criar, para os que precisam, uma renda para o idoso. Mas principalmente (criar) um local onde os idosos possam ser cuidados. Nós vamos cuidar de quem cuida, de quem já cuidou.

 

Sempre que se fala em benefício social, se fala também de responsabilidade fiscal, e a cidade vem de dois anos com déficit no orçamento. Como é que o senhor resolveria as contas públicas da cidade?

 

O que a cidade arrecada, em torno de R$ 20 bilhões anualmente, é suficiente para isso. Agora, eu vou fazer muita parceria com o governo federal. Ser o candidato do Lula não é apenas para aproveitar a votação que o presidente tem em BH, mas é exatamente para trazer programas sociais que existem no governo federal e podem nos ajudar. Do governo Lula eu quero, por exemplo, obras de infraestrutura, que são recursos maiores e que não podem sair das contas do município, mas você traz isso através do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). O presidente Lula mandou agora obras para o Izidora, mandou também para o Ribeirão do Onça, grandes quantidades de recursos. O PAC já chegou aqui com o 'Minha Casa, Minha Vida', com muito recurso. Ontem, o ministro Wellington Dias (Desenvolvimento Social e Combate à Fome) estava me dizendo que tem muito recurso do governo federal que pode vir para cá e você aproveita dentro do programa Bolsa Família, Pé de Meia, programa de combate à fome, pessoas que estão em situação de rua. Como eu conheço bem a estrutura do governo federal e o presidente Lula, sou vice-líder dele, isso vai facilitar para que a gente possa fazer esse programa sem onerar os recursos da prefeitura. Nós temos o que temos, então vamos gastar no limite do que é arrecadado.

 

 

O senhor foi um dos principais defensores do fechamento do aeroporto Carlos Prates. Caso seja eleito, como é que o senhor pretende avançar nessa questão? Ali vai ser para moradia mesmo ou o projeto vai contemplar outras questões?

 

Quando nós solicitamos que o aeroporto transferisse as suas operações para outros locais, foi muito incompreendido por um pequeno setor que fazia lobby ali. O aeroporto estava ali numa hora que não precisava dele mais. O que o governo Zema e o governo Bolsonaro queriam fazer? Entregar o terreno para a especulação imobiliária e eles já estavam para fazer o leilão. Nós fizemos um contraponto e solicitamos ao presidente Lula que o terreno fosse doado para a prefeitura para ser uma área de interesse social. É nisso que a área está se transformando. O que nós vamos fazer ali? Já tem uma área do parque, que a prefeitura inclusive está fazendo as obras, demoradas, mas está fazendo. Nós já temos a área destinada para criar uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento). Um posto de saúde, uma escola de educação infantil e uma escola no ensino fundamental. Na área que ainda não foi doada, é exatamente essa a discussão que nós vamos fazer com o governo federal. A minha ideia é um grande parque, muita área verde. Moradia também, mas o central ali é a área de cultura e lazer.

 

Como é que vai ficar a mobilidade ali? É um lugar complicado.

 

Uma obra que certamente nós vamos precisar fazer é a da trincheira na chegada da praça São José. Aliás, é uma obra de orçamento participativo que nunca foi feita. Tem a duplicação do viaduto, que aí depende do anel. Esse recurso do anel e da duplicação nós estamos vendo no PAC com o presidente Lula. Você tem obras viárias que podem ser feitas ali com toda certeza.

 

Um dos grandes problemas da cidade é a população em situação de rua. Aquela área do aeroporto dá para sanar o déficit habitacional? O que mais precisa ser feito na cidade?

 

O déficit habitacional nós vamos ter que fazer também em prédios no centro da cidade. Ali na Rua Caetés, onde era o INSS, nós já colocamos 53 famílias, ali serve de exemplo. Tem várias outras (áreas) no mesmo programa do aeroporto Carlos Prates, onde a união transfere para objetivos sociais os seus Imóveis. Eu cito, por exemplo, o prédio da faculdade de engenharia no centro da cidade, ali pode ter a construção de habitações populares. Outras áreas que podem ser disponibilizadas são da prefeitura e podem ser moradias por meio do 'Minha Casa, Minha Vida', outro programa que também tem muito recurso do governo federal. Você tem que oferecer primeiro a moradia. O que é essa moradia? Pode ser uma bolsa aluguel, não com esse recurso escasso que a prefeitura dá. Mas como o governo Lula colocou R$ 1 bilhão no programa Ruas Visíveis, nós vamos fazer o convênio, trazer recursos e montar equipes com assistente social, psicólogo, garantir o acesso à saúde, educação. Acesso ao ensino para que ele possa aprender alguma profissão e ter no futuro uma carteira assinada.

 

A questão do desemprego não é de responsabilidade direta do prefeito de uma cidade, uma questão nacional, mas ele pode contribuir para a geração de empregos. O seu programa tem alguma previsão para essa área?

 

Tem e muito. Eu acredito no que o ministro (Fernando) Haddad e o presidente Lula estão fazendo hoje. Eu saí de casa e li uma manchete do jornal que o mercado já fala em crescimento de 2,43%, o mercado falava em menos de 1%. O Brasil vai crescer. Não é um crescimento apenas esse ano, é um crescimento permanente. O ministro Haddad tem colocado isso, e com a reforma tributária que nós aprovamos, vamos provar agora a regulamentação dela, nós vamos ter esse crescimento no Brasil. Precisa de um prefeito que aposte nisso em Belo Horizonte, aposte no crescimento. Tem que ter uma liderança política, conversar com os empresários, ver o que traz para cá, principalmente na área de serviço e comércio. Quando fizermos o Parque Nacional da Serra do Curral, nós vamos transformar Belo Horizonte. Você vai ver uma área de turismo muito grande, vai trazer efervescência pra hotéis, alimentar a geração de emprego e renda. Nós vamos precisar de pessoas especializadas. Por isso eu batalhei tanto, e nós conseguimos levar um Instituto Federal para o Barreiro. O prefeito queria levar para o Buritis. Eu falei o que vai fazer um Instituto Federal no Buritis? Ali sim, já é muito adensado, você imagina mais 4 mil alunos naquela região. Nós levamos para o Barreiro, porque você vai tem vizinhança Contagem, Betim, são áreas industriais. Então nós vamos direcionar o crescimento.

 

O senhor é o candidato do presidente Lula, mas ele ainda não apareceu muito na sua campanha. Quando é que o senhor pretende trazer o presidente?

 

Provavelmente no dia 14. Essa é a data que eu pedi ao presidente, ele está examinando essa data. Ele virá para um comício. Estamos também gravando o programa de televisão. O presidente está firme comigo e muito entusiasmado. Assim como eu, ele também acha que nós vamos ganhar em Belo Horizonte. É importante ganhar em Belo Horizonte, porque quem ganha em Belo Horizonte tem passe para ganhar em Minas Gerais, e o presidente sabe disso. Nas próximas eleições, nós temos que derrotar o bolsonarismo, porque eu acho que isso foi uma praga que aconteceu no Brasil e que não pode voltar, e o presidente Lula vai ser candidato à reeleição. As coisas estão ficando mais claras pra dizer a verdade. O (Bruno) Engler é o candidato do Bolsonaro, ele não esconde isso. Então nós vamos fazer um debate também sobre o que significa um prefeito bolsonarista em Belo Horizonte? Acho que sempre seria um desastre. Ficar xingando o presidente Lula e falando de coisas esquisitas, estratosféricas, nós não precisamos de um prefeito desse. O Tramonte virou o candidato do (Romeu) Zema. Ele já começou a falar na saúde em privatizar, entregar para OSC (Organizações da Sociedade Civil), nós temos que saber se nós queremos em Belo Horizonte privatização ou melhorar os serviços públicos, que é a minha meta. Melhorar inclusive do ponto de vista dos meus colegas professores falar, pagar o piso salarial nacional para os professores. Nós precisamos da prefeitura presente na vida das pessoas e não sair privatizando as coisas.

 

É nisso que o senhor aposta? Porque no momento as pesquisas ainda o colocam numa posição intermediária, em empate técnico na segunda posição.

 

Essa é uma delas, mais o programa e também a nossa militância. Nós fizemos uma aliança muito ampla, pela primeira vez PT, PV, PCdoB, Psol, Rede e PCB. É uma aliança muito grande, nós vamos ter tempo de televisão, a direção nacional do PT tem apostado na gente. Nós vamos ter condições de fazer uma boa campanha, sem gastos extraordinários, com capacidade de chegar na cidade inteira.

 

Nessa aliança faltou a Duda Salabert?

 

A Duda não quis vir, ela preferiu ir sozinha. Ela tem todo o meu respeito pela decisão dela. O presidente Lula me pediu: 'unifique o máximo que você puder do nosso campo de governo no primeiro ou no segundo turno'. No segundo turno tenho certeza que a Duda virá comigo. Eu tenho muita certeza que pelas condições nossas e da militância a gente tem mais condições de estar no segundo turno. A militância é muito importante, eu acho que política nunca se pode fazer sozinho. A gente viu experiências muito desagradáveis no Brasil de quem achava que podia ser 'outsider, aí eu sou sozinho, eu vou sozinho'. Não estou dizendo que a Duda é isso. Hoje o pessoal quer quem tenha experiência, quem tem condições de fazer uma gestão que vai dar resultado. Fui vereador, participei da Lei Orgânica. Eu fiz uma trajetória política que me levou a Brasília, Minas Gerais, agora eu estou retornando para um pleito mais belo-horizontino, que é a prefeitura, com muito acúmulo de experiência.

 

O senhor falou dessa articulação com o governo Lula, mas uma das articulações importantes de uma prefeitura é com o governo do estado. Como é que você pretende estabelecer esse diálogo com o governador Zema?

 

Eu espero que Zema possa ajudar BH. O Kalil dizia que o Zema não ajudou nada, agora estão juntos, vai entender. Acho estranho porque o Tramonte é o candidato do Zema, vice dele é que anda para cima e para baixo falando em privatizações. O que o Kalil está fazendo lá eu não sei. Mas o próprio Kalil falava que Zema não ajudou nada em Belo Horizonte. Eu nunca vi o Fuad dizer que o Zema ajudou. O que eu vou fazer é uma boa relação com o governador, mas vou solicitar que se respeite a prefeitura de Belo Horizonte. Não é chegar aqui na véspera de carnaval e falar 'o carnaval é meu', por causa de algum recurso. Belo Horizonte vai ter prefeito, liderança política. Belo Horizonte é uma cidade respeitada no Brasil e no mundo, muito querida. Nós vamos colocar BH na altura que ela precisa, com o diálogo com o governador, com respeito porque ele é o governador do Estado. Mas nós vamos também exigir respeito.

 

O senhor tem colocado Tramonte como o candidato de Zema. Mas essa marca ajuda ou atrapalha? Porque o Zema foi muito bem votado nas duas eleições.

 

Os que acharem que Zema mereceria governar Belo Horizonte, com certeza vão pensar isso em relação ao Tramonte. Mas que tenham cuidado, porque a vice não conseguiu tomar conta do elevador na Cidade Administrativa. Então tem que ter cuidado com essas privatizações, porque elas não resolvem o problema do povo. Não é possível governar Belo Horizonte sem reforçar o SUS, não é possível governar Belo Horizonte sem reforçar as escolas públicas, colocando escolas de qualidade para atender as pessoas. Se você delegar ao setor privado, você não terá a prestação de serviço público, isso nosso povo já tá entendendo e sabendo. Olha o metrô, vamos fazer até o Barreiro, já foi enviado recurso público, agora nós vamos ficar de olho na empresa privada. Ela não pode atrasar o processo das obras do metrô, que tem R$ 3,2 bilhões lá. E vamos ter cuidado para que eles não continuem aumentando o preço da passagem no metrô, como estão fazendo. Quando acabou o subsídio do governo federal, a passagem era R$ 1,80 passou para R$ 5,50, olha o quanto aumentou a passagem quando se privatiza.