"A falta de médicos é um grande problema em BH. Cansei de ver mães chegando de madrugada com crianças no colo e não tendo pediatra para atendê-las"

crédito: JAIR AMARAL/EM/D.A PRESS

Um mandato ativo nas ruas e sem indicações políticas para as secretarias. Foi assim que o candidato à Prefeitura de Belo Horizonte, Mauro Tramonte (Republicanos), descreveu como será sua atuação caso seja eleito prefeito da capital mineira.

 

“Eu quero que trabalhem. Meu secretariado vai ter que estar na rua, atuando. Não pode ficar em gabinete só esperando as coisas acontecerem. Quem andar e trabalhar comigo vai ter que se esforçar, como eu estou fazendo. Estou circulando por todos os lados e vou continuar assim. O prefeito não pode ficar sentado atrás de uma mesa, esperando as coisas acontecerem”, afirmou.

 

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Durante a sabatina do Estado de Minas e Portal UAI, realizada ontem, o candidato detalhou seus projetos para a cidade. Entre as prioridades estão a saúde de BH, que, segundo ele, está carente de mais médicos, a segurança, e também o cuidado com os profissionais da saúde. O parlamentar, que atualmente ocupa uma cadeira na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), também falou sobre propostas para a segurança pública e mobilidade urbana. Entre elas, destacam-se uma guarda municipal mais bem equipada e o uso de tecnologia para auxiliar no grande movimento das vias.

 

 

Por que o senhor decidiu ser candidato a prefeito de Belo Horizonte?
Porque precisamos mudar Belo Horizonte. Precisamos tirar a cidade da situação de esquecimento e abandono em que se encontra hoje. Precisamos garantir um atendimento humano na saúde, para que as pessoas não fiquem esperando oito, dez, doze horas em uma UPA. Precisamos fazer com que o trânsito em Belo Horizonte proporcione tranquilidade às pessoas, em vez de estressá-las. Precisamos garantir que o transporte coletivo seja digno do valor que se cobra e muitas outras coisas. Por isso quero ser prefeito de Belo Horizonte, porque estou preparado, estudei a cidade e sei que podemos mudar muita coisa na nossa capital.

 

O senhor tem se destacado nas pesquisas desde 2014. Por que aceitou o convite de se candidatar agora, em 2024?
O nosso nome aparece mesmo desde 2014 nas pesquisas, mesmo sem eu declarar em nenhum momento que seria candidato. Eu sempre disse que, se o partido confiasse em mim e estivesse ao meu lado, eu aceitaria a candidatura. Mas também precisaria estar preparado, estudado e com um bom plano a ser apresentado. Quando foi no início de 2024, tivemos muitas conversas com vários partidos. Consultei minha família, que é o mais importante, para ver se estariam de acordo. Conversei com pessoas que realmente entendem Belo Horizonte e comecei a apresentar propostas. Aí, eu disse: “Olha, vou me candidatar, porque agora é a minha hora, é a hora de BH mudar”. Falei com meu partido, reunimos as pessoas comprometidas em melhorar a cidade e decidi me candidatar. Agora estou preparado.

 

A Belo Horizonte que vemos na TV é muito diferente da realidade? O que tem descoberto nessa jornada?
Temos duas Belo Horizonte: uma, a da televisão, bonita e bem-apresentada, e a outra, a Belo Horizonte real. Essa outra BH é muito pouco conhecida, mas eu a conheço. Andei e ando pelas vilas, favelas e comunidades, e essa cidade não aparece. É muito diferente da que se vê na televisão. Então, é dessa forma que quero cuidar.

 

Na sua opinião, qual é a principal mazela da cidade? O que considera que deve ser o primeiro ponto a ser atacado?
A falta de médicos é um grande problema em BH. Cansei de ver mães chegando de madrugada com crianças no colo e não tendo pediatra para atendê-las. Pessoas levando seus pais e mães e esperando oito, dez horas em uma fila, isso é inadmissível. A falta de médicos é algo gritante e realmente machuca quem é humano, machuca o ser humano.

 

Como pretende resolver isso?
Pretendemos fazer convênios com cooperativas médicas. Nossa proposta também inclui parcerias com faculdades de medicina. Precisamos encontrar médicos de qualquer jeito. Já foi a uma UPA? Dá uma olhada na situação. O estresse é enorme. As pessoas precisam de atendimento e não conseguem ser atendidas.

 

Vamos falar sobre a questão do trânsito? O que o senhor tem pensado para a mobilidade?
Olha, fui o único candidato que visitou o Google em São Paulo. Fui a uma feira internacional de mobilidade urbana. Recebi informações surpreendentes sobre ferramentas de última geração, como o Google Maps e o Waze, para o gerenciamento de trânsito. Eles me mostraram um projeto lindo, maravilhoso. Eu perguntei: "Isso já existe em Belo Horizonte?" Não, não existe. Mas por que não há gestão de trânsito com inteligência artificial em Belo Horizonte? Não sei, ninguém procurou.

 

Mas isso já existe em outras cidades?
Sim, em mais de 70 cidades. E funciona. E me mostraram como funciona. Perguntei quanto tempo levaria para instalar isso em Belo Horizonte. Disseram que dois a três meses. Temos condições de fazer isso para melhorar o trânsito. Temos inúmeros projetos.

 

Candidato, vamos falar um pouco sobre suas alianças. O senhor fez uma aliança com o governador Romeu Zema e com o ex-prefeito de BH Alexandre Kalil. Como o senhor pretende resolver essa dificuldade de diálogo entre os dois, caso seja eleito? E quem vai indicar as secretarias, Zema ou Kalil?
Não será nenhum dos dois. Quem vai indicar sou eu. Eu que vou indicar meus secretários. Vou escolher o secretariado mais técnico que já houve na Prefeitura de Belo Horizonte. Claro que precisamos dos cargos políticos. Precisamos conversar com ministérios, com a Câmara Federal, com a Assembleia Legislativa, até com o presidente da República. Precisamos da parte política, mas também teremos a parte técnica. Quero deixar claro o seguinte: o Kalil não me pediu nada. O Kalil não pediu nenhuma secretaria.

 

Mas o governador pediu?
Não, nunca pediu. O governador de estado, estive com ele na sexta-feira, almocei com ele, e ele nunca me pediu nada. Nunca pediu uma secretaria. Sabe o que ele pediu? Que eu cuidasse do povo de Belo Horizonte. O Kalil pediu a mesma coisa.

 

Então, o senhor não é contra as indicações políticas, desde que sejam técnicas.
Depende muito. Quero que essas indicações sejam pontuais. Não adianta você me dar um técnico médico para colocar na Secretaria de Saúde. Você entendeu? Quero um técnico que entenda do assunto e tenha um bom currículo. E mais, que trabalhe. Quero que meu secretariado esteja na rua trabalhando. Não deve ficar apenas em gabinete esperando as coisas acontecerem. Quem trabalhar comigo vai ter que trabalhar como eu estou fazendo. Estou andando por todos os lados e vou continuar assim. O prefeito não pode ficar sentado atrás de uma mesa esperando as coisas acontecerem. Ele tem que andar, fiscalizar, ir atrás, ver o que está acontecendo na sociedade. Não pode apenas delegar poderes.

 

Ainda falando sobre Kalil, como o senhor avalia a gestão dele à frente da PBH? O que pretende mudar e o que pretende continuar fazendo?
Veja bem, a gestão dele já passou, né? Internet em vilas e favelas foi o Kalil que fez. Bacia de contenção de enchentes foi o Kalil que fez. O hospital do Barreiro foi o Kalil que entregou. A UPA do bairro Primeiro de Maio foi o Kalil que fez. Então, ele teve uma boa gestão, sim. Mas, como em toda administração pública, temos problemas que não foram resolvidos. Por exemplo, a situação das escolas. O Kalil começou uma reforma nas escolas, mas não conseguiu terminar todas. Então, pretendemos dar continuidade a essas reformas. Outro ponto é a questão da saúde. O Kalil fez muito, mas ainda temos muito a melhorar. Precisamos aumentar o número de médicos, principalmente pediatras, como já falei. Também precisamos investir em tecnologia na saúde, como a telemedicina, para desafogar as UPAs. E, claro, a questão da mobilidade urbana. O trânsito em Belo Horizonte precisa ser modernizado.

 

 

Candidato, o senhor está no segundo mandato de deputado estadual e, nesse período, manteve o programa na televisão. Caso seja eleito prefeito, o senhor deixa a televisão ou é compatível?
Eu deixo a televisão. E eu queria deixar claro o seguinte. Estou ainda deputado. Somos deputados até o final do mandato ou até janeiro. Mas, voltar para a televisão, se a gente for para a prefeitura, não tem jeito.

 

Sobre a questão da mineração na Serra do Curral? O senhor não vai permitir?
De jeito nenhum. Eu sou o autor do tombamento da Serra do Curral. Aquilo lá não é só um cartão-postal. Isso é muito mais que isso. Aquilo ali é vida. Aquilo ali faz parte da vida do cidadão. Você não pode mexer. Mas, quanto a isso, o governador já está se mobilizando.

 

Como o prefeito pode interferir na segurança pública?
Pode interferir muito bem. Com um diálogo aberto com o governo do estado, podemos solicitar melhorias na segurança pública para a nossa capital. Nos últimos quatro anos, contratamos 500 guardas municipais. Vamos reforçar a Patrulha Escolar, que atualmente necessita de um apoio especial. Também vamos fortalecer a Patrulha de Proteção à Mulher, no âmbito da Lei Maria da Penha, pois hoje, impressionantemente, contamos com apenas oito guardas municipais para cobrir nove regionais. É inacreditável, não é? Além disso, vamos criar o patrulhamento de proteção ao comércio. Faremos levantamentos para identificar as áreas com maior incidência de furtos e roubos, e destacaremos guardas municipais nesses locais.

 

Então, o senhor vai mexer na atribuição da Guarda Municipal? Isso já está previsto?
Não é apenas criar um novo braço; precisamos de um grupamento dentro da guarda.

 

Não precisa mexer nas atribuições?
Não, não na estrutura toda. Mas, na verdade, precisamos, sim, reorganizar completamente a Guarda Municipal. Porque há problemas internos lá. Quando chegarmos, vamos fazer uma remodelagem completa da Guarda Municipal. Quero esse pessoal nas ruas, a pé. Quero que o guarda municipal conheça o comerciante, o vendedor, que ele conheça o meio em que está atuando para proporcionar mais segurança. E, claro, a Guarda Municipal deve ser independente, mas muito conectada às outras forças de segurança. Conversei com o governador, e ele disse: "Vamos aproximar mais a segurança pública de BH com as forças que a Guarda Municipal."

 

Quando o senhor fala da Guarda Municipal, está falando de uma guarda armada ou não? Porque isso tem sido uma discussão nesta eleição.
Veja bem, te pergunto: eles dizem que a guarda deve cuidar do patrimônio. Qual é o maior patrimônio de uma cidade? É o cidadão, é o povo. E ele precisa estar em uma situação de segurança, para poder garantir segurança aos outros, não é? A Guarda Municipal vai continuar como está, mas com melhorias. Eu vou melhorar a Guarda Municipal.

 

Candidato, falando sobre moradia, temos discutido bastante a mudança de moradias populares para o centro da cidade. Existem prédios abandonados ali. O senhor é a favor dessa proposta?
A situação dos moradores de rua é preocupante. Precisamos agir com humanidade. O que falta é integração e responsabilidade. Precisamos que as secretarias trabalhem juntas em uma força-tarefa para resolver o problema dessas pessoas. Não é um problema só da prefeitura, precisamos envolver o estado e a União, se necessário, para ajudar. Essas pessoas precisam de uma solução, não podem ser deixadas à própria sorte. Precisamos criar um ponto de triagem para entender de onde vêm, por que estão aqui e qual é o problema. Muitos têm famílias. É uma situação muito difícil, e precisamos dar um encaminhamento digno a essas pessoas.

 

Vamos falar de educação, que é um tema importantíssimo. O que o senhor está planejando para a área de educação?
Olha, ontem eu conversei com uma vereadora, minha vereadora aqui, e ela me disse que nem a prefeitura sabe ao certo o número de alunos que tem. A cada hora informam um número diferente. Isso é uma coisa triste.

 

E o cadastramento?
Pois é, eu quero entender isso. Foi o que ela me falou, e ela sabe do que está falando, é vereadora, está no mandato. Então, por exemplo, queremos criar mais vagas em creches, porque as mães e os pais precisam trabalhar. Nossa intenção é melhorar isso, fortalecer a merenda escolar, exigir uma merenda de qualidade, como diziam antes: salsicha não é carne, certo? Além disso, precisamos fortalecer os professores, melhorar as condições de trabalho, porque muitos estão adoecendo de tanto trabalhar. Há vários aspectos na educação que precisam de atenção. Precisamos melhorar a educação.

 

O número de escolas em BH é suficiente?
Eu acho que precisamos de mais escolas, e, consequentemente, de mais servidores. Vamos estudar isso. Quando eu assumir, vou chamar o secretário de Fazenda e o secretário de Educação para discutir o que podemos fazer. Vamos buscar recursos. Se há recursos disponíveis, vamos fazer.

 

Muitos candidatos falam sobre a necessidade de mais escolas e saúde, mas de onde virão os recursos para isso?
Precisamos identificar onde há desperdício de dinheiro. Por exemplo, na época do Kalil, havia oitenta e poucos cargos em gabinetes na prefeitura; hoje, são mais de trezentos. Vamos começar a cortar aí. E também em outros lugares. A cidade cresce a cada dia, e se você não tiver a intenção de abrir novas escolas, como é que fica? A cidade cresce e traz novos problemas, também na saúde. Se eu dissesse que não vou abrir novas UPAs e centros de saúde, como seria? Precisamos acompanhar a evolução. Se for necessário abrir mais escolas, vamos fazer o possível para isso, contratando mais professores e melhorando a situação da educação para todos.

 

Cortar cargos de gabinete poderia ser um dos seus primeiros atos se assumir a prefeitura?
Com certeza. Um dos primeiros, sim. Quero cortar o desperdício. E não é só isso. O que for supérfluo ou desnecessário, será cortado. É por isso que estou formando um corpo técnico para trabalhar, não um corpo político. As informações que temos são oficiais, baseadas em documentos que recebemos.

 

Candidato, o senhor vem sendo muito criticado pelos concorrentes à Prefeitura de BH, inclusive recebendo apelidos, assim como sua vice. Como o senhor vê essas críticas, considerando que, como apresentador de TV, o senhor também criticava outros prefeitos?
Eu não comento declarações de outros candidatos. Não vou comentar. O que tenho que apresentar é o meu plano de governo, minhas propostas, minha vontade e determinação de trabalhar para o povo de Belo Horizonte. Não vou responder a críticas.

 

O senhor atribui essas críticas ao fato de ser líder nas pesquisas eleitorais?
Pode ser, mas eu não me importo tanto com pesquisas. Eu me importo mais com a esperança das pessoas. Essas pessoas que estão me colocando em primeiro lugar querem que suas esperanças sejam realizadas. E é isso que eu quero fazer, realizar a esperança do povo, dar voz e espaço para eles. Enquanto estão me apelidando e falando de mim, eu estou trabalhando. Não perco tempo com isso. Não vou responder a esse tipo de crítica, respondo com trabalho e propostas.

 

O senhor tem um bom relacionamento com o presidente Lula?
Eu não conheço o presidente Lula pessoalmente, nunca estive com ele, mas, se precisar, eu vou. Como prefeito, você precisa buscar apoio de todos os lados. Vou conversar com todo mundo. n