Minas Gerais tem pelo menos 56 candidatos LGBTQIAPN+ nas eleições municipais de 2024. Segundo um levantamento realizado pelo portal Vote LGBT+, desenvolvido pela Croma Consultoria, o Brasil possui 541 candidatos desse grupo, distribuídos por 25 partidos. 

 

Em Minas, as candidaturas estão divididas entre 14 partidos. Partido dos Trabalhadores (PT), com 17 candidatos, e Partido Socialismo e Liberdade (Psol), com 13, lideram no estado (confira o balanço abaixo). Os dados refletem a tendência nacional, em que o PT tem 155 pré-candidaturas e o Psol 129, sendo as legendas com a maior representatividade na comunidade para a disputa eleitoral deste ano.

 




O estado conta com candidaturas LGBTQIAPN+ em 30 cidades, sendo 12 delas em Belo Horizonte. Na capital mineira, Duda Salabert é a candidata do PDT à Prefeitura de Belo Horizonte, sendo a primeira trans a concorrer à prefeitura de uma capital, enquanto Bella Gonçalves, do Psol, será vice na chapa de Rogério Correia.

 

Na Região Metropolitana de BH são 11 candidaturas dos integrantes da comunidade. Existem ainda candidatos LGBTQIAPN+ em 11 regiões: Alto Paranaíba, Central, Centro-Oeste, Jequitinhonha, Noroeste, Norte, Vale do Rio Doce, Sul, Triângulo Mineiro, Zona da Mata, além de Belo Horizonte e Região Metropolitana. No cenário nacional, São Paulo é o município com mais candidatos da comunidade, totalizando 22 postulantes.

 

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Candidatos LGBTQIAPN+ por partido:

  • Avante: 1
  • Cidadania: 1
  • MDB: 1
  • Mobiliza: 1
  • PCdoB: 1
  • PDT: 5
  • PMB: 1
  • PSD: 3
  • PSB: 6
  • Psol: 13
  • PT: 17
  • PV: 1
  • Rede: 4
  • Solidariedade: 1


Representatividade

 

Muitos desses candidatos da comunidade LGBTQIAPN+ enfrentam ameaças, preconceitos e o machismo, o que dificulta a trajetória política. Em Belo Horizonte, por exemplo, a deputada federal Duda Salabert afirmou que fará a campanha eleitoral escoltada e usando colete à prova de bala.

 

Esse conservadorismo é visto especialmente em cidades menores, no interior do estado. O Estado de Minas conversou com alguns desses candidatos para as eleições municipais deste ano para discutir as dificuldades encontradas na busca por uma maior representatividade e a importância da eleição de representantes LGBTQIAPN+.

 

 

Candidatos LGBTQIAPN+ por cidade:

  • Bambuí: 1
  • Belo Horizonte: 12
  • Betim: 2
  • Claraval 1
  • Cachoeira da Prata: 1
  • Conselheiro Lafaiete: 1
  • Contagem: 2
  • Divinópolis: 2
  • Ipatinga: 2
  • Jequitinhonha: 1
  • Juiz de Fora: 3
  • Lavras: 1
  • Leopoldina: 1
  • Nova Lima: 2
  • Paracatu: 1
  • Patrocínio: 2
  • Pedro Leopoldo: 1
  • Pirapora: 1
  • Pompéu: 1
  • Ponte Nova: 1
  • Ribeirão das Neves: 2
  • Santa Bárbara do Tugúrio: 1
  • São João Del Rei: 2
  • São Lourenço: 1
  • Sete Lagoas: 1
  • Timóteo: 1
  • Uberaba: 3
  • Uberlândia: 3
  • Vespasiano: 2
  • Viçosa: 1

 

Com pouco mais de 3 mil habitantes, a cidade de Cachoeira da Prata, na Região Central de Minas Gerais, tem Bruno Soares, que se identifica como um homem gay, como candidato à Câmara Municipal. Esta é a segunda vez que ele disputa a eleição municipal, não tendo sido eleito no último pleito. Na primeira candidatura, Soares quase desistiu de levantar a bandeira LGBTQIAPN+ devido ao machismo e preconceito da região.

 


 

“Enfrentei o conservadorismo”, afirma. “Ouvi muita coisa, ainda ouço, mas não me deixo abalar. Infelizmente o radicalismo impede que alguns abram suas mentes e entendam, de fato, que a diversidade está em cada canto desse país. Eles precisam entender que não será diferente em Cachoeira da Prata.”

 

 

Apesar dos desafios, ele destaca a importância de construir políticas públicas para a comunidade. “É de extrema importância a busca de políticas públicas, a busca de representatividade perante o Poder Legislativo, na criação do Conselho Municipal de Políticas Públicas para a comunidade LGBT, isso tendo em vista que é uma cidade pequena e muito conservadora. É realmente um desafio”, pontua.

 

 

No Sul de Minas, Tiago Vieira, que também se identifica como um homem gay, é candidato pelo PDT em São Lourenço à câmara municipal e participa da disputa eleitoral pela primeira vez. Sem experiência anterior em cargos públicos, Vieira se define como "engajado politicamente". Sua motivação para a candidatura vem do desejo de ampliar a representatividade da comunidade LGBTQIAPN+ e da inspiração em parlamentares como a deputada federal Erika Hilton (Psol-SP) e Duda Salabert.

 

Engajamento político

 

“Seguindo como exemplo essas figuras, eu resolvi usar a minha voz, as minhas habilidades de comunicação para poder representar a minha comunidade neste ano no processo eleitoral. Apesar de ser a minha primeira vez, sempre fui uma pessoa engajada politicamente, tenho as minhas referências políticas e graças a elas eu me sinto hoje à vontade para poder representar a minha comunidade.”

 

"“Quem está na nossa pele, sabe como que essa falta de legitimação da nossa existência impacta nas nossas relações humanas”"
por Tiago Vieira (PDT), candidato a vereador em São Lourenço

Vieira, assim como Bruno Soares, enfrenta o conservadorismo e o machismo na região. Ele destaca que a comunidade em São Lourenço é invisibilizada, sem políticas públicas e sem espaço para diálogo. “A nossa comunidade é ignorada. Quem está na nossa pele, os membros da nossa comunidade, sabe como que essa falta de legitimação da nossa existência impacta nas nossas relações humanas”, afirma.

 


 

"Se a sociedade não compreende a gente como um coletivo, como um grupo que tem características, que tem demandas específicas na área de saúde, na área da educação, na área de cultura, se ela (a sociedade) não reconhece isso, se ela não visualiza isso, é impossível construir políticas públicas municipais voltadas para a nossa população", completa o candidato ao destacar a importância de ampliar a representatividade da população LGBTQIAPN+ nas eleições municipais.

 

Duda Othero, do Psol, é candidata à Câmara Municipal de Nova Lima, na região metropolitana. Esta também é a sua segunda tentando uma vaga no Legislativo. Identificando-se como uma mulher bissexual, Duda afirma que, devido ao seu longo relacionamento com um homem, ela enfrenta certa invisibilidade. “A letra B da sigla passa despercebida muitas vezes. A maioria das pessoas enxerga apenas dentro das caixinhas de lésbica, gay ou heterossexual, mas a vida é mais ampla que isso e existe um grupo de gente como eu, que se interessa mais pelo que a pessoa é, independentemente do gênero”, disse.

 

 

A candidata chama a atenção para a necessidade de ampliar a representatividade de todos os grupos, não só LGBTQIAPN+. “É importante ter a diversidade em vários aspectos e em todos os lugares. Se a gente mantém só homem hétero nos cargos de poder, vai ter sempre visão muito limitada das coisas, da vida”, crítica Duda, que também classifica a cidade como “conservadora”.

 

Luta por visibilidade

 

Em Ipatinga, no Vale do Rio Doce, a Pastora Rosângela, que se identifica como uma mulher lésbica, é candidata pelo PDT à Câmara Municipal. Com atuação em causas voltadas para minorias, Rosângela decidiu se candidatar após sua experiência no conselho municipal de saúde, onde percebeu o "descaso" com a comunidade.

 

"Aprendemos a deixar os outros fazerem políticas para nós. Só consegui ver a situação real estando lá dentro do conselho. As mulheres e os homens trans são os que mais sofrem", diz. "O que me fez ir para política é ver que a comunidade não tem atendimento humanizado na saúde, que ainda tem que ficar lutando pra ter o mínimo. Quero e vou trazer políticas públicas para o município.”

 

A Pastora Rosângela também ressalta o machismo e o conservadorismo como desafios significativos. Ela relata ter enfrentado preconceito por ser lésbica e pastora, principalmente em "uma cidade extremamente conservadora e religiosa", segundo ela. "Nunca houve uma pessoa LGBTQIAPN+ assumida no Legislativo ou Executivo devido ao medo de retaliação."


Diversidade e inclusão

 

Para Edmar Bulla, CEO do Grupo Croma, responsável pelo levantamento, o número de candidatos da comunidade LGBTQIAPN+ é um sinal positivo. "É importante também a gente ter a consciência de que só a comunidade LGBT+ consegue representar politicamente, de uma maneira muito mais eficaz, os anseios, as expectativas, as esperanças e as demandas desse público", disse. "É importante também a gente celebrar todas as candidaturas e as figuras públicas e políticas que antecederam esses quase 550 candidatos LGBT+, nas próximas eleições", completou.

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