Em um cenário de polarização nacional, a disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) apresenta hoje uma rejeição maior dos eleitores a candidatos apoiados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do que os que têm o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como aliado -  (crédito: Ricardo Stuckert/PR)

Em um cenário de polarização nacional, a disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) apresenta hoje uma rejeição maior dos eleitores a candidatos apoiados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do que os que têm o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como aliado

crédito: Ricardo Stuckert/PR

FOLHAPRESS - Cidade onde nasceu um governador e fez despontar para a política um futuro presidente da República, Batatais (a 350 km de São Paulo) terá nas eleições deste ano apenas um candidato à prefeitura. É o município mais populoso nessa situação no país.

 

O atual prefeito, Luis Fernando Benedini Gaspar Junior, 41, conhecido como Juninho Gaspar (PP), disputará a reeleição tendo como vice o médico Ricardinho Mele (Republicanos), que já ocupa o cargo atualmente. Segundo a prefeitura, é a primeira vez na história do município, de 185 anos, que isso acontece.

 

 

Eleito há quatro anos com 59,8% dos votos válidos numa disputa com outros três adversários, Juninho reuniu para a eleição deste ano uma coligação com 13 partidos, incluindo o PT do presidente Lula e o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro. Também o apoiam Republicanos, PC do B, PSDB e MDB, entre outros. Os dois únicos partidos de oposição, PSOL e PSB, lançaram apenas candidatos a vereador na cidade.

 

Juninho está na mesma situação de outros 213 candidatos no país, que não terão adversários nas disputas às prefeituras. Do total, 81% são prefeitos que disputam a reeleição e são, majoritariamente, masculinos (89%), brancos (74%), casados (72%) e com nível superior completo (57%). A maioria concorre pelo MDB (23%), seguido de PSD (16%) e PP (13%).

 

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Das 214 localidades com candidaturas únicas, 43 estão no Rio Grande do Sul, estado que enfrenta os reflexos da tragédia climática que devastou cidades inteiras.

 

Com pouco mais de 58 mil habitantes e, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), 42.018 eleitores, o município paulista é o maior entre os terão apenas um candidato à prefeitura neste ano.

 

"Me surpreendi com a falta de outros candidatos, mas acredito que isso é resultado do nosso trabalho e políticas públicas que estamos executando. Nosso slogan sempre foi governar para todos e mantemos um diálogo aberto na Câmara e também no estado respeitando a opinião de cada um", disse Juninho.

 

 

Vereador de 2009 a 2016, é formado em comunicação social (publicidade e propaganda) e em direito, com pós-graduação em direito, gestão pública e controle externo. Foi superintendente regional do Detran (Departamento Estadual de Trânsito) entre 2017 e 2018 e gerente regional da Ceagesp de Franca em 2019.

 

O cenário de candidatura única na cidade é criticado pelo oposicionista Fernando Ferreira, ex-prefeito pelo PT (2001-2004) e atual secretário de finanças do PSOL.

 

"Os partidos se juntaram por falta de ideologia e para conseguirem manter suas posições na Câmara. Optamos por não termos nenhum candidato a prefeito para chamar a atenção sobre isso. Eu poderia ter me lançado, mas teríamos pouco tempo de TV e rádio devido a essa aliança e é uma desvantagem muito grande", disse.

 

 

Na última eleição, Ferreira foi o quarto colocado, com 5,9% dos votos válidos.

 

O PSOL lançou 16 nomes para tentar uma das 15 vagas na Câmara. A cidade tem, no total, 172 candidatos a vereador.

 

Também ex-prefeito (1997-2000, 2005-2012 e 2017-2020), José Luis Romagnoli (PSB) disse que o partido passou por uma reorganização neste ano na cidade e não houve tempo para lançar um candidato a prefeito.

 

 

"Lançamos apenas candidatos a vereadores que vão fazer esse contraponto e levar à população o que realmente acontece na cidade", diz o ex-prefeito, que se filiou ao PSB neste ano e é o político que por mais tempo governou a cidade.

 

Batatais é um município que abrigou ou teve políticos nascidos nela que no passado tiveram forte representatividade no cenário nacional.

 

Já foi governada no final do século 19 pelo ex-presidente Washington Luís (1869-1957). Embora tenha nascido em Macaé (RJ), ele mudou-se para Batatais para se dedicar à advocacia no início dos anos 1890 e, quatro anos depois, foi o redator do Código de Posturas do município, à época polêmico por exigir a construção de calçadas nos imóveis, entre outras melhorias urbanas.

 

 

No ano seguinte, foi eleito vereador e, em 1897, tornou-se intendente (equivalente a prefeito atualmente). Depois foi eleito deputado estadual e seguiu na política até assumir a Presidência da República em 1926.

 

O ex-governador paulista Altino Arantes (1876-1965), que governou São Paulo de 1916 a 1920, é natural de Batatais, onde dá nome a um bairro local, e também inspirou o nome de Altinópolis, cidade vizinha.

 

Solteiro e sem filhos, Juninho não é o primeiro da família a exercer cargo político na cidade. Seu tio-avô Alberto Gaspar Gomes, médico, esteve à frente da prefeitura em dois mandatos (1952-1955 e 1960-1963).

 

 

"Não cheguei a conhecê-lo, mas as histórias dele sempre foram muito presentes na minha família", disse o atual prefeito.

 

Batatais é estância turística e tem como base da economia a agricultura -tem uma usina de açúcar e etanol. Entre as atrações turísticas estão o maior acervo de obras sacras do pintor Candido Portinari (1903-1962), com 23 telas expostas no Santuário do Senhor Bom Jesus da Cana Verde --entre elas "A Sagrada Família" e "Fuga para o Egito"--, o Carnaval (escolas de samba) e uma floresta estadual, além de cachoeiras.