Silveira: "O presidente Lula ganhou todas as eleições em Minas Gerais contra tudo e contra todos" -  (crédito: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

Silveira: "O presidente Lula ganhou todas as eleições em Minas Gerais contra tudo e contra todos"

crédito: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press

 

Após um ano e meio no comando do ministério de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD) comparou o desenvolvimento de Minas Gerais com outras unidades da Federação e concluiu que o estado está “muito aquém do que pode ser para o Brasil”. O titular da pasta no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi o convidado da vez no EM Minas desse sábado (21), programa da TV Alterosa em parceria com o Estado de Minas e Portal UAI.

 

 

Silveira criticou o que chamou de “falta de visão estratégica” do governo de Romeu Zema (Novo) e disse que o chefe do Executivo mineiro tem colocado projetos pessoais à frente das prioridades do estado. Em julho, o governador admitiu a possibilidade de concorrer ao Palácio do Planalto em 2026. “Acho que ele deveria cuidar de Minas e em um momento adequado falar em eleição”, exclamou Silveira.

 

O ministro também atribuiu ao governador o crescimento da dívida do estado com a União, avaliada em R$ 165 bilhões. É um governo que se bradava aliado do governo presidente anterior e ele não conseguiu avançar nessas negociações”, afirmou Alexandre Silveira, que ainda falou sobre transição energética, mineração, crise hídrica e eleições em Belo Horizonte.

 

Estamos enfrentando uma seca histórica e mais da metade da geração da nossa energia depende das hidrelétricas. Estamos correndo risco de apagão?
É a maior seca dos últimos 93 anos, ou seja, o menor índice pluviométrico dos últimos 93 anos. Primeiro, realmente o pulmão do setor elétrico ainda são os nossos lagos, que deixaram de ser apenas do setor elétrico. Alguns deles, como é o caso de Furnas aqui no nosso sudoeste, são multiuso, tem turismo, agricultura familiar, agronegócio. Nós temos que ter muita responsabilidade com a cota desses lagos, porque afeta diretamente as economias locais. Segundo, é importante fazer uma afirmativa aqui peremptória, clara e objetiva: nós não temos riscos de apagão, não temos risco de qualquer tipo de crise energética esse ano.

Mas isso não nos dá o direito de, em um setor tão estratégico e tão importante para o desenvolvimento nacional, e tão vital para todos nós, de não termos muito cuidado com o planejamento para o próximo ano. Como nós baixamos muito os índices dos nossos reservatórios, em especial nos momentos que nós precisamos de mais energia de ponta, quando nós estamos perdendo a energia solar - que produz entre 26 e 30 gigawatts por dia - e aí você precisa despachar as (usinas) térmicas, que é no final da tarde entre 18 e 20 horas, nós precisamos aumentar a resiliência do sistema para caso haja algum evento, em especial nesse momento de queimadas.

 

“Nós não temos riscos de apagão, não temos risco de qualquer tipo de crise energética esse ano. Mas isso não nos dá o direito de, em um setor tão estratégico, de não termos muito cuidado com o planejamento para o próximo ano”

 

Outro dia, por exemplo, Rondônia e o Acre pararam porque as queimadas afetaram a transmissão da rede. Nós precisamos tomar todas as medidas preventivas, como tomamos esse ano. Eu quero fazer também uma constatação: graças a eu ter conseguido, em fevereiro deste ano, por meio do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), diminuir a vazão de (Usina Hidrelétrica) Jupiá e Porto Primavera de 4.600 milhões de litros por hora para 3.900 milhões, nós conseguimos ampliar em 11% a capacidade hídrica dos nossos lagos no sudeste, o que nos permitiu chegar até 60 dias atrás com a bandeira verde e nos permitiu chegar podendo fazer essa afirmativa de que não haverá crise hídrica. Nós temos que aproveitar esse momento, sabendo dos efeitos climáticos severos que estamos vivendo, para fazer todo o planejamento do ano que vem, mas neste momento em especial garantir uma racionalização muito grande do despacho das nossas (usinas) térmicas e usar todas as medidas para equilibrar segurança energética com modicidade tarifária, ou seja, menor tarifa de energia para o consumidor.

 

Agora estamos em bandeira vermelha 1 e os especialistas dizem ser inevitável a bandeira vermelha 2. Isso vai acontecer?
Ela já chegou a ser a bandeira 2, e agora voltou para 1. Por isso nós temos que tomar todas as medidas, porque ela ir até a dois é um impacto muito ruim, mas é menos pior do que a gente ter que despachar nossas térmicas fora do sistema formal, que são as térmicas que aumentam muito o preço da energia e começam a consumir um recurso que nós temos para escassez hídrica. Foi o que aconteceu quando há quatro anos atrás, quando o governo anterior (Jair Bolsonaro) de forma dogmática, sem nenhuma fundamentação técnica, até porque era um governo que não acreditava na ciência, dispensou o horário de verão. Aquilo diminuiu a conta da escassez hídrica e o ministro Paulo Guedes teve que ir até o mercado financeiro e contrair uma dívida de R$10 bilhões em nome do consumidor brasileiro a juros altíssimos, o que fez a conta de luz aumentar em mais de 20%.


O que nós fizemos esse ano foi exatamente pagar essa conta de escassez hídrica e reduzir a conta de energia em 10%. Nós sabemos que a energia é cara para o consumidor residencial, que recebe a conta da distribuição em casa. Ela é muito importante para a economia nacional, indústria, comércio, porque é um insumo que faz parte de um círculo virtuoso da economia para gerar emprego e renda, que é o grande propósito do nosso governo.

 

Então vai voltar o horário de verão?
O horário de verão é uma possibilidade real, nós estamos trabalhando nesse sentido. Eu estou dialogando firmemente com todas as áreas do governo, porque o horário de verão é transversal, tem um impacto energético, mas tem também um impacto na economia, em alguns setores muito positivo, outros nem tanto. A opinião pública se divide muito, mas nós temos que levar em consideração. O presidente Lula, agora que o Brasil voltou a discutir os problemas reais da sociedade, lidera esse processo. Um comitê de ministros presidido por mim, que é o CNPE (Conselho Nacional de Política Energética), e o CMSE está avaliando todas as possibilidades para que, além do horário de verão, outras medidas que nós estamos tomando possam garantir a segurança energética para 2025 e 2026.

 

“O presidente Lula ganhou todas as eleições em Minas Gerais contra tudo e contra todos. O governador batia no presidente Lula de manhã, à tarde, à noite, e amarrava para bater no outro dia de manhã, inclusive de forma agressiva e desproporcional. E o presidente Lula ganhou em Minas Gerais”

 

Se nós tivermos o horário de verão ele começa quando? e vai até quando?
É muito importante que o horário de verão, a partir da decretação, dê um tempo para a sociedade se adaptar. Na própria eleição as urnas eletrônicas já estão programadas. A tranquilidade que a gente pode dar a população brasileira são duas: primeiro, com as políticas públicas que nós implementamos neste um ano e meio somado ao planejamento, nós não teremos crise energética. A segunda é de que nós temos tempo hábil para, em uma possível decretação do horário de verão, dar todas as condições para que as adaptações sociais sejam feitas.

 

O senhor disse recentemente que não quer ser o 'pai da conta de luz mais cara do mundo'. Como o senhor trabalha para evitar esse título?
Temos evitado. O ministério é um conflito constante de interesses que são necessários de serem enfrentados para o bem da coletividade. Na semana passada colocaram um subsídio em uma emenda no Senado e quase passou na Câmara dos Deputados. Eu tive que me manifestar publicamente e fazer uma grande mobilização, e conseguimos derrubar a emenda em um projeto fundamental para o Brasil. É o projeto que eu enviei do "combustível do futuro", e que cria a nova indústria do combustível sustentável da aviação, cria a nova indústria do diesel verde, cria e regulamenta a captura e estocagem de carbono, aumenta a participação do etanol na gasolina permitindo uma descarbonização muito grande do agronegócio, aumenta a possibilidade da gente usar o biodiesel na mistura no diesel fóssil para descarbonizar e evitar os efeitos dos gases estufa.

 

O Brasil é o grande protagonista da transição energética exatamente por ter uma matriz completamente diferente e é o grande líder da sustentabilidade mundial por causa da floresta amazônica, mas o que nós precisamos melhorar no Brasil?
Nós temos que transformar isso em riqueza a favor dos brasileiros. Como é que nós vamos fazer isso? Exportando sustentabilidade por meio da agricultura de baixo carbono, da indústria de baixo carbono. Não existe salvação fora da nova economia verde. A transição energética que começou sob o alicerce da sustentabilidade é uma nova economia internacional. É reindustrializar o Brasil por meio da energia. O mundo, mais cedo ou mais tarde, vai começar a repelir os combustíveis fósseis, repelir a utilização de energias que não sejam renováveis e limpas, porque os efeitos estão aí.

 

Eu acho que Minas está muito aquém do que pode ser para o Brasil. É o estado que menos cresce do ponto de vista das suas potencialidades Enquanto a gente não tiver uma visão estratégica, mas não tiver principalmente um governo que pratique a mineiridade e a política do diálogo para construção de pontes, Minas não vai avançar”

 

Como o senhor avalia esses seis anos de governo Romeu Zema em Minas Gerais?
É com tristeza que eu vejo Minas Gerais ter a maior dívida pública da sua história aumentada em 50% nos últimos cinco anos. A dívida quando o atual governador assumiu era entre R$110 bilhões e R$112 bilhões com União, hoje nós temos R$165 bilhões. Uma liminar ainda no governo Pimentel (PT), que pagava a dívida em dia até agosto, foi conseguida e o governo deixou de pagar. É um governo que se bradava aliado do governo presidente anterior e ele não conseguiu avançar nessas negociações. Hoje, nós estamos à beira do colapso econômico no estado e querem jogar essa conta nas costas do servidor público da segurança, saúde, educação.


Quando as pessoas falam de servidor, não só por ser um servidor da segurança, me aposentei na última carreira como delegado geral da Polícia de Minas Gerais, mas é fato de que nós precisamos tratar o servidor com o mínimo respeito. Não podemos demonizar, e o que o Partido Novo faz é isso: demonizar o serviço público. Demonizar é sinônimo para a derrocada da qualidade dos serviços que são essenciais para a população, e nós sabemos que a demanda pela qualidade desses serviços é cada vez maior.

Eu acho que Minas está muito aquém do que pode ser para o Brasil. Eu tenho andado o país e quero fazer uma constatação: Minas Gerais é o estado que menos cresce no ponto de vista das suas potencialidades, e não há como não reconhecer o que diz Guimarães Rosa: 'Minas são várias'. A economia do Norte de Minas, do Jequitinhonha, Mucuri, Centro-Oeste, Triângulo, Sudoeste, Sul, Zona da Mata e Região Metropolitana tem peculiaridades completamente diferentes. Enquanto a gente não tiver uma visão estratégica, mas não tiver principalmente um governo que pratique a mineiridade e a política do diálogo para construção de pontes que venham sinergizar o poder público municipal, já que Minas é eminentemente um estado municipalista, com o poder público estadual e com o poder público federal, independente das colorações partidárias, Minas não vai avançar.

 

O governador passou muito tempo deixando no ar a dúvida, mas agora já admite a possibilidade de concorrer à presidência da república em 2026. Como é que o senhor vê um embate entre Zema e Lula?
Os mineiros pagam um preço muito caro por projetos pessoais. Nem terminou as eleições e o atual governador já está falando na campanha nacional. É um direito dele ter seus projetos pessoais, mas era obrigação dele a partir da reeleição, mesmo tendo tratado o presidente Lula com tanto desrespeito no segundo turno das eleições, inclusive quebrando as tradições mineiras, porque os governadores sempre foram muito prudentes no trato e em evitar agressões, inclusive pessoais como ele fez com o presidente Lula, ter uma boa relação para governabilidade. O que eu percebo é que ele ganhou as eleições e não desceu do palanque. Ele já subiu em outro palanque para a eleição nacional. Eu acho que é um direito dele ser candidato, ou vice como ele já se lançou - eu nunca vi candidato ser lançado à vice. Acho que ele deveria cuidar de Minas, como o presidente Lula tem cuidado do Brasil, e em um momento adequado falar em eleição.

 

Mas o senhor acha que ele tem chances contra o presidente Lula?
O presidente Lula é uma necessidade pro Brasil, é o único líder que tem condição de entregar em 2030 esse país menos dividido e com sanidade para que as pessoas voltem a analisar os homens e mulheres que fazem a vida pública pelo resultado do seu trabalho, ou seja, pelo resultado das políticas públicas que eles implementam, e não mais pelas fake news que nós vivemos nos últimos anos. O Brasil viveu anos, isso é uma constatação, em que o Presidente da República saia do Palácio do Planalto, parava no tal do cercadinho, agredia um repórter ou agredia um poder constituído, no caso o Supremo Tribunal Federal ou o Legislativo, e aquilo virava o fato do dia. Era uma cortina de fumaça pra dizer que o governo existia.

O Brasil voltou a dialogar com a imprensa, voltou a dialogar com a sociedade civil organizada, voltou a dialogar com o mundo. Eu fui com o presidente ao G7, e quando alguém participa com o Lula de uma reunião bilateral com o Joe Biden (Presidente dos EUA), com o Emmanuel Macron (Presidente da França), com Olaf Scholz (Chanceler da Alemanhã), você percebe que o Brasil voltou a dialogar de igual para igual. Voltou a dialogar a fim de que no mundo globalizado a gente possa buscar as grandes oportunidades para exportar nossas riquezas, industrializadas de preferência.

 

O senhor é um dos grandes apoiadores da reeleição do prefeito Fuad Noman (PSD) em BH. Como é que o senhor avalia a campanha dele até agora?
Com muito otimismo. Eu fui colega do Fuad Noman no estado, é um servidor público extremamente dedicado, responsável, tem profundidade intelectual, sensibilidade humana, é a cara da administração pública da capital dos mineiros. Eu sempre disse que ele carecia de nível de conhecimento, e que assim que os belo-horizontinos soubessem que foi ele quem organizou toda a gestão do prefeito anterior (Alexandre Kalil), que o escolheu para ser vice, que o convidou ser seu secretário municipal e coordenar o seu governo, silenciosamente e discretamente como é o perfil dele, quando começasse a campanha eleitoral os números rapidamente cresceriam.

É o que está acontecendo. Ele já está praticamente empatado com o primeiro, que tem alto nível de conhecimento, e vai para o segundo turno em primeiro lugar. Eu tenho absoluta convicção, independente dos apoios, porque a gente viu isso quando o Aécio (Neves) e o (Fernando) Pimentel se juntaram para apoiar o Márcio Lacerda (PSB) e quase perderam a eleição, que o belo-horizontino é muito independente ao votar, ele vota de forma muito lúcida. Eu acho que o Fuad vai ter oportunidade de concluir esse trabalho maravilhoso que está fazendo como prefeito e entregar uma cidade muito melhor em quatro anos.

 

Quantos prefeitos o PSD deve fazer em Minas Gerais?
Em Minas Gerais nós já temos o maior número de prefeitos, cerca de 100. Acredito que vamos crescer entre 30% e 35%. É o maior partido de Minas Gerais com dez deputados estaduais, quatro deputados federais, tem o presidente do Congresso Nacional (Rodrigo Pacheco), tem um ministro. Vamos ter o maior número de prefeitos, eu tenho absoluta convicção de que teremos a capital do estado, até porque Fuad é o candidato mais preparado e, portanto, nós queremos contribuir para construir uma Minas melhor. O PSD é o partido que mais cresce no país, nós vamos ter o maior número de prefeitos não só em Minas, mas vamos ter no Brasil. Já estamos entre os maiores partidos do país e vamos crescer ainda mais.

 

Considerando tudo isso que o senhor tá dizendo, o PSD vai ter candidatura própria ao governo de Minas em 2026? O senhor ou Rodrigo Pacheco, por exemplo?
Minas Gerais sempre foi uma fábrica de homens públicos moderados e com muita capacidade política de construção de pontes para solucionar problemas dos mineiros e do Brasil. No passado muito recente, Minas Gerais sempre foi ouvida na política nacional, mas isso acabou há alguns anos. Minas está muito relegada no plano político e eu acredito piamente que é responsabilidade de todos nós reconstruir essa autoestima, essa participação tão ativa de um estado que é a fotografia mais fidedigna do Brasil. Se tirar a fotografia de Minas é a fotografia do Brasil.


O presidente Lula ganhou todas as eleições em Minas Gerais contra tudo e contra todos. O governador batia no presidente Lula de manhã, à tarde, à noite, e amarrava para bater no outro dia de manhã, inclusive de forma agressiva e desproporcional. E o presidente Lula ganhou em Minas Gerais. O mineiro sempre soube escolher o Presidente da República, e o fez muito bem em eleger o presidente Lula. Nós vamos trabalhar muito pela reeleição dele, o PSD será um instrumento disso.

 

Recentemente um relatório do TCU apontou um índice de 70% de sonegação dos royalties da mineração entre 2014 e 2021, até antes do senhor assumir. Esse é um assunto muito caro para os mineiros, o que está sendo feito para contornar o problema?
Eu tenho conversado muito com a receita federal e com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). É muito importante que a fiscalização tributária funcione. Eu falo sempre que a atividade mineral não pode ser demonizada, ela é importante. Quando nós falamos em mineração, principalmente nós mineiros, a gente sempre lembra do minério de ferro, mas neste momento de transição energética o Brasil tem um potencial imenso. Nós precisamos fazer com que a mineração seja segura, sustentável, cumpra rigorosamente a legislação ambiental e, principalmente, que deixe frutos sociais. Não é uma riqueza renovável, diferente da agricultura, isso passa pela política pública como um todo.

Agora, a questão dos royalties é uma questão fiscal. Eu tenho conversado para que a gente possa construir todos os mecanismos, já coloquei a ANM (Agência Nacional de Mineração) com a receita, necessários para diminuir ou eliminar essa sonegação a fim de fortalecer a receita dos municípios. Isso é muito importante em um país municipalista para que a gente possa promover políticas públicas de melhoria da qualidade da saúde, educação, e outras missões que tem os prefeitos.

 

Um dos temas que mais incomodam os belo-horizontinos é essa história de mineração na Serra do Curral. Tem algum jeito do ministério intervir nesse assunto? Que posição o senhor tem sobre isso?
Fora da lei não há salvação. A Serra do Curral é um patrimônio dos mineiros, é um patrimônio de preservação, e onde é efetivamente essa circunferência da serra não há que se falar em mineração, até porque a lei proíbe. O licenciamento de algumas mineradoras, me parece que uma em especial, se deu pelo estado fora da área de preservação, mas na área de impacto da preservação da Serra do Curral. Essa análise está sendo feita pela Justiça, que vai tomar uma decisão final. Agora, com relação a Serra do Curral não existe a menor possibilidade de nós mineiros, com a paixão que temos pela bela vista da serra e pelas montanhas de Minas, admitirmos qualquer possibilidade de perda desse patrimônio.

 

A Vale se pronunciou dizendo que o acordo de Mariana está avançado e poderia sair até outubro. Como o senhor avalia essa possibilidade?
Tem um ano e meio que eu me dedico a esse assunto, na verdade já são 10 anos. O acordo de Brumadinho foi muito mal feito, um dinheiro que foi pulverizado, usado politicamente muito mais no projeto de governo do que em um projeto de estado, e não resolveu o problema da população de Brumadinho. Eu recebi lideranças de Brumadinho nos últimos dias, todas muito preocupadas, porque agora em 2026 acaba o auxílio pago aos moradores e acaba, conforme o acordo, os recursos que a Vale emprega na saúde pública da cidade. Os danos psicológicos e ambientais são permanentes e muito graves no município de Brumadinho.

Nós trabalhamos de forma diferente no acordo de Mariana. No último mês do último governo federal, o governador de Minas anunciou que tinha avançado muito na possibilidade de assinar um acordo naquela época com a Vale, BHP e Samarco. Nós assumimos em janeiro e foi a primeira coisa que eu, o ministro Rui (Costa, da Casa Civil) e o ministro Messias (Jorge Messias, da Advocacia-Geral da União) nos debruçamos. Nada estava pronto. Pelo contrário, tinha um valor que era muito aquém da necessidade para indenizar os crimes ambientais, sociais e pessoais que os acidentes causaram. Nós começamos uma negociação a partir dali, o ministro Messias cuidando da parte jurídica e técnica, e eu cuidando da parte econômica.

A boa nova que eu trago pra Minas, se é que existe em um caso tão grave e pelas vidas ceifadas, e essas não tem preço, é que o acordo em termos econômicos está muito bem encaminhado. Serão R$ 100 bilhões de dinheiro novo, mais R$ 37 bilhões de quitação dos recursos aplicados através da fundação Renova, e mais R$ 30 bilhões de obrigações. Será o maior acordo do planeta, R$ 167 bilhões de reais que vem minimizar os impactos tão graves criados por esses dois trágicos acidentes. Nós estamos trabalhando com muito rigor e vigor para que a Vale e a BHP possam ressarcir os danos aos mineiros.