Pablo Marçal (PRTB), candidato à Prefeitura de São Paulo, em debate promovido pelo grupo Flow -  (crédito: Reprodução / Flow Podcast)

Pablo Marçal (PRTB), candidato à Prefeitura de São Paulo, em debate promovido pelo grupo Flow

crédito: Reprodução / Flow Podcast

FOLHAPRESS - Exércitos de contas e vídeos pró-Marçal criados nos campeonatos de cortes continuam ativos, gerando milhões de visualizações nas redes sociais.

 

 

Os vídeos foram produzidos por participantes dos campeonatos de cortes na comunidade do Discord promovidos por Pablo Marçal, candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo.

 

Os campeonatos davam prêmios em dinheiro aos autores dos cortes com mais visualizações, pagos por empresas de Marçal. Para participar da competição, as regras especificavam que as pessoas deveriam criar ou ter as próprias contas nas plataformas.

 

  

Marçal suspendeu as competições que promovia no aplicativo Discord. Mas, de acordo com levantamento do Instituto Democracia em Xeque, das 674 contas no TikTok criadas ou usadas nos campeonatos em julho, 582 continuavam existindo em 23 de setembro.

 

Dessas, 282 continuaram postando conteúdo pró-Marçal — são cortes em que o candidato aparece fazendo campanha eleitoral, criticando adversários políticos ou trechos de palestras motivacionais do autodenominado ex-coach. Essas contas, na prática, têm perfis fictícios, sendo usadas especificamente para promover Marçal.

 

 

Em 24 de agosto, a Justiça Eleitoral determinou a suspensão das redes sociais de Marçal. O juiz eleitoral Antonio Maria Patiño Zorz acolheu o argumento de que ele cometeria abuso econômico ao promover cortes monetizados. Em sua decisão, afirmou que monetizar cortes "equivale a disseminar continuamente uma imagem sem respeito ao equilíbrio que se preza na disputa eleitoral".

 

Ainda assim, desde 25 de agosto, um dia após a decisão judicial, circularam 4.724 vídeos provenientes dos campeonatos no TikTok, com 17 milhões de visualizações e 1,224 milhão de curtidas e comentários.

 

"Os cortes do Marçal são uma espécie de loteria de um trabalho precarizado, em que as pessoas fabricam vídeos de apoio ao candidato fundamentalmente em busca de lucro, o que acaba interferindo na campanha", diz Marcelo Alves, diretor de metodologia do Instituto Democracia em Xeque e professor do Departamento de Comunicação da PUC-Rio.

 

 

"Quando a gente detecta que isso continua ocorrendo, identificamos que essa engrenagem está em funcionamento até hoje."

 

Marçal afirma que não colocou "um real" do seu dinheiro em sua campanha e que suas empresas "não participam". Mas o conteúdo e as contas amplificando propaganda do candidato foram criados com o estímulo da premiação em dinheiro.

 

 

Segundo Marilda Silveira, professora de direito eleitoral do IDP, qualquer promoção pessoal, no contexto eleitoral, é considerada propaganda. E como houve pagamento de prêmios às pessoas que faziam os vídeos, trata-se de propaganda na internet paga a terceiros, por empresas.

 

O único tipo de propaganda na internet permitido é aquele contratado pela campanha, coligação ou candidato diretamente da plataforma.

 

Além disso, os gastos com propaganda precisam fazer parte da prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) — e não podem vir de empresas. 

 

 

Outra potencial irregularidade, segundo Silveira, são os vídeos em que há críticas a adversários — é proibido impulsionar propaganda negativa. Dependendo do volume de recursos correndo fora da campanha, pode se configurar abuso de poder econômico, com risco de cassação do diploma ou do mandato, diz Silveira. Além disso, a propaganda irregular gera multa.

 

Segundo Sidney Neves, presidente da comissão nacional de direito eleitoral da OAB, também pode se configurar o crime de desobediência a ordem judicial, pelo desrespeito reiterado de uma decisão que vedava o uso desse tipo de mecanismo de propaganda. O crime pode levar à inelegibilidade caso condenação transite em julgado ou haja condenação por órgão colegiado.

 

Desde julho, circularam 9.645 vídeos provenientes das competições de cortes, sendo 7.885 no TikTok , 1.515 no YouTube, 30 no Instagram, 24 no LinkedIn, 7 no Facebook e 30 em outros.

  

Reportagem do jornal Folha de S.Paulo já havia mostrado que as engrenagens que alimentam a popularidade de Marçal nas redes sociais continuam girando impulsionadas por uma indústria que inclui venda de cortes prontos do influenciador e cursos sobre como enriquecer com a divulgação desse material por meio da monetização de plataformas digitais.

 

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Mesmo com a premiação suspensa, os editores ganham dinheiro a partir da monetização nas redes sociais, que remuneram os cortes mais visualizados. Como os vídeos atualizados do influenciador geralmente são gerados em sabatinas, debates ou atos de caráter político, parte importante do material que inunda as redes acaba funcionando como propaganda eleitoral.

 

A reportagem entrou em contato com a assessoria de Marçal, mas não teve resposta.