Desconhecimento sobre o cenário político, caso da estudante Heloísa Oliveira, é uma das razões para o alto número de eleitores hesitantes em BH -  (crédito:  Gladyston Rodrigues/EM/D.A. Press)

Desconhecimento sobre o cenário político, caso da estudante Heloísa Oliveira, é uma das razões para o alto número de eleitores hesitantes em BH

crédito: Gladyston Rodrigues/EM/D.A. Press

Faltando uma semana para a eleição municipal em Belo Horizonte, as pesquisas de intenção de voto ainda indicam um percentual significativo de indecisos – uma tendência vista em pleitos anteriores, mas que permanece relevante para o resultado final, especialmente em disputas acirradas como a da capital mineira em 2024.

 

 

A última rodada feita pelo Instituto Datafolha, por exemplo, indica 5% de indecisos, cerca de 100 mil pessoas, em BH. Para efeito de comparação, esse indicador era de 4% na mesma edição do levantamento para o Rio de Janeiro. Em São Paulo, novamente considerando as divulgações da penúltima semana de setembro, o dado era de 3%. Mesmo com o empate técnico, considerando a margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos, BH lidera o número de indecisos numericamente entre três das quatro capitais do Sudeste, de acordo com o Datafolha.

 

 


No fim das contas, esses votos terão peso em um primeiro turno que promete ser equilibrado em BH. Há quatro anos, quando Alexandre Kalil se reelegeu, o percentual de eleitores em dúvida era até maior, de 7%, de acordo com o Datafolha realizado duas semanas antes daquela eleição – o mesmo período considerado pela reportagem no parágrafo anterior. No entanto, Kalil era amplo favorito e tinha 60% das intenções de voto – realidade muito diferente da atual, na qual Mauro Tramonte (Republicanos) tem a liderança com 28% das intenções, seguido por Fuad Noman (PSD) e Bruno Engler (PL), ambos com 18%, segundo o Datafolha.

 


Portanto, os 5% ainda em dúvida podem ser primordiais para definir quem irá para o segundo turno na cidade neste ano. Além de Tramonte, Engler e Fuad, a margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos coloca outros candidatos na disputa, sobretudo a deputada federal Duda Salabert (PDT), que alcançou 9% das intenções de voto no Datafolha da terceira semana de setembro.


 

Invisibilidade e rotina


Um dos que não sabe em quem vai votar é o camelô Sérgio de Sousa, de 40 anos. Ele alega invisibilidade por parte dos políticos, o que dificulta a escolha. “Na verdade, eu não sei quem é quem ainda. Eu não posso opinar, estou indeciso. Eu vou ver ainda, estudar os candidatos para ver quem é que está fazendo alguma coisa boa, quem tem alguma proposta. O pai de família, aquele que mora no aglomerado, não é lembrado. Eles são discriminados. Não só pela prefeitura, mas pelo processo eleitoral. O ambulante não sabe em quem vai votar porque eles não nos enxergam na rua”, diz.

 


Aos 27 anos, a operadora de caixa Patrícia Martins justifica a indecisão em BH usando a falta de tempo para acompanhar o noticiário político por conta da rotina apertada. "Estou sem tempo para acompanhar. Eu trabalho a partir da manhã e só saio às 22h. Um dos que conheço é o Mauro Tramonte (Republicanos), mas pretendo dar uma estudada neste fim de semana. Se for olhar, tinham que melhorar o preço da passagem (dos ônibus)", afirma.

 


O desconhecimento sobre o cenário político parece ser a principal razão para os milhares de indecisos em BH. “Eu não sou muito focado em política. Não acompanho. Eu sei que tem o Fuad (Noman, do PSD), muita gente está votando nele. O pessoal da minha família vai votar nele. Mas, estou pensando em votar em branco. Agora, vou olhar, vou pesquisar. Mas é bem provável que eu vote em branco, ou então junto com o pessoal lá de casa”, diz o estudante de educação física Thiago César, 29.

 


A estudante Heloísa Oliveira, de 29 anos, conta ao Estado de Minas que não conhece os candidatos e não se lembra do nome do atual prefeito da capital e candidato à reeleição, Fuad Noman (PSD). “Esse ano estou com preguiça de acompanhar. Em branco, não vou votar, mas os candidatos que estão aí não estão me interessando tanto. Não acompanho nada das pesquisas”, diz.

 

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Indeciso e insatisfeito


Mesmo entre os indecisos, o transporte público continua sendo a queixa mais comum entre os eleitores. O estudante de engenharia mecânica Túlio Amorim, 24, confessa não estar "engajado com a política", o que dificulta a escolha da representatividade. Mas, sabe que a cobrança precisa ser feita. "Independentemente de quem entra, vai mudar somente quando a gente começar a cobrar quem estiver lá dentro. O trânsito e o transporte são os maiores problemas da cidade. O transporte público é muito ruim. Agora vai vir o metrô, vai ampliar. Espero que melhore, mas acredito que não. Mas, cabe a nós cobrar de cada um que estiver lá dentro", afirma.

 


O barbeiro Igor Samuel, de 22 anos, conta que a “sujeira” na rua e o transporte público são, para ele, as principais demandas da cidade, mas ainda não sabe em qual candidato irá votar. “Eu não sei muito de política. Ainda estou vendo meu voto. Só conheço os candidatos do meu bairro, os vereadores. Hoje em dia, está pesado, porque muita gente promete, mas não entrega”, diz.

 


Possíveis explicações

 

O professor de ciências políticas da ESPM, Paulo Ramirez, aponta que o percentual expressivo de indecisos se deve pela iminência do segundo turno em BH. “Às vezes, o eleitor até tem uma preferência imediata por um político, mas a falta de um favorito claro pode fazer com que ele mude o voto. Porque além dos indecisos, a gente tem que considerar a mudança do voto também, que acontece mediante as pesquisas e campanhas eleitorais”, diz.

 


Ramirez afirma que houve uma mudança no eleitorado no que tange ao interesse pelas campanhas políticas. “O que chama atenção são posturas mais espalhafatosas, escandalosas, que lembram muito a performance que ocorre nas redes sociais e reality shows”.

 


“Num cenário eleitoral como o de Belo Horizonte, em que de fato não há muita propensão à emotividade, isso acaba afastando o eleitor, já que ele está acostumado dentro daquilo que ele visualiza nas redes e nos reality shows. Comportamentos mais enfáticos do ponto de vista das emoções, dos afetos, com gritos ou mesmo relações amorosas. Então, Belo Horizonte hoje carece desse aspecto, o que vai criando um cenário de apatia e pouco interesse pelo debate eleitoral”, afirma o especialista.

 

 


Sobre o receituário para convencer quem ainda não se decidiu, o cientista político da ESPM afirma que as acusações entre concorrentes devem ser a estratégia mais comum para conquistar esses votos. “Tradicionalmente, nas campanhas eleitorais, denúncias, casos pretéritos envolvendo decisões judiciais, ou mesmo a simples abertura de um processo, ainda que ele tenha sido arquivado, já é o suficiente para tentar despertar as emoções do eleitorado.”, diz.

 

Santa Luzia tem disputa embolada

 


A corrida para a Prefeitura de Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, está equilibrada, segundo demonstra levantamento do InstitutoVer, divulgado hoje. Os dois candidatos que lideram estão tecnicamente empatados com os indecisos, segundo o voto estimulado, que é quando o eleitor é informado sobre quem são os postulantes ao cargo. Wander do Delegado (PSD) aparece em primeiro, com 29,3%, seguido por Paulo Bigodinho (Avante), com 24,2%. Os que responderam não sabe ou indecisos são 22,8%.

 

 

As apostas das campanhas para convencer os indecisos


Mauro Tramonte (Republicanos)


O candidato diz que vai propor soluções para a “BH de verdade, aquela do ônibus lotado, da UPA sem médicos, da cidade imunda”. Ainda afirma que irá aos últimos debates eleitorais para convencer mais eleitores.


Duda Salabert (PDT)


A candidata afirma ter certeza de que estará no segundo turno. “Para essa última semana, nós temos surpresas, que vão mexer com a política municipal”, diz.


Bruno Engler (PL)


O deputado estadual afirma que a estratégia para convencer os indecisos é “continuar a apresentar propostas”, por meio da intensificação de caminhadas e da propaganda eleitoral.


Gabriel Azevedo (MDB)


O presidente da Câmara de BH afirma que vai apostar em seus projetos para a cidade para conquistar o eleitorado indeciso. “Eu estou mostrando com vídeos bem detalhados o que as minhas propostas são e elas não são promessas vazias”, diz.


Indira Xavier (UP)


Afirma que irá contar com as militâncias que apoiam o partido e continuar dialogando com o eleitorado.


Rogério Corrêa (PT)


Diz que irá continuar vinculando sua imagem ao presidente Lula (PT) e que pretende confirmar “em breve” a vinda do chefe do Executivo federal à capital mineira para fortalecer a campanha.


Lourdes Francisco (PCO)


Diz que o programa da chapa já é um incentivo para as pessoas indecisas e que pretende intensificar o contato com os eleitores nas ruas.


Fuad Noman (PSD)


O atual prefeito e candidato à reeleição preferiu não se posicionar sobre o tema.