O peso que as redes sociais têm na comunicação eleitoral é inegável. O tempo de propaganda gratuita ainda tem peso, mas a cada pleito que passa os candidatos investem mais recursos financeiros (leia mais abaixo) e agenda de campanha na elaboração, produção e publicação de conteúdos na internet, sobretudo no Instagram e no X (antigo Twitter). Diante deste fenômeno, o Núcleo de Dados do EM analisou as estratégias adotadas por cada concorrente à Prefeitura de BH para verificar qual a aposta de cada um deles. No levantamento, entraram todos os candidatos, com exceção de Lourdes Francisco (PCO), que não faz uso desse tipo de divulgação.
Em busca da reeleição, a equipe de comunicação do prefeito Fuad Noman (PSD) aposta no uso de palavras e expressões que tentam aproximá-lo do eleitor. Termos como “vamos juntos”, “todos” e “sempre em frente” são comuns nas redes sociais dele. Entre aqueles que indicam propostas, o atual dono da cadeira usa "saúde" mais do que qualquer outro.
À frente de outro poder, o presidente da Câmara Municipal de BH, vereador Gabriel Azevedo (MDB), tem postura quase antagônica nas redes. A já conhecida atitude combativa dele se mantém na internet. Nas duas redes, o candidato cita Alexandre Kalil (Republicanos) oito vezes – a 12ª palavra mais usada por ele. O ex-prefeito apoia Mauro Tramonte (Republicanos) na disputa, atual líder das pesquisas. O emedebista também cita Fuad seis vezes. Ao mesmo tempo, a palavra “orgulho” é citada oito vezes e está entre as mais usadas por ele. Entre as propostas, “educação” se destaca com nove citações.
Para o cientista político e professor do Ibmec de Belo Horizonte, Adriano Cerqueira, as posturas de Fuad e Gabriel nas redes acompanham a trajetória deles antes da eleição deste ano. "O prefeito não tem um nome popular, então adota uma estratégia para deixar claro que ele é o atual chefe do Executivo da cidade. Quer construir uma unidade com o eleitor. Já o Gabriel, sabemos que é contestador, gosta de bater de frente. Então, apresenta sua candidatura como uma alternativa para o eleitor. Ele busca, ao falar do Kalil e do Fuad, mostrar que não se rendeu. Ele quer polarizar", diz.
Já o popular apresentador de TV Mauro Tramonte faz questão de ressaltar seu próprio nome diversas vezes nas redes sociais. Expressões como "Mauro Tramonte 10" e "Mauro Tramonte Prefeito BH" estão entre as mais citadas por meio de hashtags. Na mesma proporção aparece o nome da vice dele, Luísa Barreto (Novo). O deputado também não esconde a influência do seu programa de televisão sobre o eleitorado a partir da expressão Balança BH. Atualmente, ele comanda o “Balanço Geral” na Record Minas.
“Ele já tem uma marca, então quer vincular a candidatura dele à ela. Tenta aglutinar os eleitores que seriam do Fuad e do Bruno Engler ao mesmo tempo. Quer se apresentar como uma figura popular, acima das diferenças ideológicas. Em certa medida, é o que Kalil fez nas eleições anteriores. A estratégia é a mesma”, diz o professor de ciência política, Adriano Cerqueira.
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Lula x Bolsonaro
Como já era de se esperar, os candidatos do PT e do PL tentam aliar suas imagens à dos maiores líderes políticos do país: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Jair Bolsonaro, respectivamente. No caso do deputado federal Rogério Correia, chama a atenção o volume de postagens nas redes. Ele é disparado quem mais publica. No X, são 162 tweets no período analisado, o que equivale à metade das 324 publicações de todos os candidatos à prefeitura da capital.
Além de ressaltar seu número nas urnas, Rogério usa várias vezes a expressão "Time do Lula" nas redes. Também tenta se aproximar do eleitor com uso de palavras que demonstram intimidade, como "coração" e "abraçar", que estão entre as 15 mais citadas.
Já Bruno Engler adota uma estratégia parecida com a do adversário petista, porém em volume menor de posts. Ele fez questão de fixar em seus perfis imagens e vídeos com Jair Bolsonaro, ainda que não o cite muito textualmente nos conteúdos de campanha nas redes. Engler tenta se aproximar do eleitor com a repetição de expressões que trazem seu nome, como "Bruno Engler 22", e com o slogan "Coragem para mudar BH". Entre as pautas, a que mais se destaca é "segurança", que está entre as 30 palavras mais citadas por ele.
No caso dos candidatos do PT e do PL, o cientista político Adriano Cerqueira acredita que a apuração da reportagem indica que ambos, apesar de antagônicos, procuram o mesmo receituário para ter sucesso em outubro. “O Bruno Engler quer se tornar mais conhecido a partir da figura do Bolsonaro. O melhor dos mundos para ele seria a transferência direta (o ex-presidente venceu em BH nas eleições de 2022). Mas, ele concorre com o Carlos Viana e o Mauro Tramonte também. A estratégia do Rogério é parecida. Ele reforça o 13 e tenta se aproximar do governo Lula. Só que ambos enfrentam o mesmo problema: a rejeição grande desses líderes políticos”, diz.
Serra e mobilidade
Apesar de ocuparem espectros diferentes ideologicamente, os congressistas Carlos Viana (Podemos) e Duda Salabert (PDT) tentam conquistar o eleitorado se posicionando sobre pautas de interesse público. Ela cita várias vezes sua posição contra a exploração mineral na Serra do Curral, cartão-postal de BH – a palavra mais usada por ela é “serra”. Outra estratégia da deputada federal é publicar pesquisas eleitorais, a partir de uma tentativa de se mostrar forte na disputa pelo segundo turno na capital mineira.
Já Carlos Viana aposta em pautas diferentes, mas também faz uso de várias palavras que referenciam políticas públicas do seu plano de governo. "Ônibus" e "mobilidade" estão entre as mais citadas. Também tenta se aproximar do eleitor a partir da fé. A palavra "Deus" está entre as 20 mais citadas pelo senador. Também promete bastante, a partir do uso do verbo "vou", a palavra quarta mais usada. No topo do ranking, assim como acontece com outros candidatos, estão termos como "Belo Horizonte" e seu próprio nome acompanhado do número de urna: "Viana 20".
“Essa estratégia do Viana é interessante, porque ele tenta se destacar como uma pessoa que resolve as coisas, até pelo mandato dele como senador. É uma tentativa de se apresentar como uma pessoa com conhecimento técnico e experiência para exercer o cargo de prefeito”, afirma o cientista político Adriano Cerqueira.
Poucas publicações
Candidatos à esquerda, Indira Xavier (UP) e Wanderson Rocha (PSTU) apresentam uma média inferior a uma publicação própria por dia nas redes sociais. Ambos republicam muitos conteúdos de correligionários no Instagram e se apresentam como alternativas socialistas.
Indira, por exemplo, cita "povo" mais do que qualquer outra palavra em suas redes. A quinta colocada é "popular", enquanto "luta" vem em sétimo. A expressão "chega de humilhação" também está em boa parte de suas publicações, ocupando a quinta posição.
Já Wanderson Rocha é o único dos candidatos analisados que mantém somente conta no Instagram, portanto não usa o X. Entre as palavras mais citadas por ele, estão "bilionários", "socialismo" e "romper", todas no top-10, o que deixa o posicionamento disruptivo de maneira clara. A expressão "classe trabalhadora" também é bastante usada pelo concorrente do PSTU – quatro vezes no período.