SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em vídeo compartilhado em maio de 2022, Pablo Marçal fez uma promessa ao pastor Silas Malafaia que não conseguiu cumprir: "Nunca mais vou ser um problema na sua vida". Os dois hoje travam uma briga que começou na Avenida Paulista, no feriado da Independência, e se estendeu à lona virtual.
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Marçal, pré-candidato do PRTB a prefeito de São Paulo, disse que tentou entrar no trio elétrico onde Jair Bolsonaro (PL) e aliados estavam neste 7 de setembro, mas foi barrado.
Coordenador do ato, o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo o acusou de ser um "safado" que quis "lacrar em cima de mim". Afirmou à Folha de S.Paulo no dia: os discursos já haviam acabado, ninguém mais subiria depois disso. Marçal que tivesse chegado mais cedo, como fizeram dois oponentes no pleito municipal, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e a candidata Marina Helena (Novo).
Malafaia voltou à carga em novo vídeo, divulgado nesta segunda (9). Marçal "não é vítima, é lacrador, é mentiroso, manipulador", diz. Afirma ainda que Bolsonaro havia convocado "todos os candidatos a prefeito", mas que o ex-coach só chegou depois do fim, daí ser impedido de subir.
Malafaia sugere que Marçal não quis correr o risco de se indispor com o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) tido como inimigo maior dos bolsonaristas. "Ele, que usa com tanta força as redes sociais, por que não usou com força para convocar o povo para o 7 de setembro? Quer a resposta? Porque ele sabia que lá nós íamos pedir o impeachment de Alexandre de Moraes. Ou ele tem acordo ou tem medo."
Pastor e ex-coach já haviam se desentendido publicamente dois anos atrás, quando Marçal ainda era pré-candidato à Presidência, ambição que atolou em questões partidárias -seu partido à época, o Pros, rifou sua candidatura para apoiar Lula (PT).
Marçal compartilhou a gravação de 2022 para "pedir perdão" a Malafaia. A rixa entre eles começou a escalar após o pastor chamá-lo de "psicopata" e "megalomaníaco" num culto.
A troca de ofensas continuou, com o goiano chamando Malafaia de "pessoa desbaratinada" com algum "grau na maçonaria", um "bandido" que tem "problema com dinheiro".
O pastor retrucou: como repetiria dois anos depois, tascou nele os adjetivos "mentiroso" e "manipulador". Seria um "Pablociolo", referência a Cabo Daciolo, o presidenciável evangélico de 2018 que encharcou sua campanha com premissas bíblicas. "Tem a mesma megalomania do Cabo Daciolo, de achar que vai ser presidente do Brasil."
Ao pedir desculpas a Malafaia na ocasião, Marçal também afagou Bolsonaro. "Você é o atual rei, né? Que na democracia a gente chama de presidente."
Afirmou, contudo, não crer, "do fundo do coração", que ele fosse capaz de vencer Lula, o que de fato não aconteceu. "Sei que você [Malafaia] está fechado com ele [Bolsonaro]. E eu posso falar para você. Existe um Saul nessa guerra, existe um Davi e existe o Golias."
A metáfora bíblica ia por aí: Bolsonaro seria como o velho rei que "passou do ponto naquilo que ele precisava fazer". Já ele, Marçal, encarnaria Davi, o jovem guerreiro destinado a derrotar Golias, o gigante em "musculatura política" que "vai destruir esta nação". Um papel que, nessa narrativa, caberia a Lula.
O homem que agora concorre à prefeitura paulistana pediu há dois anos que Malafaia o desbloqueasse no WhatsApp e mostrou uma Bíblia que o pastor teria lhe dado de presente, com um recado escrito: "Pablo Marçal, não desista".
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Marçal reproduziu um áudio, sem data especificada, no qual o pastor diz que Deus dera ao caçula da dupla "a unção de rei". Isso havia acertado "o cerne do meu coração".
Marçal disse que respeitava o líder evangélico. "Todo esse escarcéu que foi implantado, tanto da sua parte como da minha parte, vai finalizar agora."
Corta para 2024. À Folha de S.Paulo Malafaia afirma que suas desavenças com o ex-coach, mais do que políticas, têm fundo doutrinário. "Ele começou a ensinar que ninguém precisa de igreja, não precisa de pastor, que qualquer um pode batizar. E olha a jogada dele, ele formou um tal de Quartel General do Reino. Quer dizer, uma igreja dele, em outras palavras."
Marçal afirma que tem raízes na Assembleia de Deus e depois passou 20 anos na goiana Igreja Videira, onde por sinal esteve na noite de sábado (7), depois de ir à Paulista. Mas rejeita o rótulo de evangélico e prefere ver o cristianismo como "lifestyle".
Malafaia confirma que teve "um pega-pra-capar violento" com Marçal em 2022. Mas que ficou por aí. "Depois, acabou. Não falei mais nada com ele. Não tinha mais nada que falar. Acabou."
Diz ainda que "estava quieto", sem fazer campanha para candidato algum em São Paulo, mesmo se Bolsonaro oficialmente aderiu à chapa de Nunes. Isso até o candidato do PRTB atiçar.
Se Marçal "entrar numa furada comigo e tentar me rebater", o jogo muda, diz. "Aí eu vou entrar em coisas que eu ainda não falei."
O ex-coach comentou no Instagram do pastor: "Eu continuo te amando mesmo que você tenha ódio da minha pessoa". Acrescentou o emoji de um coração.
Malafaia viu o gesto como uma tentativa de menosprezar sua retaliação e se "fazer de vítima, de pobre coitado". Marçal, diz, continua bloqueado em seu WhatsApp. "Falei para ele seguir o caminho dele. Segue o seu caminho, que eu sigo o meu."