A campanha do prefeito Ricardo Nunes (MDB) usou uma delegada da Polícia Civil de São Paulo em uma inserção na TV sobre a condenação de Pablo Marçal (PRTB) por furto.
A Secretaria da Segurança Pública da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que a corregedoria da corporação "abriu um procedimento para apurar eventuais irregularidades envolvendo a delegada mencionada". A campanha de Nunes afirma que a policial atuou no vídeo "como cidadã".
Tarcísio apoia Nunes, e o uso da servidora pública no material político gerou crítica de Marçal. O emedebista e o autodenominado ex-coach disputam o eleitorado de direita na cidade.
A delegada Vanessa Guimarães, da Polícia Civil paulista, aparece no vídeo vinculado na TV falando sobre investigação da Polícia Federal, em Goiás. Na peça, ela afirma ter "analisado" o processo criminal.
A montagem traz a delegada explicando o que é relatado no inquérito da Operação Pegasus, que desarticulou em 2005 uma quadrilha de fraude bancária na internet, da qual Marçal foi acusado de fazer parte.
A montagem da campanha com trechos do processo ainda traz uma foto de Marçal que aparenta ser atual, como se estivesse anexada ao inquérito.
O candidato do PRTB criticou a propaganda feita pelo adversário e elogiou o secretário de Segurança, Guilherme Derrite (PL), pela abertura da investigação sobre a participação da delegada.
"Usando o dinheiro do Estado pra fazer politicagem? Parabéns ao @guilhermederrite por não deixar isso barato! Queremos que essa servidora seja punida severamente e inclusive quem foi a pessoa que solicitou também", escreveu o influencer em uma rede social.
Derrite é considerado bolsonarista raiz, uma ala mais radical que não costuma ver em Nunes como um representante legítimo da direita.
Procurada, a assessoria de Nunes afirmou que o inquérito e a condenação de Marçal são públicos e que "qualquer pessoa, em especial os especializados na área jurídica e penal, pode dar declarações públicas e técnicas para quem quer que seja no sentido de dar esclarecimentos e explicações para o público leigo".
A equipe do prefeito ainda afirmou que a propaganda eleitoral "bem realizada" se assemelha ao jornalismo e "é sempre aconselhável que ao trazer a público fatos e notícias técnicas o façam com base em dados verdadeiros e com esclarecimentos de quem tenha os conhecimentos técnicos próprios".
"A Dra. Vanessa Guimarães tem, como cidadã, plena liberdade de participar do processo político partidário e de igual forma de prestar esclarecimentos sobre questões de seu domínio técnico e que digam respeito ao interesse da população sobre fatos de conhecimento público", afirmou a campanha de Nunes, em nota.
O comunicado ainda afirmou que delegada fez esclarecimentos técnicos e que a peça foi feita fora do horário de expediente dela e de seu local de trabalho, além de não usar símbolo da Polícia Civil paulista.
A reportagem não localizou a delegada.
Condenação
Conforme a Folha de S.Paulo revelou, o conteúdo do processo em que o atual candidato foi condenado por furto por participação em uma quadrilha de fraude bancária desmonta a versão dele segundo a qual só consertava computadores.
O autodenominado ex-coach foi preso em 2005 durante a Pegasus, que foi noticiada à época como uma operação contra a maior quadrilha especializada em invadir contas bancárias pela internet, com mais de cem mandados de prisão expedidos em vários estados.
Marçal foi condenado a quatro anos e cinco meses em regime semiaberto pela Justiça Federal em Goiás, mas o caso prescreveu.
A investigação da Polícia Federal afirmava que, além de fazer a manutenção dos computadores da quadrilha, Marçal operava um programa responsável por captar emails para os quais seriam enviados spams. Por meio deles, a quadrilha fisgaria dados das contas bancárias das vítimas.
O esquema envolvia o que se convencionou chamar de phishing, um velho método de fisgar pessoas na internet e induzi-las a clicar em links de sites que instalam vírus em seus computadores e celulares
A seleção de emails se dava por meio de um programa que sabia quais endereços eletrônicos eram de fato utilizados pelos usuários. Marçal alegou em depoimento que um dos acusados lhe dizia "que o trabalho que estava sendo realizado era de publicidade para um médico".
Um agente da PF ouvido como testemunha no caso deu depoimento que contraria a alegação de inocência de Marçal. Questionado pelo Ministério Público Federal durante audiência se Marçal sabia das atividades ilícitas, o agente respondeu que sim.
"Ah, sim. Sim. Inclusive tinha um... notebook, né, pra ele operar que foi fornecido pelo grupo", disse.
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O Ministério Público Federal indaga se ele não fazia apenas a manutenção nos computadores, e o agente responde que não. "Inclusive, o Pablo é... a indicação de que ele quer enviar, ele próprio enviar, isso demonstra que ele sabe enviar [os emails mandados pela quadrilha]."
Em depoimento, Marçal negou fazer o envio dos spams, mas disse que um acusado pedia às vezes para que ele apertasse o botão para que um programa que fazia isso reiniciasse quando já estava operando.