O ex-prefeito de Lagoa Santa, Genesco Aparecido de Oliveira Júnior (MDB), que tenta voltar ao governo municipal neste ano, foi multado por atear fogo em uma vegetação nativa. De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), ele danificou "6.514 metros quadrados de vegetação nativa mediante uso de fogo" no último dia 2. Pelo ato, Genesco terá que pagar R$ 600 ao Ibama. A informação foi obtida pelo Núcleo de Dados do EM a partir do cruzamento de informações dos candidatos a prefeito em Minas com a base de informações do instituto que cuida do meio ambiente.



Tudo aconteceu na Área de Proteção Ambiental (APA) Carste de Lagoa Santa. De acordo com o Ibama, o candidato precisaria receber autorização do órgão ambiental para incendiar o local. Em breve comunicação com a reportagem, Genesco classificou o fato como “piada”. “Eu não uso fogo, sou filho de agricultor”, disse.


Trata-se de uma área de proteção do Cerrado brasileiro com cerca de 40 mil hectares de extensão. A Carste se tornou uma APA em 1990, por meio de um decreto assinado pelo ex-presidente José Sarney. Entre as espécies ameaçadas de extinção no território estão a onça-pintada, o rato-do-mato e o gato-maracajá.

 

 


 




De acordo com a apuração da reportagem, ao menos 18 candidatos a prefeito em Minas Gerais já receberam multas do Ibama. Elas variam desde 1996 até a mais recente, justamente a de Genesco Aparecido, concorrente à Prefeitura de Lagoa Santa. No total, esses autos somam cerca de R$ 60 mil em infrações.

 

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Quatro candidatos aparecem mais uma vez na lista, portanto receberam duas multas do Ibama no período analisado. São eles: Didi (MDB), concorrente à reeleição em Lagoa Formosa (Alto Paranaíba); Junior Abreu (União), que tenta o segundo sucesso consecutivo nas urnas de Taparuba (Vale do Rio Doce); e Pedro Neves (MDB), outro que quer a reeleição, desta vez em Vargem Bonita (Centro-Oeste). O quarto é justamente Genesco Aparecido, já citado pela reportagem.


Além da infração deste mês, o candidato de Lagoa Santa foi multado pelo Ibama em 18 de junho de 1996, na cidade de Marechal Floriano, no interior do Espírito Santo. Por conta do tempo decorrido, o instituto não tem a informação do motivo que levou à infração. O valor, à época, foi de R$ 487,08.


A reportagem procurou Genesco Aparecido pelas redes sociais e por telefone, mas não houve retorno até o momento. Caso o candidato se manifeste, esse texto será atualizado.


Promessas


Em seu plano de governo cadastrado no TSE, Genesco Aparecido dedica sete das 51 páginas a propostas para a área do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável. Entre as ações prometidas por ele estão a promoção da "educação ambiental nas escolas" e a ampliação da "arborização nas ruas da cidade". Também promete atuar junto ao Ibama "na preservação das áreas de biomas presentes em Lagoa Santa".


Os compromissos na área ambiental não param por aí. Genesco dedica uma página inteira do seu plano de governo a "ações para a proteção aos (sic) animais", a partir de oito propostas. O oitavo item chama atenção: "preservar e proteger os animais silvestres, incluindo o combate ao tráfico e à destruição de habitats naturais, em parceria com a Polícia de Meio Ambiente".


Herança política


Genesco Aparecido de Oliveira Junior tenta governar Lagoa Santa pela quarta vez na carreira política. Ele comandou a cidade entre 1989 e 1992; de 1997 a 2000; e de 2001 a 2004.


Ele é filho de Genesco Aparecido de Oliveira, ex-deputado estadual e federal por Minas Gerais. Também é sobrinho de José Aparecido de Oliveira (1929-2007), ex-governador do Distrito Federal entre 1985 e 1988 e ex-ministro da Cultura do governo Sarney. Também foi embaixador do Brasil em Portugal.


Genesco Aparecido de Oliveira Júnior, o candidato multado pelo Ibama, está fora das eleições desde 2008, quando perdeu a disputa pela prefeitura de Lagoa Santa. Aos 68 anos, declarou ao TSE ter R$ 19,5 milhões em patrimônio, a maior parte desse dinheiro dividida entre imóveis.


Metodologia


Para fazer o levantamento, o Núcleo de Dados do EM cruzou o nome completo dos candidatos, obtido por meio do TSE, com o histórico de multas aplicadas pelo Ibama. A partir daí, a reportagem verificou manualmente os registros encontrados para excluir os homônimos – pessoas que responderam por crimes ambientais e têm o mesmo nome de concorrentes às prefeituras mineiras, mas não são os políticos em questão. O resultado final apontou para 22 autos emitidos contra postulantes ao principal cargo da eleição, distribuídos em 18 chapas – alguns receberam mais de uma punição.


Em pleitos anteriores, o TSE informava o CPF dos candidatos em sua base de dados, o que facilitava o cruzamento com diferentes históricos de órgãos públicos, entre eles o de multas ambientais. Neste ano, como o EM explicou neste editorial, o tribunal tornou essa informação sigilosa, o que dificulta o trabalho da imprensa profissional e diminui a transparência do processo eleitoral.


“Os endereços informados para atribuição de CNPJ, comunicações processuais e do Comitê Central de Campanha, telefone pessoal, e-mail pessoal, número do CPF e o documento pessoal de identificação não serão divulgados no DivulgaCandContas e serão juntados como documento sigiloso no processo de registro de candidatura no PJe”, informou a Corte em nota.

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