Os dias e as horas que antecedem um debate eleitoral costumam ser de grande preparação para os candidatos. As numerosas entourages que acompanham os concorrentes nos bastidores do evento evidenciam que há sempre uma equipe, estratégias e roteiros preparados. O andamento das discussões, no entanto, não respeita um script rígido, e eventos inesperados sempre podem mudar a conversa de rumo e estabelecer novas pautas. É nesse contexto que analisar as expressões e os nomes mais citados torna-se um termômetro importante para entender melhor o cenário das campanhas.


Na última quarta-feira (11/9), a TV Alterosa transmitiu o terceiro debate entre os nomes que pleiteiam a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Conforme previsto em lei, foram convidados os sete nomes filiados a partidos com representação no Congresso Nacional. Cinco compareceram, e a ausência tão sentida quanto inesperada foi a do atual prefeito, Fuad Noman (PSD). Alvo natural dos concorrentes por ser o ocupante da cadeira por todos desejada, o pessedista acabou por tornar-se o foco do programa, mesmo ausente.




 

Após ter confirmado presença, o prefeito cancelou a participação no dia anterior e alegou oficialmente que o evento foi marcado durante horário de expediente. Mesmo fora do estúdio, Fuad foi convocado por dois concorrentes para responder perguntas. A deputada federal Duda Salabert (PDT) e o deputado federal Rogério Correia (PT) fizeram monólogos ao convocar o candidato faltante. A parlamentar foi a mais contundente nas críticas ao prefeito.


“Você é um covarde, mas o mais problemático não é sua ausência [no debate]. Você troca de secretário de educação como troca de roupa, foram cinco em dois anos. Dos R$ 2 bilhões que BH arrecada em IPTU, R$ 1 bilhão vai para a máfia do transporte público. Você gastou R$ 50 mil em um jantar e foi apertar a mão desses empresários”, disse Duda. 


Os ataques a Fuad não ficaram no campo progressista. O presidente da Câmara Municipal, Gabriel Azevedo (MDB), e os deputados estaduais Mauro Tramonte (Republicanos) e Bruno Engler (PL) também destinaram boa parte de suas falas para atacar a atual gestão da capital mineira. Os números comprovam: o termo “Fuad Noman” foi repetido 27 vezes nas cerca de duas horas de programa, e a palavra “prefeito”, se referindo a ele, foi utilizada outras 29 vezes. O pessedista foi disparadamente a figura mais presente nas falas.


Além de Fuad, não compareceu ao debate o senador Carlos Viana (Podemos). Ele justificou a ausência por ter a gravação de propaganda eleitoral na agenda. Despencando nas pesquisas, a falta do parlamentar foi pouco relembrada por seus concorrentes e só foi citada uma única vez, nas considerações finais de Gabriel Azevedo.

 

 

Tramonte e seus padrinhos


Líder isolado nas pesquisas, Tramonte tem ao seu lado dois padrinhos inusitados. Sua vice na chapa é Luísa Barreto (Novo), ex-secretária de Planejamento e Gestão de Romeu Zema (Novo). O governador embarcou na campanha do apresentador de televisão e, na disputa pela PBH, está ao lado do ex-prefeito Alexandre Kalil, rival que derrotou nas urnas em 2022.


Kalil, que tinha Fuad como vice, foi o rosto de uma das movimentações mais marcantes da pré-campanha em Belo Horizonte, quando rompeu com Fuad, seu antigo vice. O antigo prefeito foi reeleito no primeiro turno em 2016 e empresta seu prestígio ao líder das pesquisas. Tramonte se apega à popularidade do novo companheiro não apenas em agendas de campanha, mas também no debate eleitoral.


O deputado estadual não citou o nome de Zema uma vez sequer durante o debate da TV Alterosa. O nome do governador aparece em quatro oportunidades, todas elas na mesma pergunta feita por Correia ao próprio Tramonte.


Já Kalil foi citado em nove oportunidades, inclusive por Tramonte, que lembrou do ex-prefeito como nome que estará ao seu lado em uma eventual vitória eleitoral.


Padrinhos polarizantes


Discussão que ronda o debate político brasileiro ao menos nos últimos três anos, a rivalidade entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se personifica nas eleições belo-horizontinas nas figuras de Rogério Correia e Bruno Engler, seus correligionários.


Bolsonaro foi citado em 15 oportunidades, e Lula, em 12. Seguindo uma linha já observada nos dois debates anteriores, transmitidos pelo Grupo Bandeirantes e pela Rede Minas, Correia é muito mais prolífico em relembrar de seu padrinho, constantemente citado como um apoio que garantirá recursos do governo federal em um eventual governo do petista na capital. Engler foi mais comedido e só citou Bolsonaro quando foi instado a fazê-lo.


As relações embrionárias entre Engler e Bolsonaro e também entre Correia e Lula foram alvo de zombarias por parte de Gabriel Azevedo. O vereador repetiu analogias de baixo calão usadas na campanha e em debates anteriores para sugerir que seus dois adversários vivem de bajulação de seus padrinhos.



Transporte no Centro


No campo das propostas, os candidatos deram amplo destaque para o tema da mobilidade urbana. O fato de que o prefeito que assume em 2025 será responsável pela elaboração do novo contrato com as empresas de ônibus da cidade foi reiteradamente comentado, acompanhado de contundentes críticas à atual gestão à respeito do tema.


A palavra “ônibus” foi citada  28 vezes durante o debate e o termo “transporte” surgiu em outras 23 oportunidades. Com a soma dos números, o tema da mobilidade foi o mais referido pelos cinco concorrentes participantes.


Este cenário reflete as queixas do eleitorado. Em pesquisa realizada pelo Instituto Opus sob encomenda do Estado de Minas entre 13 e 15 de agosto, um terço dos belo-horizontinos disse que as formas de locomoção na cidade é o principal problema da capital. 


O levantamento registrado no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG) sob a designação MG-01355/2024 mostra que os dois problemas mais citados pelos belo-horizontinos são o transporte público e o trânsito, recordados por 17% e 15% dos entrevistados, respectivamente. Soma-se aos dois temas a mobilidade urbana em si, apontada por 1% dos eleitores.


Temas mais recorrentes


Atrás da mobilidade urbana, o termo “educação” foi utilizado em 13 oportunidades e se soma à palavra “escola” para formar o tema mais recorrente do debate. Duda Salabert repetiu o assunto em algumas oportunidades, inclusive ao propor que as instituições de ensino da capital precisam ser equipadas com mais áreas verdes.


Engler e Gabriel protagonizaram um embate em que termos relacionados à educação foram repetidos várias vezes e serviram como pano de fundo para um bate-boca. O candidato do PL perguntou sobre ideias para implementar escolas cívico-militares na cidade, questionamento respondido pelo vereador com ofensas ao se referir ao oponente como uma pessoa “desprovida de qualquer conhecimento”.


“Segurança” foi um termo citado 29 vezes e “Guarda Municipal”, 13. “Saúde” apareceu em 26 oportunidades e “médicos” foi repetido em 9 situações. Somam-se ainda 21 menções à “Câmara Municipal”; 17 a “Serra do Curral”; 13 a “mineração” e “Lagoinha”.


Nomes mais citados

  • Prefeito (de forma genérica) - 35

  • Prefeito (se referindo a Fuad) - 29

  • Fuad Noman - 27

  • Bolsonaro - 15

  • Lula - 12

  • Kalil - 9

  • Zema - 4

 

Termos mais citados

  • Escola - 30
  • Segurança - 29
  • Ônibus - 28
  • Saúde - 26
  • Transporte - 23
  • Câmara Municipal - 21
  • Serra do Curral - 17
  • Guarda Municipal - 13
  • Mineração - 13
  • Educação - 13
  • Lagoinha - 11
  • Médicos - 9
compartilhe