Há duas semanas do pleito, a disputa pelo segundo lugar nas eleições para a Prefeitura de Belo Horizonte segue embolada. De acordo com todas as pesquisas já divulgadas até agora, o deputado estadual Mauro Tramonte, candidato pelo Republicanos, segue na liderança nas sondagens eleitorais tendo em seu encalço dois candidatos: o prefeito da capital, Fuad Noman (PSD), e o deputado estadual bolsonarist Bruno Engler (PL). Fuad e Engler cresceram nas últimas sondagens e estão atualmente empatados na disputa pelo segundo lugar.


De acordo com as sondagens eleitorais, as candidaturas do campo progressistas, representado por Duda Salabert (PDT) e Rogério Correia (PT), ambos deputados federais, que até então também estavam no páreo pelo segundo lugar começaram a perder força para o chamado voto útil. É que o analisa o cientista político Malco Camargos. Em sua avaliação, o eleitor de esquerda, com medo de um enfrentamento da centro-direita, representada por Tramonte, com a extrema-direita, que tem Engler como liderança, “começa a tomar uma decisão antecipada por Fuad na busca de evitar o mal maior, chamamos isso de voto útil”.

 


Geralmente, afirma Camargos, esse tipo de voto é dado somente no segundo turno, mas temendo um embate entre Tramonte e Engler no segundo turno, o eleitor mais progressista está antecipando essa possibilidade. “Isso tem alavancado a candidatura do Fuad e desidratado a de Duda e Rogério”, analisa Camargos. Além disso, destaca o cientista político, o atual prefeito tem a máquina, o que é sempre uma vantagem, e um dos maiores tempos de televisão.

 


Apesar de destacar que, em campanha eleitoral tudo pode mudar, Camargos acredita que a vaga de Tramonte, muito conhecido pelo programa de televisão que apresentou durante 16 anos na TV aberta, está garantida no segundo turno. O crescimento de Engler pode ser explicado pelo voto da extrema direita que o reconheceu como representante deste campo. Resta saber, avalia Malco, o teto desse crescimento.


Rejeição e ausência de Lula

Para o também cientista Rudá Ricci, “já está muito claro que vai ter voto útil”. “A gente já vê a campanha do Rogério e da Duda desidratando, mas o que mais me impressionou foi o aumento da rejeição. Porque você desidratar na intenção de voto pode ser somente voto útil, mas quando aumenta a rejeição é o pior cenário para o candidato, é difícil reverter. Então eu acho que não há mais chance da esquerda estar no segundo turno, teria que ser criado um fato político de relevância, espetacular, para colocar um dos dois candidatos da esquerda no segundo turno”, destaca Rudá.


Para Rudá, a rejeição ao bolsonarismo já criou um movimento em direção ao prefeito que tenta a reeleição. “Faltando duas semanas para as eleições, é evidente que se você é contra o bolsonarismo, você vai votar em quem tem chance de ir para o segundo turno para derrotá-lo e, me parece, que já se criou em Belo Horizonte um movimento pró Fuad”, avalia.

 


Além disso, destaca Rudá, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva que poderia ser um importante cabo eleitoral para a esquerda na capital e, principalmente para o candidato petista, não entrou na campanha de Belo Horizonte. “O Lula não está na campanha do Rogério Correia”, afirmou Rudá, lembrando que até agora o presidente não veio à capital pedir votos pessoalmente para o candidato de seu partido e sua participação na campanha eleitoral do petista é protocolar.

 




Para Rudá, o afastamento de Lula tem a ver com a disputa de 2026, onde o presidente já sinalizou publicamente a possibilidade de o partido apoiar para a disputa pelo governo do estado o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), filiado ao mesmo partido de Fuad. “Essa sinalização do Lula é um passaporte, uma senha para dirigentes e militantes do campo lulista se sentirem a vontade para apoiar Fuad”, avalia.


Durante a formação das chapas para a disputa pela PBH, Lula chegou a defender publicamente em entrevistas uma aliança da esquerda com Fuad para barrar a extrema-direita, mas ela não vingou. Como também não prosperou uma aliança entre Rogério e Duda.

 


Ataques

Essa movimentação das pesquisas e a disputa para assegurar a liderança e garantir o segundo lugar pode ser sentida na propaganda dos candidatos. Engler passou a bater em Fuad. Tramonte também, mas utilizando seu apoiador Alexandre Kalil (sem partido), ex-prefeito de Belo Horizonte. Correia, por exemplo, intensificou os ataques contra os adversários, que vinham sendo feitos de maneira bem sutil, e passou a fazer pregação contra o voto útil em Fuad, candidato de centro, que transita bem entre a esquerda.

 

Pesquisa

De acordo com a pesquisa DataFolha publicada anteontem, a rejeição de Duda passou de 24% para 30% e a de Correia de 17% para 26%. Fuad e Tramonte seguem com 16% e 13%, respectivamente, mesmos índices da sondagem anterior, divulgada pelo DataFolha no dia 9/9. Engler oscilou de 26% para 25% neste mesmo levantamento. Na votação estimulada, Tramonte tem 28% e, na sequência, empatados, vêm Engler e Fuad ambos com 18%. A pesquisa Datafolha ouviu 910 pessoas em Belo Horizonte, nos dias 17 e 18 de setembro, e foi registrada na Justiça Eleitoral sob o protocolo MG-07919/2024. A margem de erro é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos.

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