A ex-deputada federal Jô Moraes (PCdoB) tem posição contrária ao voto útil. Já a deputada estadual Lohanna França (PV) defende a estratégia em favor de Fuad Noman


 -  (crédito: Lúcio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados e Luiz Santanna/ALMG)

A ex-deputada federal Jô Moraes (PCdoB) tem posição contrária ao voto útil. Já a deputada estadual Lohanna França (PV) defende a estratégia em favor de Fuad Noman

crédito: Lúcio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados e Luiz Santanna/ALMG

 

A três dias das eleições municipais que definirão quem vai para o segundo turno em Belo Horizonte, o voto útil passou a ocupar um espaço central entre eleitores de candidatos ditos progressistas. A estratégia tem sido abraçada por aqueles que veem como inevitável a disputa entre Mauro Tramonte (Republicanos) e Bruno Engler (PL), ambos da direita. Nos últimos dias, políticos, militantes e influenciadores têm se mobilizado em torno de Fuad Noman (PSD), candidato de centro, mas com afinidade à esquerda.


O voto útil é a escolha estratégica de um candidato que não é necessariamente a primeira opção do eleitor, com o objetivo de derrotar outro. As pesquisas de intenção de voto são um fator determinante dessa estratégia, já que os resultados orientam o eleitor a direcionar seu voto conforme o cenário apresentado, ignorando preferências individuais em prol de evitar o “mal maior” e eleger o “menos pior”. Em alguns casos, a decisão visa antecipar, no primeiro turno, uma escolha que seria feita apenas no segundo.

 


Em Belo Horizonte, a deputada estadual Lohanna França (PV), um dos principais nomes do campo progressista, participou na semana passada de um evento que reforçou a estratégia e formalizou o apoio de algumas lideranças de esquerda a Noman. Ao Estado de Minas, a parlamentar classificou o voto útil como "voto responsável contra a extrema direita."


“A candidatura de Fuad está consolidada. Estamos a três dias das eleições municipais e o campo progressista precisa perceber o risco real de termos um segundo turno entre direita e extrema direita, o que trará consequências cruéis para nossa população, especialmente para negros, LGBTQIA+, mães solo… Está cada vez mais claro que votar em Fuad é votar no diálogo. Ele não é de esquerda, mas tem abertura para conversar com a gente.”


Nas redes sociais, influenciadores também têm impulsionado a adesão ao voto útil. Um exemplo é Zotha, fundador da Teia dos Criadores, que tem 30 mil seguidores nas redes sociais. Após conversar com candidatos e políticos, ele decidiu, pela primeira vez, se posicionar politicamente, manifestando apoio à reeleição de Fuad. Sua campanha vem sendo compartilhada por vários usuários.

 

 

“Sempre estive alinhado com Duda (do PDT) e Rogério (do PT), mas Rogério e Bella (do Psol) se uniram, enquanto Duda permaneceu isolada. A expectativa era ver quem se destacaria nas pesquisas e se tornaria o protagonista do campo progressista. Porém, ao ver que tanto Duda quanto Rogério perderam relevância e tinham as maiores rejeições entre os eleitores, resolvi me posicionar de uma forma inédita.”


O influenciador também mencionou o movimento dos partidos de esquerda, que assinaram um documento de apoio a Fuad – o mesmo evento em que Lohanna participou – como razão para sua decisão.

 

“Fiquei sabendo que houve uma articulação esta semana, um movimento real, inclusive com assinaturas de apoio ao prefeito. Decidi aderir para formalizar minha posição neste primeiro turno, para deixar claro de uma vez por todas e, também, mostrar aos meus seguidores que é preciso se posicionar com responsabilidade.”

 

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Rejeição ao vice

O vice na chapa de Fuad Noman, Álvaro Damião (União Brasil), indicado pela direita, tem sido alvo de críticas de setores progressistas, que questionam suas ações na Câmara Municipal e o acusam de ser de direita. Em entrevista ao EM, Damião negou as acusações e minimizou as críticas, afirmando que o foco deve ser chegar ao segundo turno.

 

“Recebemos o apoio de forma muito bem-vinda. Somos a única chapa que representa o diálogo. Embora não sejamos uma candidatura totalmente de esquerda, temos pautas progressistas. O eleitor de BH já entendeu que é melhor optar por quem dialoga do que pela extrema direita. Fuad tem uma ótima relação com a Câmara, inclusive com a esquerda. E aqui não me refiro apenas aos nomes progressistas no Legislativo ou na Prefeitura, temos diálogo aberto com a militância.”

 

Críticas à estratégia

 

Sem uma frente ampla de esquerda na disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte, figuras políticas como Jô Moraes (PCdoB), Richard Romano (presidente do PCdoB-BH) e Bella Gonçalves (PSOL), vice de Correia, têm se posicionado contra o voto útil. Em nota ao EM, Jô e Richard criticaram a estratégia, afirmando: “A extrema direita promove uma verdadeira guerra cultural para vender a ilusão do sucesso individual. Em BH, o cenário eleitoral reflete a fragmentação política causada pelo avanço da extrema direita nas últimas eleições. É hora de manter firme a luta por ideias progressistas.”

 


Bella Gonçalves, por sua vez, afirmou ontem ao Estado de Minas que acolhe os que optam pelo voto útil, entendendo o receio de uma disputa entre Tramonte e Engler. “Eu falei sobre o voto útil nas minhas redes. Acredito que, com tantos indecisos, essa discussão só faria sentido no segundo turno. Mas, agora, acolho o medo das pessoas”, afirmou.

 

“Tramonte, não. Engler, nunca. Um segundo turno entre os dois não é o melhor caminho para BH. Ao mesmo tempo, faz muitos anos que a capital não elege uma candidatura progressista. Eu e Rogério seguimos com coragem e esperança.”