Pablo Marçal (PRTB), Ricardo Nunes (MDB), Tabata Amaral (PSB) e Guilherme Boulos (PSOL), candidatos à Prefeitura de São Paulo no último debate antes do primeiro turno -  (crédito: Reprodução/Rede Globo)

Pablo Marçal (PRTB), Ricardo Nunes (MDB), Tabata Amaral (PSB) e Guilherme Boulos (PSOL), candidatos à Prefeitura de São Paulo no último debate antes do primeiro turno

crédito: Reprodução/Rede Globo

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) foi o principal alvo de adversários no debate da TV Globo, nesta quinta-feira (3/10), a três dias do primeiro turno, um encontro marcado também pelo comedimento de Pablo Marçal (PRTB) na comparação com programas anteriores. O influenciador mirou tanto Nunes quanto Guilherme Boulos (PSOL), mas viu os rivais evitarem perguntas a ele para isolá-lo.

 

Boulos e Tabata Amaral (PSB) fizeram dobradinha para criticar Nunes, mas a deputada também o atacou, em estratégia para tentar crescer e chegar ao segundo turno. José Luiz Datena (PSDB) apresentou críticas a Nunes e buscou se colocar como uma opção de centro e avessa a extremismos.

 

 

Diferentemente dos debates anteriores, quando abusou de provocação e ataques, Marçal adotou uma postura mais contida --estratégia para brecar o avanço de sua alta rejeição, que já atinge 53%, segundo o Datafolha. Quando dirigiu pergunta a Nunes no segundo bloco, por exemplo, o influenciador criticou a gestão da educação, sem ofensas pessoais ao prefeito.

 

Tabata e Boulos ressaltaram várias vezes que esse não foi o comportamento do candidato do PRTB até aqui. Marçal teve momentos de retorno ao figurino de incendiário, como fez ao enveredar pela ideologia e acusar todos os rivais de serem candidatos de esquerda e ele, o único representante da direita.

 

Também retomou a metralhadora de ataques ao dizer que Datena está no fim da carreira, chamar Boulos de esquerdopata e dizer que ele flerta com o crime e lembrar o boletim de ocorrência por violência doméstica feito pela esposa de Nunes contra o prefeito.

 

Boulos fez ataques e travou embates diretos com Marçal, explorando a rejeição do influenciador entre o eleitorado feminino e perguntando: "Por que odeia tanto as mulheres?". O deputado também lembrou que a equipe do candidato do PRTB tem pessoas que já foram ligadas a João Doria (PSDB), a quem classificou como "uma enganação" e "um dos piores prefeitos de São Paulo".

 

O parlamentar reagiu à mudança de postura de Marçal, afirmando que, depois de tumultuar nos debates anteriores, agora quer posar de bonzinho. "Lobo em pele de cordeiro", disse. "Marçal acusar alguém de extremista é que nem Suzane von Richthofen acusar alguém de assassinato."

 

Marçal respondeu que isso é "papinho de esquerdopata maluco" e emendou com uma farpa contra o prefeito, afirmando que quem não gosta de mulher é quem foi alvo de BO por violência doméstica. Mesmo provocado por Boulos, o influenciador adotou comportamento menos agressivo do que em debates anteriores.

 

 

"O extremismo não pode governar São Paulo. São Paulo é uma cidade conservadora, eu sou cristão", disse o influenciador. Ele afirmou que o secretariado de Nunes é "praticamente todo de esquerda" e declarou que Boulos "destruiu o Hino Nacional com linguagem neutra", lembrando o caso ocorrido em um comício.

 

O deputado do PSOL, falsamente acusado por Marçal ao longo de toda a campanha de ser usuário de cocaína, apresentou um exame toxicológico, o que o levou a ser advertido pelo mediador, César Tralli, já que as regras proibiam a exibição de objetos. O exame com resultado negativo foi postado nas redes do candidato, que alfinetou o influenciador perguntando se ele vai fazer exame psicotécnico.

 

O emedebista, que mais uma vez foi ultrapassado por Marçal entre os eleitores bolsonaristas, direcionou ataque mais direto ao influenciador, citando reportagens que mostraram que o ex-coach não entregou as casas que prometeu na aldeia de Camizungo, em Angola. "Se não conseguiu fazer 300 casas, como vai colocar algo de concreto na cidade?", questionou o prefeito.

 

No primeiro bloco, Marçal evocou um discurso antissistema, contrastando com falas de Boulos em defesa da política. O influenciador disse que se diferencia dos rivais por não ter recursos milionários nem horário eleitoral na TV e rádio e acusou adversários de fazerem "campanha e propaganda enganosa". Ele pregou mudança de mentalidade e afirmou que a sociedade se curva aos políticos. "E a gente sempre escolhe o menos pior."

 

Marçal também se definiu como um "indignado com esse tipo de política", disse ser o único candidato que não deve favor para ninguém e falou ter a intenção de "servir e usar a política como filantropia" e estabelecer, se eleito, um "governo do povo", que servirá de exemplo para todo o país.

 

 

Boulos, por sua vez, ensaiou uma vacina contra o discurso antissistema do influenciador, dirigindo-se a "gente que perdeu a crença na política". "Eu te entendo, porque de fato tem gente que só usa a política para ganhar dinheiro e só aparece de quatro em quatro anos pedindo voto e fingindo que se importa com você."

 

O deputado afirmou enxergar a política como um instrumento para melhorar a vida das pessoas. Em aceno ao eleitorado periférico, citou ainda a vice Marta Suplicy (PT) e feitos da ex-prefeita como os CEUs e o Bilhete Único. Também ressaltou ter o apoio do presidente Lula (PT), o que disse ser um trunfo para tirar do papel projetos como o Poupatempo da Saúde.

 

Ao longo do debate, o psolista fez uma série de acenos ao eleitor da periferia, buscando superar a estagnação nesse segmento. Ele ressaltou propostas do plano de governo para estes bairros e usou a proximidade com a gestão federal para prometer mudanças.

 

Em conflito por causa dos apelos por voto útil no campo da esquerda, Boulos e Tabata fizeram dobradinhas com troca de perguntas sobre propostas. O deputado deu à colega de Câmara oportunidade de falar sobre a área da saúde na gestão Nunes, que ela descreveu como "medíocre e inoperante".

 

 

Mais adiante, no entanto, a deputada confrontou Boulos por recuos em temas caros a ele e à esquerda, questionando se "vai prevalecer o Boulos dos marqueteiros ou o Boulos do PSOL".

 

"Lamento que você traga questões tão importantes nesse tom", respondeu ele, que aproveitou para criticar a concessão dos cemitérios. Tabata também alvejou Marçal, observando que "todo mundo está se comportando", mas pedindo que os espectadores se lembrem como os rivais se comportaram nos últimos debates.

 

No início, Tabata teve embates com Nunes ao questioná-lo sobre problemas como filas na saúde e população em situação de rua. "É muito fácil ficar só criticando", retrucou o prefeito, exaltando seu trabalho. "Em seis anos de mandato, a gente viu pouquíssimo da sua ajuda aqui para a cidade."

 

A deputada evitou bater boca com ele, limitando-se a citar projetos que aprovou, como o Pé de Meia. "Ele [Nunes] não responde e ainda diz que a cidade está a oitava maravilha", alfinetou, falando em "oportunidade de mudança em São Paulo" com a eleição.

 

"A gente merece ou não merece mais? Porque eu acho que sim. Porque esse prefeito é pequeno demais", continuou ela, que irritou o emedebista com a afirmação. Ele a questionou sobre não ter votado em um projeto na Câmara que aumenta penas para autores de crimes como furto e roubo.

 

 

Nunes, que precisa reverter o avanço de Marçal entre os eleitores bolsonaristas, fez um aceno para esse grupo. Ele usou o debate para martelar a ideia de que faz um governo liberal na economia, com redução de impostos e responsabilidade fiscal. "Tem muita coisa para fazer? Eu sei que tem", disse, ao prometer, caso reeleito, reduzir ainda mais filas na saúde e encarar outros problemas.

 

Boulos, no segundo bloco, negou que aumentará impostos caso eleito, afastando possíveis críticas associadas à condução econômica da esquerda. "O problema da prefeitura não é falta de dinheiro. Estamos com o maior orçamento da historia. O que falta é prefeitura com coragem, vontade de fazer as coisas que precisam ser feitas", disse.

 

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O confronto entre candidatos também contou com imprecisões. Tabata, por exemplo, exagerou ao afirmar que Nunes "foi além. Ele recebeu uma cracolândia e está entregando 72". Levantamento da própria prefeitura em 2014, na gestão de Fernando Haddad (PT) apontava a existência de 30 pontos de uso de drogas espalhados pela capital paulista.

 

Ainda, Datena afirmou ter havido 120 milhões de mortes por fome durante o governo de Mao Tse Tung na China. Algumas cifras estimadas por especialistas apontam 40 milhões de mortos, apesar de não haver estatística oficial.

 

Segundo pesquisa Datafolha desta quinta, Boulos (26%), Nunes (24%) e Marçal (24%) estão tecnicamente empatados na liderança da corrida. O deputado do PSOL teve oscilação positiva, o prefeito recuou em relação à semana passada e o influenciador manteve a curva ascendente.