Zula e Carlinhos se surpreenderam com a quantidade de eleitores que não foram votar ou que votaram nulo/em branco na cidade. Cerca de 16% dos moradores de Inhaúma não foram votar, o que equivale a 912 pessoas -  (crédito: Edesio Ferreira/EM/D.A Press)

Zula e Carlinhos se surpreenderam com a quantidade de eleitores que não foram votar ou que votaram nulo/em branco na cidade. Cerca de 16% dos moradores de Inhaúma não foram votar, o que equivale a 912 pessoas

crédito: Edesio Ferreira/EM/D.A Press

O tema que dominava a pequena cidade de Inhaúma, na região Central de Minas Gerais, na manhã desta segunda-feira (7/10), um dia após a decisão eleitoral mais apertada da história do município, era o empate entre os postulantes à prefeitura Max Oliveira dos Santos, o Zula (Republicanos) e Carlos Juvenil Gomes Barbosa, o Carlinhos (Solidariedade). Cada um recebeu 2.434 entre os 5.780 eleitores aptos a votar, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

 

 

Ao serem entrevistados pelo Estado de Minas, os dois ainda se mostravam atônitos com o ocorrido. "Sentimento inusitado das coisas que aconteceram. O empate é...", disse Carlinhos com dificuldade de encontrar palavras para explicar o que ocorreu.

 

 

"A pesquisa interna que a gente fez mostrava uma margem boa de frente. Esse empate e possível perda foi uma surpresa muito grande", disse Zula, alguns segundos depois de também ter tido dificuldades de encontrar palavras para explicar o que ocorreu.

 

Em casos assim, uma legislação de 1965 do Código Eleitoral determina a vitória do candidato mais velho. Como se não bastasse a improbabilidade de dois candidatos receberem exatamente 50% dos votos, ainda havia mais uma inusitada coincidência, os dois nasceram no dia 7 de agosto. A única, e cabal diferença, é o ano. Zula nasceu em 1962 e tem 62 anos, já Carlinhos é de 1978 e completou 46 neste ano. Mais uma coincidência une os dois candidatos: ambos nasceram em anos que tiveram Copa do Mundo.


O candidato "não eleito", já que disse não se considerar derrotado, se queixou do critério usado para a decisão, mas reforçou que "respeita a decisão das urnas" e que não vai pedir recontagem de votos.

 

 

Contudo, afirmou estar tranquilo: "Você viu, estava ali brincando com meus cachorros, a rotina continua, vida que segue e pés no chão". Um pouco antes, Carlinhos contou que os amigos, ainda assustados, estavam indo à sua casa para lhe dar um abraço de conforto desde às 6h da manhã.

 

O empate causou surpresa em Zula que esperava uma vitória mais folgada, dentro do que é possível na cidade. "O pessoal me conhece. Ele (Carlinhos) era uma pessoa nova. Primeira vez na eleição. Mostrou que realmente o pessoal quer coisa nova também", avaliou.

 

Desde as eleições de 2004, o prefeito eleito participou de todos os pleitos, tendo sido vencedor apenas em 2012, com 49,26% dos votos válidos.

 

 

Eleito para governar pelos próximos quatro anos, Zula adotou tom conciliador. "Eles tinham esperança no outro, mas não deu. No início da gestão, quando o pessoal sentir seriedade, transparência e resultados acho que a coisa muda", disse, mencionando também não ter "nada contra, nem a favor" do adversário.

 

Pelas ruas da cidade a divisão era visível. Casas e estabelecimentos que dividiam o mesmo muro alternavam materiais gráficos amarelos e laranjas, cores mais usadas pelas legendas. Na porta do comitê de campanha de Carlinhos, por exemplo, a população fazia festa com o resultado, contudo ali estavam os opositores. Não movidos apenas por uma vontade de fazer troça com o adversário, mas sim pelo imóvel vizinho ser a loja de materiais de construção do vice-prefeito eleito.

 

 

A festa ainda contou com outro momento inusual. Um dos celebrantes pediu algumas cervejas para serem entregues no local, o motoqueiro que chegou com alguns fardos de bebidas tinha em seu baú três adesivos do adversário.

 

912 ELEITORES NÃO VOTARAM

Uma outra surpresa foi mencionada pelos dois entrevistados, a abstenção de quase 16% dos eleitores: 912 pessoas que estavam aptar a votar, não compareceram ou votaram nulo/em branco.

 

Um integrante da campanha de Carlinhos, ao saber que iríamos buscar alguém que não tivesse votado em nenhum dos dois, por qualquer motivo que fosse, previu o que seria um dos grandes problemas. "Acho que ninguém vai querer falar. Cidade pequena, vai acabar se indispondo com um ou outro. Acho que ninguém vai assumir", vaticinou.

 

Alguns moradores disseram que conhecidos não votaram, pela mais variada gama de motivos, doença grave, viagem ou por terem chegado ao local de votação em uma ínfima diferença de minutos registrados entre o relógio do eleitor e o do local de votação.

 


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Apenas uma pessoa disse que tinha votado em branco, mas ressabiado com a possibilidade de ser "descoberto" por um dos lados, acabou alegando ter tido um "imprevisto" e passou a ignorar as diversas tentativas de contato.