O vereador Pablo Almeida (PL), recém-eleito como o mais bem votado da história de Belo Horizonte com 39.960 votos, afirmou que seu resultado nas urnas é um recado claro da população. Cristão, conservador e apadrinhado pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL), ele superou a marca anterior da deputada Duda Salabert (PDT), que detinha o recorde como a vereadora mais votada da capital mineira.
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Durante a conversa com Estado de Minas, ele destacou temas como o conservadorismo, reafirmou sua posição contrária à mistura de política e religião em cultos, se opôs ao aborto e confirmou que será uma “extensão” de Nikolas na Câmara. Com um histórico como ex-chefe de gabinete na Câmara dos Deputados, o novo vereador prometeu proteger as famílias e os bons costumes.
“A eleição deixou um recado claro. A vereadora mais votada foi Duda, mas nesta eleição, o mais votado foi um cristão conservador. Isso mostra que a população de Belo Horizonte está insatisfeita com a atuação de alguns parlamentares”, declarou.
Sobre seu mentor, Pablo enfatizou que não existem diferenças significativas entre eles. “A única diferença é basicamente a aparência (risos). Em termos de princípios e valores, estamos completamente alinhados. O eleitor que votou em mim espera que eu represente seus interesses da mesma forma que Nikolas fez quando estava na Câmara. Assim como ele, serei firme, propositivo e fiscalizarei. Quero ser uma extensão do mandato que ele iniciou aqui, garantindo que as pautas conservadoras sejam bem representadas”.
O vereador eleito ainda falou sobre sua experiência como assessor de Nikolas. “Durante o primeiro ano do mandato dele, fiquei responsável por Minas Gerais, organizando as questões locais, enquanto a equipe em Brasília cuidava da parte mais técnica. Viajávamos constantemente para alinhar as ações, e foi uma experiência incrível para minha formação política. Entendi como funciona a gestão de um gabinete, e isso vai me ajudar agora como vereador, tanto na escolha da equipe quanto na condução dos trabalhos”.
Confira a entrevista na íntegra
Pablo, como o senhor reagiu ao resultado expressivo de 39.960 votos? Você já esperava esse número ou foi uma surpresa?
Ser o único candidato apoiado pelo deputado Nikolas Ferreira já nos indicava uma votação expressiva, mas eu não imaginava que seria o vereador mais votado. Isso depende de uma série de fatores. Foi a primeira vez que testamos essa transferência de votos dele, e, embora Nikolas tenha uma força política inegável, não sabíamos ao certo como seria a aceitação. Não fizemos pesquisas para vereador, então minha “pesquisa” era na rua. Estive presente em todas as nove regionais, conversei com muita gente e fiz uma campanha honesta e limpa. No fim, fomos recompensados com esse resultado.
O senhor tem uma formação religiosa, chegando a se preparar para ser pastor. Como pretende equilibrar essa carreira com a política?
Se eu tivesse me tornado pastor, teria abdicado desse título para entrar na política. Acredito que não se pode dissociar princípios e valores da vida pública, mas também não acho correto misturar religião e política de forma oportunista. O pastor tem o papel de educar e dar ferramentas para que o cristão faça boas escolhas na sociedade, mas usar o púlpito para pedir votos, por exemplo, é algo que eu discordo completamente.
O senhor afirmou que quer tornar Belo Horizonte a cidade mais conservadora do Brasil. Como isso será possível?
Ter Bruno Engler no segundo turno e uma bancada forte de conservadores já foi um grande passo. Mas essa transformação só será completa se conseguirmos também eleger o executivo, com ele na prefeitura. Precisamos de um governo comprometido em resolver problemas como saúde precária, insegurança e falta de vagas em creches. A população está cansada de uma cidade que não atende suas necessidades básicas, e nosso compromisso é mudar isso.
Como o conservadorismo será aplicado na Câmara?
O conservadorismo é, acima de tudo, prático. Trabalhamos com a realidade e as ferramentas que temos. Eleger uma bancada conservadora é uma resposta ao que a população de BH quer, e nosso foco será propor soluções reais para os problemas da cidade, sem cair nas armadilhas de cabrestos políticos que muitas vezes as pautas sociais são usadas.
A pauta de costumes é muito relevante para o segmento conservador. Belo Horizonte tem hoje um dos carnavais mais importantes do país. Houve uma mudança significativa, já que a cidade praticamente não tinha essa festa, e agora atrai milhares de turistas de todo o Brasil. Muitas pessoas que costumavam sair da capital hoje ficam para curtir o carnaval. Isso é uma preocupação para o senhor? Como você pretende abordar essa questão em sua gestão?
Eu não participo do carnaval porque não concordo com esse tipo de festa. Minha postura é essa: se não concordo, não participo. Mas acredito que devemos criar outras formas de atrair turismo além do carnaval. Belo Horizonte pode e deve buscar novas maneiras de se destacar, porque, infelizmente, nossa cidade tem se tornado apenas um local de passagem. Antigamente, as pessoas vinham para cá para visitar nossos pontos turísticos, como a Praça do Papa, a Praça da Estação e a Lagoa da Pampulha. Hoje, essas áreas estão abandonadas. O que vemos é uma gestão que não foca em geração de emprego e renda.
Então, o senhor propõe algo além do carnaval para fomentar o turismo?
Exato. Os próprios ambulantes na Lagoa da Pampulha já me relataram as dificuldades que enfrentam. Quando há eventos no Mineirão, eles são impedidos de trabalhar perto do local, mesmo com autorização. A lagoa, que já consumiu bilhões de reais ao longo de 20 anos em tentativas de limpeza, ainda está suja. Não vemos uma vontade política real de resolver esse problema. As reformas em lugares como a Praça do Papa e a Praça da Estação não trazem melhorias palpáveis. Na última, por exemplo, foram gastos mais de R$ 8 milhões, mas, quando fui lá, estava tudo igual, até as pichações antigas permaneciam. Isso é um absurdo. É o famoso "pão e circo", sem melhorias reais.
Sobre a política na Câmara, a bancada do PL cresceu, e agora temos a eleição de uma vereadora trans, Juhlia Santos (Psol). Qual será sua relação com ela? Será parecida com a de Nikolas com a Duda Salabert?
Minha relação será meramente institucional. Estamos em campos políticos opostos e acredito que a última eleição deixou um recado claro. A vereadora mais votada foi Duda, mas nesta eleição, o mais votado foi um cristão conservador. Isso mostra que a população de Belo Horizonte está insatisfeita com a atuação de alguns parlamentares. A parlamentar apoiada por Duda teve uma votação muito inferior, o que reforça essa insatisfação.
E quanto a Pedro Rousseff, sobrinho-neto da ex-presidente Dilma Rousseff? Como será sua relação com ele?
Também será institucional. Não tenho nenhum interesse em ser amigo dele. Inclusive, já fiz vídeos desmentindo algumas fake news que ele espalhou sobre mim e sobre o Nikolas. Tivemos alguns embates nas redes sociais durante a campanha e ele foi processado por causa de uma dessas mentiras. Ele tentou nos acusar de coisas sem fundamento e, sempre que isso acontecer, vou continuar desmentindo as falácias.
Podemos esperar um "Pablo Almeida" combatendo a esquerda na Câmara, no estilo de Nikolas?
Eu sempre defenderei a verdade. Na Câmara, não é apenas a minha voz, mas a de quase 40 mil pessoas que me elegeram. Não vou me acovardar ou deixar de lutar pelos nossos princípios. Sou uma pessoa tranquila e sempre aberta ao diálogo, mas também sou firme em meus valores. Vou representar essas pessoas da melhor forma possível ao longo do meu mandato.
Até porque, a “cadeira” da Câmara é meio pesada, não é?
A cadeira da Câmara é muito pesada. Mas se você observar, quem acaba sendo atacado são sempre figuras como o Trump, o Bolsonaro, o Marçal. Quem geralmente parte para esse tipo de agressão é o espectro progressista, não somos nós. Apesar de eles nos acusarem de termos um discurso violento, na prática, quem age com violência são eles. Eles têm o discurso do amor, mas suas atitudes são violentas.
E quanto ao 8 de janeiro aqui no Brasil?
Sobre o 8 de janeiro, acredito que os responsáveis foram baderneiros e devem pagar por aquilo que fizeram. Mas é preciso haver proporcionalidade nas penas. Como é possível que alguém que invadiu o Congresso seja condenado a uma pena maior do que a de um estuprador, por exemplo? Que tipo de golpe é esse que ocorre sem ninguém lá dentro, sem deputados ou ministros? Foi uma baderna, sim, mas não foi um golpe de Estado. E quando a esquerda invade, com participação de parlamentares, ninguém fala nada.
O Nikolas Ferreira teve suas redes sociais bloqueadas pelo Alexandre de Moraes devido ao 8 de janeiro.
O curioso é que não há nenhuma publicação dele incentivando as invasões. Eu desafio qualquer pessoa a encontrar algo assim. Estamos vivendo um momento complicado no país, em que um deputado que chama Lula de ladrão é obrigado a responder na Polícia Federal e no STF por dizer a verdade. Hoje, você não pode nem dizer que o céu é azul sem ser questionado.
Você estava na manifestação que pediu o impeachment do Alexandre de Moraes e a anistia dos presos do 8 de janeiro. Qual a sua posição?
Eu sou a favor de que haja uma equivalência nas penas. Acho revoltante que alguém que quebrou uma mesa fique preso por 17 anos. Algumas pessoas que estavam orando na frente do Congresso foram condenadas da mesma forma que quem invadiu. Agora, acredito que o impeachment do Alexandre de Moraes é necessário. O ativismo judicial que tem ocorrido no STF, liderado por ele, precisa acabar. Precisamos de harmonia entre os poderes, e o Judiciário está se sobressaindo demais.
Então, você não é a favor da anistia?
Em alguns casos, sou a favor, sim. Para aquelas pessoas que não invadiram o Congresso, que estavam apenas orando, acredito que a anistia seja justa.
Sabemos que, durante o mandato, pode surgir a necessidade de votar projetos que não agradam totalmente a quem o elegeu. Como pretende lidar com seus eleitores nesses casos?
Estou focado em trabalhar por Belo Horizonte. Se algum projeto que vá contra meus princípios for colocado em votação, votarei "não". Não sou de ficar em cima do muro. Claro que sempre conversarei com as pessoas, mas podem ter certeza de que nunca trairei os valores que me trouxeram até aqui.
Pablo, estávamos falando sobre pautas conservadoras e um tema importante que gostaríamos de ouvir sua opinião é sobre o aborto, que foi objeto de projetos na Câmara e ainda mexe com o país de maneira geral. Qual é a sua posição?
Sou completamente contra o aborto. Eu já conversei sobre isso em outras ocasiões. Infelizmente, antes do nascimento da minha filha Alice, minha esposa e eu passamos por dois abortos espontâneos, o que nos fez vivenciar um sofrimento profundo. Lembro que, enquanto ela perdia nosso bebê, havia outra mulher na mesma unidade de saúde dando à luz, o que foi muito doloroso psicologicamente para minha esposa. É uma situação difícil.
Por isso, acredito que algo deve ser feito. Me parece que já foi apresentado um projeto para que essas situações não aconteçam mais no mesmo ambiente. Acredito que é importante que uma mãe que está perdendo um bebê tenha um espaço separado das que estão dando à luz.
Sobre o aborto, o direito primordial de qualquer sociedade é o direito à vida. Se você nega esse direito, todos os outros caem por terra. A narrativa de que uma criança não teria condições de ser criada é falaciosa. Conheço muitas pessoas que vieram de situações difíceis e que superaram suas realidades para se tornarem grandes profissionais, como médicos e advogados.
Mas, seguindo seu raciocínio, no Brasil o aborto é permitido em três casos. Um deles é quando há risco de vida para a mãe. Qual é sua posição nesse caso?
Nesse caso específico, em que há risco de vida para a mãe, é uma questão de equivalência de valores. A mãe já tem uma estrutura social, já está presente. Então, sim, acredito que, nesses casos, deve-se preservar a vida da mãe. Mas, ainda assim, minha posição é clara: os dois deveriam estar bem e vivos. Contudo, em uma situação de risco, a vida da mãe deve ser priorizada.
Além da questão do aborto, quais outras pautas o senhor pretende defender na Câmara?
Pretendo defender muitas pautas. Um dos projetos que quero apresentar, por exemplo, é voltado para facilitar a vida de pequenos comerciantes em comunidades. A ideia é desburocratizar o processo para que essas pessoas possam trabalhar de forma regular, sem obstáculos.
Outro ponto é a questão da telemedicina. Em muitas comunidades, como na Cabana, vemos pessoas com dificuldades de locomoção para buscar atendimento médico. A telemedicina pode ser uma solução para esses casos, permitindo que, por exemplo, uma senhora idosa não precise sair de casa para conseguir uma receita.
E sobre os valores conservadores? O senhor tem algum projeto específico nessa área?
Sim. Pretendo defender tudo aquilo que preserve a família e proteja nossas crianças. A pauta conservadora não é uma ideologia, é um estilo de vida. Não sou contra o progresso, mas sou contra pautas como a legalização das drogas ou a adoção de uma linguagem neutra, que exclui minorias em nome de uma inclusão seletiva. Queremos modernizar o que precisa ser modernizado, como o sistema de trânsito, por exemplo, mas sem nos submeter a agendas ideológicas que não trazem benefícios reais à sociedade.