Partidos de esquerda sem representatividade no Congresso Nacional, conhecidos como "nanicos", geraram controvérsia ao declararem apoio ao voto nulo no segundo turno das eleições de Belo Horizonte. A disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) está polarizada entre Bruno Engler (PL), apadrinhado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e o atual prefeito Fuad Noman (PSD), que recebe apoio de siglas da esquerda.
Entre as legendas que optaram por apoiar a estratégia do voto nulo estão o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), a Unidade Popular (UP) e o Partido da Causa Operária (PCO), que concorreram na capital mineira. No primeiro turno, Indira Xavier, candidata pelo UP, obteve 0,19% dos votos, totalizando 2.462 votos, ficando na 8ª posição. Na sequência, Wanderson Rocha, do PSTU, conquistou 0,05%, com 667 votos. Já Lourdes Francisco, do PCO, alcançou 0,02%, equivalente a 231 votos.
O posicionamento foi compartilhado nas redes sociais das legendas e vêm sendo criticados. Em linhas gerais, os partidos, historicamente alinhados à extrema-esquerda, justificam que ambos os candidatos são apoiados por grupos empresariais, os quais, segundo eles, estariam priorizando seus próprios interesses. No entanto, a postura vem sendo alvo de críticas por considerarem que a estratégia poderia enfraquecer o campo progressista na cidade e até mesmo colaborar para a vitória de Engler.
Em nota, o PSTU afirmou que há uma pressão significativa entre ativistas e setores progressistas para apoiar a candidatura de Fuad Noman no segundo turno, como forma de derrotar a direita representada por Bruno Engler. No entanto, o partido ressalta que ambos os candidatos seriam financiados pelos mesmos empresários, que estariam promovendo seus próprios interesses na cidade, sem atender às necessidades da classe trabalhadora.
As críticas também são expandidas às siglas de esquerda que apoiam Fuad - como PT, PDT e PSol. "Entendemos que a vanguarda sinta-se pressionada para derrotar a extrema direita e votar em Fuad, como o menos pior dos candidatos. Essa política também é alimentada pelo PT, PSOL, PDT, e dirigentes dos movimentos sociais. Mas alertamos que essa política, na verdade, vai confundir a classe contra seus inimigos. Diante do peso da extrema direita é preciso construir desde já a organização de nossa classe, da juventude, para enfrentar nas ruas os bilionários, os grandes capitalistas e a extrema direita", diz o PSTU.
"Frente a isso, afirmamos não ser possível votar em Fuad Noman para derrotar Bruno Engler. Essa ideia confunde quem é o inimigo a ser combatido: os bilionários capitalistas que controlam nossa cidade, apoiadores de ambos os candidatos. Nossa sociedade está dividida em grupos antagônicos, com interesses opostos; não é possível servir a dois senhores", completa.
Nos comentários da publicação do posicionamento do PSTU, eleitores manifestaram críticas ao movimento em defesa do voto nulo. “O sindicato escancarou de vez o partidarismo político, que sempre dominou as decisões da categoria. Foi exatamente por esse extremismo liderado pelo PSTU, que me desfiliei. Não há um compromisso com a defesa da democracia, mas apenas com os interesses partidários. Não me esqueço de como se comportaram no GOLPE contra Dilma! #FORAPSTU!”, disse um usuário.
“Anular é assumir que não importamos com 4 anos de Bruno Engler. Sendo que da parte dele podemos esperar o pior da força policial na periferia. Quero compactuar com isso não. Muito contra a minha vontade vou votar no prefeito motosserra que não faz nada pelo transporte público”, comentou outro eleitor.
“Lamentável esse discurso! É preciso fazer qualquer coisa pra evitar esse bolsonarista! Não entendi vocês! E nem quero entender! Quero FUAD 55 no segundo turno!”, disse outro usuário.
“Nossa! Nem acredito nesse posicionamento de vocês. Voto nulo não ganha eleição. Dessa forma vocês estarão fortalecendo o fascismo”, enfatizou uma eleitora.
Entre os comentários, poucos concordavam com o posicionamento do PSTU. “Trabalhador não pode votar em representante direto dos patrões”, disse um eleitor. “Os dois receberam dinheiro de bilionários da cidade”, afirmou outro.
“Posição do PSTU sempre coerente. Ultra direita se combate nas ruas, não se aliando com candidatos financiados pelos que nos atacam”, comentou um usuário. “Parabéns pela decisão do voto nulo. Eleição com candidatos que são financiados pela burguesia local não merecem campanha nem votos. Que a classe trabalhadora saiba se organizar para fortalecer a luta contra o capitalismo e não seja iludida pelas eleições burguesas. Parabéns. Sábia decisão”, pontuou um eleitor.
Na mesma linha, a Unidade Popular (UP), que concorreu nas eleições do Executivo municipal com a candidata Indira Xavier, apoia o voto nulo no segundo turno da capital mineira como “forma de protesto”. Para eles, o “voto nulo é o voto mais útil para seguir lutando” contra o “fascista Bruno Engler” e o “autoritário Fuad Noman”.
Em nota, a sigla afirma que ambas as candidaturas classificadas ao segundo turno são representações da burguesia, em eleições marcadas pela “compra de votos, despolitização e vereadores com muito dinheiro para votar a favor dos financiadores e contra a maioria do povo”.
Para a UP, Engler é definido como “filhinho de papai fascista”, representante de um partido que, de acordo com eles, vota contra a classe trabalhadora e é a favor do aumento de armamento policial, “que na prática significa o aumento de mortes do povo negro e pobre”. A sigla ainda insinuou que o candidato, ao invés de disputar a eleição, “deveria estar preso com seus generais e bandos fascistas”.
Além disso, a sigla considera a candidatura de Fuad Noman, apoiada por partidos de esquerda como o PT, PDT e PSol, autoritária. Para eles, a gestão do atual prefeito é marcada por autoritarismo, com decisões como aumento da passagem de ônibus e a urbanização de vilas e favelas sem consulta popular, além de ordenar despejos violentos de ocupações e agressões contra professores.
Segundo Indira Xavier, o voto defendido pela UP não é nulo. “Nosso voto é um voto de protesto e, votar 80 não é anular, é mostrar uma posição política e um compromisso de seguir lutando pelos nossos direitos", afirma. Ela ainda endossa que o posicionamento do partido foi estudado em conjunto com o diretório nacional, além de debatido no diretório mineiro.
O posicionamento do partido não foi bem recebido pela maioria dos apoiadores. “Sinceramente, uma pena o posicionamento da UP. Voto nulo não é protesto, não é revolução, é só uma tentativa falha de se isentar. Era melhor só não apoiar ninguém do que apoiar o voto nulo”, afirmou um seguidor.
Um seguidor comentou que “não endossar o Fuad é coerência, mas incentivar voto nulo nessa conjuntura beira o trotskismo”, enquanto outros afirmam que votar no Fuad é “contenção de danos”, contra o endossamento do bolsonarismo: “Não existe voto de protesto. Voto nulo é dizer que o que os outros decidirem tá bom pra você”, disse outro.
“E, novamente, temos a esquerda radical e seu sectarismo ajudando o projeto político da extrema-direita”, criticou uma eleitora. Um usuário até questionou: “Ué, caí na página do PSTU?”.
Na contramão, uma pessoa comentou que o posicionamento da UP é condizente com a história do partido. “A UP jamais poderia declarar voto no Fuad. A UP não acredita na democracia burguesa! É um posicionamento importante para a gente ver a coerência do partido com a bandeira. Me deixa muito tranquilo e feliz ver a UP manter o seu posicionamento firme”, afirmou.
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Já o Partido da Causa Operária (PCO) não publicou nota oficial como os outros partidos citados, mas, na 37º Conferência Nacional do PCO, defendeu voto nulo nas cidades que tiverem segundo turno, embora não tenham citado Belo Horizonte.
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“Diante de situações como Boulos e Nunes em São Paulo, a militância do PCO propôs e votou a favor de anular o voto no segundo turno das eleições municipais”, afirmou o partido em documento em página oficial.