O primeiro debate do segundo turno das eleições municipais de Belo Horizonte, realizado a quatro dias do pleito, foi marcado por acaloradas trocas de farpas entre os candidatos Bruno Engler (PL) e Fuad Noman (PSD). No encontro, promovido pela rádio Itatiaia na manhã desta quinta-feira (24/10), o atual prefeito e candidato à reeleição Fuad Noman defendeu sua gestão enquanto intensificava as críticas a Engler, chamando-o de inexperiente e afirmando que ele não tem conhecimento do que está acontecendo na cidade.
Engler, por sua vez, disparou duras críticas a atual administração, posicionando-se como a solução para os problemas da capital mineira. Ele também criticou a ausência do prefeito nos debates, alegando que ele não consegue defender seu próprio mandato por ser "indefensável".
Essa foi a primeira vez que os candidatos ficaram frente a frente no segundo turno das eleições para debater as propostas para a cidade. Durante todo o debate, Fuad se apresentou como o candidato mais experiente para a gestão pública e defendeu a continuidade de seus projetos para a cidade. Além disso, acusou Engler de espalhar informações falsas sobre sua administração.
Por sua vez, Engler criticou diversas áreas da gestão, incluindo educação, saúde pública e mobilidade urbana, entre outras. O deputado estadual ainda afirmou que Fuad retrata uma Belo Horizonte que não condiz com a realidade vivida pelos belo-horizontinos.
O primeiro bloco começou com Engler questionando a falta do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) nas escolas de Belo Horizonte. O deputado criticou o fato de que mais da metade das escolas não possuem vistorias. Em sua resposta, Fuad disse que esse é um histórico que herdou das gestões passadas, mas afirmou que tem empenhado esforços para colocar a situação em dia. "Eu entendo que o AVCB precisa ser feito. Muitas escolas não o fizeram porque temos um histórico de governos ruins e a gente agora está trabalhando para resolver esse problema", disse.
O debate avançou para as questões de infraestrutura nas vilas e favelas de Belo Horizonte, quando Fuad questionou as propostas de Engler para o orçamento participativo, que destina uma parte dos recursos para as comunidades.
Ao respondê-lo, Engler reiterou a necessidade de descentralizar os recursos e ouvir a população. Ele emendou sua fala a críticas às obras realizadas pela atual gestão, comparando-as a "maquiagens que não mudam nada na vida das pessoas". "Eu não vou gastar R$ 8 milhões para trocar a Praça da Estação de seis para meia-dúzia. Esse recurso poderia estar sendo empenhado em Vilas e Favelas, com investimento para quem precisa", disparou.
Em réplica, Fuad rebateu as críticas, argumentando que as mudanças e melhorias estão em andamento. "Você que mora na Vila, na Favela, sabe o quanto nós estamos trabalhando pelas vilas e favelas. E é isso que eu quero continuar fazendo", ressaltou.
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Associação a Kalil
Engler também acusou o atual prefeito de esconder seus aliados políticos. Ainda no primeiro bloco, o parlamentar questionou a Fuad sobre uma denúncia feita pelo Ministério Público contra o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil, a qual ele foi vice-prefeito e secretário.
Fuad respondeu que não tinha nada a ver com o processo e classificou a pergunta de Engler como um "desespero”, alegando que não há "nenhum escândalo na Prefeitura". "Você procurou, procurou, procurou e não achou", emendou.
“Você deve ter observado que não fala nada do nome do prefeito, sabe por quê? O prefeito não tem nada a ver com isso. O prefeito tem 55 anos de vida pública, toda limpa, toda transparente. Se o Kalil cometeu uma irregularidade, que ele vá responder para o Ministério Público. Eu nunca compactuei com coisa errada e vem falar que explodiu escândalos na prefeitura? Você está fazendo muito fake news, pare com isso, isso está parecendo desespero da sua parte”, replicou.
Enchentes e Serra do Curral
O debate também se intensificou ao se discutir as enchentes na cidade. Fuad afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), aliado de Engler, prometeu mandar recursos para a cidade para o combate às enchentes, mas “nunca mandou”. "O senhor diz que só tem tapumes (ao invés de obras), quer dizer que não conhece as obras, como o senhor vai concluir as obras se não as conhece?", questionou Fuad.
Em resposta, Engler prometeu concluir todas as obras de infraestrutura, caso seja eleito, e disse que é preciso implementar novas tecnologias para a prevenção de enchentes. "Eu vou concluir todas as obras que forem de interesse para o cidadão [...]. O dinheiro que está no caixa da prefeitura é dinheiro que o cidadão suou, pagou seu imposto, e esse recurso precisa ser respeitado", afirmou.
Em contrapartida, Fuad afirmou que Engler não conhece os verdadeiros problemas da cidade. "Você não fica dizendo que é só tapume? As obras estão lá, são obras importantes, que têm que ser concluídas. Eu disse que você não vai concluir porque você não as conhece. Eu tenho muita preocupação mesmo, porque uma pessoa que não conhece o que está acontecendo na cidade fala que vai concluir. Concluir o quê? Não sabe o que está acontecendo, não acompanhou".
O tema da mineração na Serra do Curral também foi abordado pelos candidatos. Fuad questionou a posição de Engler, que afirmou que não iria impedir a mineração na região. "Se quisesse acabar com a mineração na Serra do Curral, já o teria feito", criticou Engler, ressaltando que a transparência deve prevalecer em uma eventual gestão.
"Na minha gestão, nós vamos respeitar a lei, se o governo tombar a Serra do Curral, nós iremos respeitar. E no meu governo vai ter sim fiscalização, e fiscalização séria, para que a gente não tenha nenhuma irregularidade. Agora, quem está operando ali há muito tempo, com todas as exigências ambientais, que não tá gerando dano ao meio ambiente, não tem problema", emendou.
Na sequência, o deputado acusou o prefeito de ter recebido recursos para a campanha de mineradores. "Você fala que eu recebi, você recebeu R$ 300 mil diretamente de mineradores. Será que é por conta disso que você defende a mineração?", rebateu o prefeito.
Meio ambiente e banheiros públicos
O segundo bloco de debate foi dedicado a perguntas encaminhadas por eleitores. O confronto direto entre os candidatos foi menor, pois não havia tréplica. Fuad foi questionado sobre suas propostas para o meio ambiente e destacou a intenção de plantar mais árvores, criar corredores de "miniflorestas" e realizar obras para drenagem e contenção de enchentes. O prefeito também expressou preocupações com as mudanças climáticas, ressaltando a necessidade de entender melhor os riscos futuros.
"A minha preocupação fica naquilo que a gente não conhece. O que está vindo com o aquecimento global? [...] Por isso, estou criando, no meu próximo governo, um conselho de estudo das mudanças climáticas," afirmou, enfatizando a importância de se preparar para os desafios que podem surgir.
Bruno Engler, por sua vez, reconheceu que a proposta das miniflorestas era uma "boa ideia", mas criticou Fuad por não ter implementado essa iniciativa durante seu mandato. Em relação aos parques da cidade, Engler defendeu a necessidade de descentralizar a gestão, apontando que os parques da Região Centro-Sul não devem ser os únicos a receber atenção. "Os parques de Belo Horizonte precisam de muito cuidado e carinho [...] e não só os parques da região central, mas a gente tem que trabalhar essas áreas até para fomentar o turismo" disse, destacando a importância de parques como o Municipal e o das Mangabeiras para o turismo e o lazer das famílias.
Engler também falou sobre a ampliação dos banheiros públicos nas áreas centrais de Belo Horizonte, especialmente em pontos turísticos. Ele criticou a administração atual, sugerindo que os contratos de aluguel de banheiros químicos são uma solução temporária e que é necessário um investimento em banheiros públicos permanentes. "A gente vai dar uma solução definitiva com a construção de banheiro público, que a gente entende que é uma política importante para a nossa cidade", prometeu.
Fuad respondeu ressaltando os projetos já realizados em sua gestão, mencionando a inauguração de cinco novos banheiros em breve. "Não é banheiro químico, é um banheiro absolutamente autolimpante”, afirmou.
Saúde e gestão pública
Ao abordar a saúde pública, Fuad fez um contraponto às críticas de Engler sobre a falta de realizações. "As tarefas precisam de um prazo para serem concluídas. Tem tempo, não é assim, eu faço hoje e amanhã está pronto. Isso (as críticas) talvez seja por falta de experiência no serviço público. O senhor pelo que eu conheço nunca administrou nada" comentou.
Engler rebateu, acusando Fuad até de copiar suas propostas. “Ele diz que eu sou tão inexperiente, mas copia as minhas propostas. Eu tô falando de telemedicina desde o primeiro turno. Que bom que copiou a proposta, prefeito, não tem problema. Proposta boa pra ser copiada, mas o senhor já poderia ter feito", provocou.
No início do terceiro bloco, Engler questionou Fuad sobre a situação econômica da Prefeitura de Belo Horizonte. Fuad defendeu que as contas públicas estão equilibradas e que todos os índices da Lei de Responsabilidade Fiscal estão em conformidade. “Gastamos o dinheiro da população em serviços públicos. Não inventamos receita, não mentimos no orçamento,” disse Fuad.
Anel Rodoviário
Em seguida, Fuad perguntou a Engler sobre o Anel Rodoviário. Engler aproveitou a oportunidade para criticar Fuad, afirmando que o prefeito não havia cumprido as promessas relacionadas às intervenções no trânsito. “O senhor prometeu para esse ano, não entregou, e agora pede mais um voto de confiança do cidadão para fazer no próximo mandato”, criticou.
Vacinação e crianças com necessidades
A discussão então se voltou para a vacinação. Fuad criticou a postura de Engler e de seu partido em relação à vacinação no período da pandemia da COVID-19, atribuindo a queda nas coberturas vacinais à retórica contra vacinas que, segundo ele, foi propagada durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. “Vocês negaram a vacina,” disse Fuad.
Em outro momento, Engler foi questionado por Fuad em relação ao cuidado com crianças com deficiência e neurodivergentes. O deputado afirmou que a gestão atual não está atenta às necessidades dessas crianças e propôs a implementação de monitores especializados e salas sensoriais nas escolas, garantindo que as crianças com autismo recebam a atenção adequada. “Colocar uma pessoa que não tem preparo para lidar com a criança com autismo é uma covardia com a criança, com o profissional, com os professores” criticou.