A negação da escolha do seu representante no Poder Legislativo. Em BH, no último 6 de outubro, números do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) consolidados pelo Núcleo de Dados do EM mostram que os votos nulos e brancos venceram em 44% das seções eleitorais da cidade quando o recorte é a votação para vereador. Para além da abstenção de 29,54%, acima da média brasileira de 21,68%, a capital mineira conviveu com a falta de participação até de quem foi às urnas quando se olha para a Câmara.
Das 437 seções eleitorais da cidade, nulos e brancos venceram em 190. Para o cientista político Adriano Cerqueira, professor do Ibmec de Belo Horizonte, a proporção alta de eleitores que abriram mão da escolha de um candidato à vereança vai além da já percebida aversão ao processo democrático, que acompanha as consequentes altas da abstenção nos pleitos recentes.
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“A hipótese mais provável para o alto número de votos nulos e em branco é que os vereadores mais votados são mais representados em seções eleitorais específicas da cidade. Os votos se concentram em regiões específicas. Quando você tem uma região sem um representante forte, conhecido, os votos brancos e nulos tendem a prevalecer. Eu arrisco dizer que a anulação também foi alta em locais onde houve um(a) vereador(a) predominante”, diz.
Além do alto número de votos em branco e anulações, a votação para vereador em BH teve uma ampla vitória da direita e da centro-direita. Em 51% dos locais de votação, um candidato com essa linha ideológica foi o mais votado. Para efeito de comparação, o percentual da esquerda e da centro-esquerda é de apenas 5%. Os conservadores levaram a melhor em 224 seções, enquanto os progressistas em 23.
Quando se olha para as seções vencidas pela esquerda, chama atenção que na porção mais ao sul da cidade, englobado as regiões Oeste, Centro-Sul e Barreiro, os progressistas só venceram em um colégio eleitoral: a Escola Municipal Senador Levindo Coelho, onde Gilson Guimarães (PSB) recebeu a maior parte das preferências. Atual parlamentar da Casa, ele não conseguiu a reeleição.
Para o cientista político Adriano Cerqueira, professor do Ibmec de Belo Horizonte, as mudanças na pirâmide etária brasileira influenciam na postura mais conservadora do eleitor da capital mineira. "Em parte, essa tendência do eleitorado migrar mais para a centro-direita e para a direita se deve ao envelhecimento da população. Quando o cidadão vai envelhecendo, ele tende a se tornar mais conservador para proteger a herança dele, o patrimônio, filhos e netos. Claro, não quer dizer que todo idoso é de direita. É apenas uma tendência", diz.
Ainda para o especialista, um outro fator influencia na ampla vitória da direita nas seções eleitorais da cidade. "Tem a importância do eleitorado religioso. Tanto o eleitorado católico quanto o evangélico, o cristão como um todo, compartilham valores mais tradicionais, principalmente os evangélicos. Essa população é mais propensa a ter posições conservadoras, o que afasta o discurso mais laico, mais progressista", afirma.
Vereadora se destaca
Em número de seções, a vereadora Fernanda Pereira Altoé (Novo) se destacou, vencendo em 35 colégios eleitorais diferentes em BH, a maioria deles na Região Centro-Sul da cidade. Depois dela, quem mais faturou seções foi o vereador reeleito Juninho Los Hermanos (Avante) com 10. Marcos Crispim (DC), que perdeu ao tentar a reeleição, venceu em nove.
O número de seções vencidas indica o domínio eleitoral de um candidato em uma determinada parte da cidade, no entanto não conta toda a história da corrida pela Câmara de BH. Vereador mais votado da história da cidade, Pablo Almeida (PL), ex-assessor do deputado federal Nikolas Ferreira (PL), foi mais escolhido pelo eleitor em apenas duas seções: os colégios particulares Pio XII e Santa Marcelina, o que indica que sua votação foi ampla, sem concentração geográfica.