Duda Salabert, candidata do PDT à PBH]

Duda Salabert, candidata do PDT à PBH]

Divulgação


“Eles passarão, eu passarinho”. Foi com uma foto ao lado do verso do poeta gaúcho Mário Quintana que a deputada federal e professora de literatura Duda Salabert (PDT) lançou oficialmente sua campanha para prefeita de Belo Horizonte. O verso é frequentemente citado por Duda em resposta ao discurso de ódio que enfrenta diuturnamente por ter se assumido como uma mulher travesti, desde que resolveu entrar na política em 2018, quando concorreu, mas não se elegeu, para uma das duas vagas para o Senado.


No entanto, a votação expressiva a cacifou para disputar, em 2020, uma cadeira na Câmara Municipal de BH, quando foi a primeira vereadora transexual e a mais votada da história da cidade. Dois anos depois virou deputada federal com a segunda maior votação do estado, perdendo apenas para o bolsonarista Nikolas Ferreira (PL), com quem trava muitos embates, no parlamento e na Justiça, desde os tempos de vereança. Duda já ganhou na Justiça uma ação contra Nikolas por transfobia, o maior obstáculo enfrentado, segundo ela, em sua carreira política.


Duda começou o processo de transição de gênero em 2017 e desde então enfrenta ataques frequentes. Nessa disputa, enquanto muitos candidatos exibem suas famílias na campanha, a companheira de Duda, Raíssa Salabert, e a filha delas de 5 anos são mantidas distantes do público para evitar que também sejam vítimas de discurso de ódio. “Sou uma mulher travesti. Esse privilégio de aparecer ao lado da minha família eu não tenho”, afirma a candidata, que disse ter desenvolvido estratégias para enfrentar os ataques. “Não leio comentários, não entro em perfis de ódio, protejo minhas redes”, conta Duda, que mora com sua família em uma casa com seis gatos, três cachorros, uma coelha e uma colmeia de abelhas. “Uma família multiespécie”, define a candidata que, de vez em quando, divide, de maneira discreta em suas redes sociais, um pouco de sua intimidade doméstica, sem nunca mostrar imagens da companheira e da filha.


A família é mantida longe dos holofotes da vida pública da candidata por questões de segurança, já que Duda foi vítima de ameaças de morte e violência vindas de grupos radicais de extrema direita. Apesar dos ataques, a candidata afirma que seu protagonismo na política, principalmente na campanha pela PBH, ajuda a “ressignificar” a população trans e combater diversos preconceitos.
Vegana e defensora do meio ambiente, Duda tem entre suas pautas, por exemplo, o fim do comércio de animais no Mercado Central de Belo Horizonte, a preservação da Serra do Curral, alimentação saudável e orgânica nas escolas públicas, o aumento dos salários dos professores, a despoluição da Lagoa da Pampulha e a transformação da cidade em um espaço de brincar para as crianças. Pautas tidas muitas vezes como utópicas, mas perfeitamente possíveis, assegura a candidata. “Na política, hoje no Brasil e na América Latina, os desejos são muito rebaixados, então quando a gente faz propostas de mudança as pessoas acham que não é possível”, afirma.


Segundo Duda Salabert, na disputa pelo Senado em 2018, sua principal pauta foi o perdão da dívida do Fies. “Todo mundo achava impossível. O (Jair) Bolsonaro foi eleito e perdoou”, afirma a candidata se referindo ao abatimento de até 99% das dívidas do Financiamento Estudantil pelo ex-presidente.

 

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