Belo Horizonte elegeu seus 41 vereadores para os próximos quatro anos (2025-2028) ontem. A Câmara Municipal vai receber 18 novos vereadores no próximo ano. O resultado das urnas indicou um índice de renovação de 43,9%, quebrando uma tendência dos últimos pleitos, quando mais novatos entravam no Legislativo municipal do que foram reeleitos.

Ao todo, 23 parlamentares voltam para suas cadeiras na Câmara Municipal na próxima legislatura.

 

 

Desde que o parlamento belo-horizontino passou a ter 41 vagas, em 2004, a taxa de renovação vinha crescendo exponencialmente. Na época, 24 postos foram renovados e apenas 17 foram reeleitos. A exceção foi o pleito seguinte de 2008, quando a situação se inverteu e 24 vereadores foram reeleitos. No pleito de 2020, por exemplo, a entrada de novos vereadores cresceu em 58,5%, a maior da série histórica.


O vereador mais votado foi Pablo Almeida, do Partido Liberal, escolhido por 39.960 eleitores. O bolsonarista foi apadrinhado pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que marcou presença na campanha nas ruas e nas redes sociais. Almeida quebrou o recorde de votos da Câmara Municipal que antes pertencia a Duda Salabert (PDT), que havia recebido 37.613 votos.


O PL do ex-presidente Jair Bolsonaro ainda surfou na onda de seus quadros mais populares em Minas Gerais e aumentou sua bancada para seis vereadores. Os vereadores eleitos Vile, ex-assessor do deputado Bruno Engler (PL), e Uner Augusto, também ligado a Nikolas Ferreira, se juntaram ao Sargento Jalyson como os bolsonaristas novatos. Na atual legislatura, o partido possui apenas duas cadeiras, com Cláudio do Mundo Novo e Marilda Portela, ambos reeleitos para o próximo período.

 




A segunda maior bancada é da Federação Brasil da Esperança, envolvendo o Partido dos Trabalhadores (PT), PV e PCdoB, também com seis vereadores. Os nomes que retornam para a Câmara de BH são dos petistas Bruno Pedralva e Pedro Patrus, além de Wagner Ferreira (PV). Os novatos são Pedro Rousseff, sobrinho-neto da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), Luiza Dulci, sobrinha do ex-ministro Luiz Dulci (PT), e Edmar Branco (PCdoB).


Ainda na esquerda, o Psol teve destaque ao conseguir manter suas duas cadeiras e eleger uma nova vereadora. Iza Lourença (Psol) triplicou sua marca de 2020 e se reelegeu como a terceira mais votada da cidade com 21.485 eleitores. Ela contribuiu para a reeleição da vereadora Cida Falabella (Psol), e pela eleição da novata Juhlia Santos, vereadora trans. Com o grupo, a esquerda consegue formar uma bancada de nove vereadores.

 


Outras lideranças proeminentes também retornam para o Parlamento municipal. No grupo de vereadores chamado de Família Aro, ligados ao secretário de Estado da Casa Civil, Marcelo Aro (PP), a Professora Marli (PP) foi a segunda mais votada da cidade com 23.773 eleitores. O atual 1º vice-presidente da Câmara, Professor Juliano Lopes (Podemos), também volta para sua cadeira.


No grupo alinhado ao presidente da Câmara Municipal, vereador Gabriel Azevedo (MDB), que concorreu à prefeitura e não retorna para a próxima legislatura, a tropa de choque do partido Novo reconquistou suas três cadeiras com Fernanda Pereira Altoé (Novo), Marcela Trópia (Novo) e Braulio Lara (Novo). Os correligionários de Azevedo e aliados mais próximos, Loíde Gonçalves e Cleiton Xavier, também voltam ao posto.


Os dois grupos exercem uma dominância nos trabalhos da Câmara. No último ano, eles se enfrentaram pelo comando da mesa diretora em um embate que gerou dois processos de cassação contra Gabriel Azevedo (MDB), acusado de quebra de decoro parlamentar pelos seus pares. Ambos processos acabaram arquivados por não haver votos suficientes para retirar o vereador do Legislativo Municipal.

 

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Com a definição dos eleitos, a expectativa é que os próximos meses sejam de articulações para o comando da Câmara. Contudo, o peso da articulação da Prefeitura na disputa ainda deve esperar o segundo turno entre Fuad Noman (PSD) e Bruno Engler (PL).

 

 

 

Perfil demográfico

 

O perfil da Câmara Municipal de Belo Horizonte para a legislatura que se inicia no ano que vem e vai até 2028 continuará formado por homens e brancos. De acordo com a declaração feita pelos eleitos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 70% das cadeiras serão ocupadas por pessoas do gênero masculino, enquanto 58% se identificam como brancos. Serão 29 homens e 12 mulheres. No recorte por raça, serão 24 brancos, 11 pardos e seis pretos. Quanto à escolaridade, a maioria tem superior completo: 31 dos 41 eleitos – 75,6%. Sete têm ensino médio completo; dois com superior incompleto; e um apenas lê e escreve. Em relação a 2020, o número de homens se manteve praticamente o mesmo. Há quatro anos, 30, em vez dos 29 deste pleito, foram eleitos para a Câmara de BH. Por consequência, foram 11 mulheres, uma a menos. O número de brancos, no entanto, diminuiu: de 28 para os 24 deste domingo. Os pardos aumentaram de oito para 11, enquanto os pretos cresceram de cinco para seis.

 

Legislativo impõe desafio ao prefeito


Bertha Maakaroun

O futuro prefeito de Belo Horizonte precisará de muita articulação política para construir uma base de sustentação sólida na Câmara Municipal. Para além dos 18 partidos representados, há dois atores que, na próxima legislatura, seguem exercendo influência sobre grupos de vereadores. Enquanto o presidente da Câmara Municipal, Gabriel Azevedo (MDB) – que não estará na Casa – se articula com dez vereadores; o secretário de estado da Casa Civil, Marcelo Aro (PP), elegeu uma bancada de 8 vereadores, que passam a integrar a chamada “Família Aro”. Gabriel e Aro protagonizaram, em 2023, uma disputa política dura.


Ao mesmo tempo, novos players passam a exercer influência direta sobre o plenário da Câmara Municipal: o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) elegeu quatro vereadores; o deputado estadual professor Wendel (Solidariedade), dois; o deputado federal Fred Costa (PRD) manteve duas cadeiras; e o deputado estadual João Vítor Xavier (Cidadania) fez um vereador. O deputado federal Luís Tibé (Avante), tinha dois, passa a ter um vereador.


Em se tratando de perfil ideológico, a nova legislatura demarca bem dois campos de esquerda e de direita: conquistaram mandatos dez vereadores da Federação PT – PV – PcdoB e do PDT e doze vereadores do PL, Novo, Republicanos e DC. Sendo possível antecipar embates em plenário entre, de um lado, Pedro Rousseff (PT), sobrinho da ex-presidente Dilma Rousseff que já mantém intensa polarização com o bolsonarismo nas redes; e de outro, Pablo Almeida (PL), ex-assessor de Nikolas Ferreira. Os outros 19 vereadores do MDB, Solidariedade, PSD, União Brasil, Avante, PRD, Podemos e Mobiliza tendem mais ao centro político.


A nova legislatura terá também cinco vereadores ligados a igrejas evangélicas: Marilda Portela (PL), Flávia Borja (DC), Loíde Gonçalves (MDB), Bispo Arruda (Republicanos), Cleiton Xavier (MDB). Também foi reeleito o vereador Cláudio Mundo Novo (PL), ligado ao deputado federal Eros Biondini (PL) e vinculado aos setores ultraconservadores da Igreja Católica. Apesar de ocuparem na nova legislatura15% das cadeiras, as igrejas reduziram a sua presença na Câmara Municipal. A Igreja Universal, que sempre teve duas cadeiras, desta vez elegeu uma única. A Igreja Quadrangular, que historicamente tinha de um a dois vereadores, não terá nenhum: o vereador Henrique Braga (MDB) não se reelegeu. Da mesma forma ficou sem representante na Casa a Assembleia de Deus, a Igreja internacional da Graça e a Igreja Mundial.

 

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