O Partido dos Trabalhadores (PT) formalizou, nesta terça-feira (8/10), o apoio à candidatura de Fuad Noman (PSD) no segundo turno da disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) contra o bolsonarista Bruno Engler. Em reunião no escritório do deputado federal e candidato pela legenda ao Executivo Municipal, Rogério Correia, derrotado no primeiro turno, o parlamentar afirmou que já negocia com o atual prefeito da capital uma data para realizar um ato público para manifestar a união nas ruas.

 

Além de Rogério Correia, participaram do pronunciamento e da coletiva de imprensa os vereadores petistas reeleitos Bruno Pedralva e Pedro Patrus, e os novatos Pedro Rousseff e Luiza Dulci. A bancada dobrada em relação à legislatura anterior foi um dos pontos destacados na reunião como uma vitória da legenda, apesar da malograda campanha pelo Executivo.

 



Correia destacou que o objetivo do apoio é evitar a eleição do candidato de extrema direita. O deputado ressaltou que o PSD faz parte do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele mencionou que partidos de direita também integram a candidatura de Fuad, como o PSDB e o União Brasil, que tem Álvaro Damião como vice na chapa. Segundo o parlamentar, as legendas em questão representam a direita democrática e as diferenciou do que qualificou como neofascismo, representado por Engler e o PL.

 

 

Com 4,37% dos votos, Correia terminou na quinta colocação na corrida pela PBH no primeiro turno. A disputa terminou com Engler à frente, com 34,38% dos votos válidos, e Fuad na vice-liderança, com 26,54%. Mauro Tramonte (Republicanos) ficou na terceira colocação, com 15,22%.

 

A deputada estadual Bella Gonçalves (PSOL), vice na chapa encabeçada por Rogério Correia, foi mais rápida em anunciar seu apoio a Fuad. Na manhã desta segunda-feira (7/10), a parlamentar afirmou que já conversou com o prefeito e manifestou seu endosso à candidatura pela reeleição contra Bruno Engler.

 

No âmbito federal, o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT-SP), já confirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apoiará Fuad Noman no segundo turno.


Nota focada em Engler


Além do pronunciamento de Correia e dos vereadores, o PT divulgou uma nota assinada pelo presidente municipal do partido, Guima Jardim. O documento é dividido em dois tópicos. O primeiro é extenso e trata sobre os riscos enxergados em uma eventual vitória de Engler. O segundo, se limita a dizer “Para derrotar essa perspectiva, orientamos o voto em Fuad Noman”.


“A candidatura do PL veicula todos os traços regressivos destacados por nossa chapa majoritária, Rogério Correia e Bella Gonçalves, no primeiro turno: trata-se de uma alternativa que ampliaria o eco do fascismo, racismo, machismo, misoginia, LGBTfobia, enfraquecimento do serviço público, intolerância religiosa e, de forma geral, aumentaria a insegurança e a violência urbana, em função do clima de ódio que propaga. Além disso, se vencer a eleição para a PBH, essa candidatura tentará impor uma agenda ultraliberal na cidade: privatizante e de desmonte de direitos sociais, em contraste com a agenda de desenvolvimento econômico, geração de emprego e renda, construída pelo governo Lula”, diz a primeira parte da carta.


Balanço da eleição


Durante a entrevista, Rogério Correia avaliou os resultados de sua empreitada na eleição majoritária. O deputado disse que não há qualquer remorso dentro do partido sobre a decisão de ter mantido a candidatura própria para prefeito e que há um entendimento que a campanha para o Executivo ajudou a fortalecer a votação dos postulantes à Câmara Municipal.


Questionado sobre uma possível autocrítica dentro do partido sobre não ter recuado e apoiado uma candidatura unificada da esquerda, Rogério disse que ofereceu ao PDT um ingresso na federação formada entre PT e Psol, mas o partido escolheu manter o nome da deputada federal Duda Salabert na disputa. O parlamentar ainda disse que a apreensão com a possibilidade da disparada de Engler fortaleceu a campanha de voto útil em Fuad já no primeiro turno e desidratou os concorrentes progressistas.


“O nosso voto foi muito influenciado pelo chamado voto útil. Uma parte importante das pessoas tinha receio de Bruno Engler e Tramonte e isso teve muita influência na eleição. Eu preciso analisar isso. Com certeza se nós tivéssemos unificado todo o campo esquerda e a Duda também tivesse vindo nessa composição, talvez o voto útil pudesse ter vindo para nós. No início (da campanha) estávamos até mais bem colocados do que o próprio prefeito Fuad”, afirmou o deputado.


Correia também destacou que o fato de ter a máquina a seu lado contou a favor de Fuad na briga pelo segundo turno. Dos 11 prefeitos de capitais eleitos ainda no primeiro turno, dez já estavam no cargo. 



Resultado da Câmara comemorado


Ladeado pelos quatro vereadores petistas, Rogério Correia comemorou reiteradamente o resultado do partido e da frente progressista na Câmara Municipal. Além dos nomes do PT, Wagner Ferreira (PV) e Edmar Branco (PCdoB), de partidos da mesma federação, foram eleitos para a próxima legislatura.


Ao campo da esquerda somam-se as três vereadoras do Psol, Iza Lourença e Cida Falabella, reeleitas, e a novata Juhlia Santos. O aumento no campo progressista foi ressaltado frente ao crescimento da bancada do PL, que saiu de dois para seis vereadores a partir de 2025.


“A nossa bancada é muito grande, foi uma vitória extraordinária. Nossa federação, junto com o PL, é hoje a maior bancada com seis vereadores. É evidente que a nossa bancada vai lutar  para que essa pauta progressista se coloque na cidade independente da posição que tem o prefeito. Na Câmara, vamos tentar que esse programa seja implementado o máximo possível com apoio dos vereadores e fazendo articulações. Mas não colocamos condições para o apoio ao prfeito”, complementou Rogério Correia ao dizer que não houve contrapartidas cobradas para anunciar apoio a Fuad.



O núcleo petista afirma que, apesar de não ter feito exigências a Fuad, manterá vivas algumas pautas da campanha de Correia e Bella Gonçalves. Foram listadas a criação do Parque Nacional da Serra do Curral; a utilização da área do Aeroporto Carlos Prates para moradias populares e construção de equipamentos públicos de saúde e educação; e a criação do programa Bolsa BH como esforço para erradicação da fome.
 

 

Histórico de aproximação 

Fuad chegou à prefeitura em 2022, quando Alexandre Kalil deixou o posto para concorrer ao governo de Minas. Naquele ano, o PSD mineiro embarcou na campanha de Lula para o Palácio do Planalto, com o ex-prefeito de BH tentando o Executivo Estadual e Alexandre Silveira disputando uma vaga no Senado.

 

A dobradinha PT-PSD em Minas elegeu apenas Lula. Kalil perdeu ainda no primeiro turno para o governador Romeu Zema (Novo). Já Silveira ficou atrás de Cleitinho Azevedo (Republicanos), mas ao menos conseguiu uma vaga no governo federal, no cargo de ministro de Minas e Energia.

 

O passado recente de Fuad em palanques com Lula alimentou um dos principais rumores da pré-campanha em Belo Horizonte: a possibilidade de que a esquerda poderia desistir de candidaturas próprias para se juntar ao prefeito. A tese foi prontamente combatida pela deputada federal Duda Salabert (PDT) e, especialmente, por Correia, que foi veemente na defesa de sua participação na disputa, com o apoio do presidente.

 

Com Duda e Correia na disputa, Fuad foi alvo dos candidatos à esquerda ao longo da campanha, mas parte do eleitorado e parlamentares progressistas optaram por defender o voto útil no prefeito já no primeiro turno, para evitar uma disputa entre Mauro Tramonte e Engler.

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