À revelia de qualquer análise política aprofundada sobre a disputa de um cargo majoritário, a chegada do segundo turno tem um significado prático óbvio: restam apenas dois pretendentes. Em Belo Horizonte, dos dez candidatos à prefeitura, restaram apenas o deputado estadual Bruno Engler (PL) e o atual prefeito Fuad Noman (PSD) e a campanha fragmentada em diversas legendas passa agora a ter dois partidos aglutinando outras siglas em sua órbita.
Com mais de uma semana da disputa limitada entre Fuad e Engler, as características das candidaturas não fogem muito ao que se viu no primeiro turno. Enquanto o prefeito aglutina apoios aos montes e conta agora com a esquerda a seu lado, Engler faz uma campanha autocentrada, apostando na força do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de seu partido.
Com as urnas se apresentando de forma decisiva a menos de duas semanas, o deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos) e o presidente da Câmara Municipal, Gabriel Azevedo (MDB), que podem ser o fiel da balança, não anunciaram se estarão ao lado de Fuad ou Engler. Os dois foram o terceiro e quarto colocados no primeiro turno, respectivamente, e juntos somam mais de 326 mil votos.
O cenário para a disputa que se estende até 27 de outubro mantém como característica o fato do prefeito manter-se como o nome mais cercado de apoios. Representante do PSD, Fuad já disputou o primeiro turno com uma série de partidos o apoiando, com destaque para o União Brasil, que cedeu o vice da chapa, Álvaro Damião. Permanecem com Fuad as siglas que já o apoiaram no primeiro turno: Solidariedade, PRD, Agir, Avante e a federação formada por Cidadania e PSDB.
As circunstâncias da disputa no segundo turno colocaram o prefeito frente a frente com o bolsonarista Bruno Engler, que tem em torno de si não apenas o ex-presidente como figuras proeminentes do conservadorismo em projeção nacional como o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos) e, especialmente, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL). Com seu adversário ampliando a gama ideológica da disputa quilômetros à direita, Fuad acabou por receber o apoio de legendas de esquerda e centro-esquerda com as quais já flertava mesmo antes da votação do último domingo (6/10).
Neste cenário, os quase 134 mil votos de Gabriel Azevedo (MDB), quarto colocado do primeiro turno, ainda estão em disputa. O presidente da Câmara Municipal ainda não manifestou formalmente se apoiará algum candidato ou se preferirá a neutralidade. Da mesma forma está o PSB de seu vice Paulo Brant.
Esquerda embarca com Fuad
A campanha do voto útil em Fuad para evitar um segundo turno entre os deputados estaduais Bruno Engler e Mauro Tramonte (Republicanos) fatalmente já rendeu alguns votos ao prefeito já no primeiro turno e desidratou as campanhas de Duda Salabert (PDT) e Rogério Correia (PT), colegas de Câmara dos Deputados que terminaram a apuração na quarta e quinta colocações, respectivamente.
Fuad já contava com o apoio de parlamentares do PV, Rede e Psol, mas o apoio das legendas foi formalizado para o segundo turno. Na manhã de terça-feira (8/10), Rogério Correia, acompanhado dos quatro vereadores eleitos pelo PT, anunciou oficialmente que o partido estará ao lado do prefeito na disputa. O diretório belo-horizontino do partido justificou a decisão como forma de se opor ao que enxergam como um projeto ultraliberal, privatizante e que ecoaria os "ecos do fascismo" representado pela candidatura de Engler.
De Brasília, o recado de Alexandre Padilha (PT-SP), ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foi mais pró-Fuad que anti-Engler. O braço-direito do presidente garantiu que o líder petista estará com o prefeito da capital mineira e citou o apoio recebido pelo pessedista durante a campanha presidencial de 2022 em um tom de retribuição aos serviços prestados há dois anos.
Com o PT vieram Psol, Rede, PV e PCdoB. Ainda no campo progressista, Fuad conseguiu esta semana o apoio formal do PDT de Duda Salabert. A deputada federal oficializou a decisão na última quinta-feira (10/10) após reunião com o deputado federal Mário Heringer e o vereador reeleito e presidente municipal da legenda, Bruno Miranda.
“Nossos quase 100 mil eleitores reconhecem a democracia como ponto de partida da cidade que queremos viver. No segundo turno, estaremos com quem não relativiza a democracia, nem a ciência e tem mais consonância com nosso projeto de Belo Horizonte”, disse Duda, que ainda escalou cinco propostas do próprio plano de governo como sugestões para o programa de Fuad.
Engler arraigado ao PL
Além do PP, já embarcado na candidatura no primeiro turno, Engler não angariou apoios formais para a segunda disputa nas urnas. As negociações para trazer mais siglas à empreitada do deputado estadual acontecem nos bastidores, mas a estratégia da chapa puro-sangue formada com a Coronel Cláudia (PL) parece ser a manutenção de uma campanha autocentrada.
Jair Bolsonaro, que já esteve em Belo Horizonte no primeiro turno, voltará à cidade no próximo sábado (19/10) ao lado do cacique do partido, Valdemar Costa Neto, para evento de campanha com Engler.
As costuras em processo permeiam o contato com o bolsonarismo e buscam o espólio da chapa que terminou o primeiro turno na terceira posição, formada pelo deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos) e Luísa Barreto (Novo).
Republicanos e PL tratam sobre um possível apoio nos bastidores, enquanto o senador Cleitinho Azevedo, principal quadro do partido derrotado no primeiro turno, está de forma oficial e barulhenta na campanha de Engler desde o primeiro turno. A aproximação com o Novo de Luísa Barreto também gira na órbita de Bolsonaro. A ex-candidata a vice-prefeita é a secretária de Planejamento e Gestão do governador Romeu Zema (Novo), que coordenou o braço mineiro da campanha frustrada do ex-presidente em 2022.
Petistas e Tucanos novamente unidos
“Com os resultados do primeiro turno em mãos, estamos confiantes de que venceremos o segundo turno, com o apoio da população, e daremos continuidade ao compromisso de desenvolvimento e melhorias para Belo Horizonte”, disse em nota o deputado federal Paulo Abi-Ackel, presidente do PSDB em Minas.
Confiante em uma vitória de Fuad, o líder do PSDB está no mesmo barco que o PT. A união dos dois antigos antagonistas nacionais em torno de uma candidatura à Prefeitura de Belo Horizonte remonta ao pleito realizado há 16 anos, quando petistas e tucanos se uniram em torno de Marcio Lacerda, eleito naquela oportunidade.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia
O cenário atual é completamente diferente do de 2008, no entanto. À época, a união dos dois principais partidos do país foi a força propulsora para alçar um desconhecido Márcio Lacerda ao poder. Em 2024, o PSDB sequer lançou candidato para a prefeitura e não elegeu nenhum vereador na capital mineira. O PT, embora tenha dobrado sua bancada na Câmara Municipal, falhou pela terceira eleição seguida na tentativa de levar seu candidato, ao menos, ao segundo turno.