A vereadora Marcela Trópia (Novo) defende um sistema de transporte público mais eficiente e moderno em Belo Horizonte, com foco na melhoria da experiência do usuário e na redução da dependência do subsídio público. Em entrevista ao Estado de Minas e Portal Uai, a parlamentar destacou os desafios que a cidade enfrenta no setor – como a falta de ônibus e a redução no quadro de horários – e sugeriu soluções para garantir a eficiência do transporte público.
Marcela Trópia foi reeleita para o segundo mandato com 17.878 votos — sete mil a mais do que nas eleições de 2020 —, tendo a quinta maior votação para o próximo mandato. A parlamentar foi a terceira entrevistada da série de sabatinas do Estado de Minas e Portal Uai com os vereadores eleitos em Belo Horizonte.
- Marcela Trópia sobre eleições de 2026: 'Vai ser um apocalipse'
- Marcela Trópia sobre nova composição da Câmara de BH: ‘Deu uma polarizada’
O próximo prefeito de Belo Horizonte terá a responsabilidade de renovar o contrato com as empresas de ônibus que operam na capital mineira. Em entrevista ao Estado de Minas, a vereadora ressaltou a importância de uma fiscalização rigorosa dos contratos de transporte público, independentemente de quem assumir a gestão municipal. Trópia também destacou que possui um e-book com 10 propostas para melhorar o transporte público da cidade e detalhou algumas dessas sugestões à reportagem.
A vereadora afirmou que a Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) já aprovou diversas leis para melhorar a mobilidade, como a faixa exclusiva de ônibus e a bilhetagem eletrônica, e que as medidas precisam ser implementadas.
Propostas para a mobilidade
Marcela destacou a necessidade de realizar uma pesquisa origem-destino, para entender os deslocamentos diários dos belo-horizontinos. Com base nos dados coletados, seria possível avaliar onde há carência de linhas de ônibus e onde há excesso, permitindo ajustes mais eficientes no sistema.
“As empresas telefônicas conseguem fornecer os nossos deslocamentos padrão ali do dia a dia para a gente estimar melhor onde está faltando ônibus e onde está sobrando, e isso é a primeira coisa que tem que ser feita, porque não se faz política pública sem diagnóstico. Se eu não sei como está a real situação dos belo-horizontinos, como é que eu vou estimar as linhas de ônibus?”, questionou.
- Engler sobre apoio de Zema: ‘Não falta nada, só sentar e conversar'
- Rogério Correia rebate críticas ao desempenho em BH: ‘Oportunistas’
- Engler promete 'desburocratizar' BH e critica gestão de Fuad
A parlamentar também criticou o que considera falhas no atual modelo de contrato de transporte público, especialmente em relação à corrupção. A vereadora propõe a partição do contrato, com licitações separadas para as empresas responsáveis pela bilhetagem, pelos ônibus e pelas garagens.
"Hoje as empresas que cuidam da garagem, dos ônibus e da bilhetagem têm os sócios trocados entre si. Tem que separar, para mim. Tem que ser três licitações separadas: quem cuida da bilhetagem é uma, quem cuida dos ônibus é outra, e quem cuida da garagem tem que ser outra. Isso é um projeto que a própria Câmara Municipal votou”, afirmou.
Outro ponto levantado pela parlamentar é a dependência do sistema de transporte público dos subsídios. Para reduzir essa dependência, ela sugere alternativas para aumentar a arrecadação.
“Por exemplo, estacionamentos perto das estações para que as pessoas cheguem de carro e depois peguem transporte público, especialmente quem mora nas cidades da Região Metropolitana. Você pode ter as estações sendo usadas para supermercados, aluguéis que podem ser revertidos para a tarifa, publicidade nos ônibus, locais que podem ser usados para shows, atrações, exposições. Isso tudo rentabiliza o sistema de transporte, algo que o mundo inteiro faz e a gente não consegue fazer”, exemplificou.
“Tem ideias para ir além, né? Como, por exemplo, o naming rights das estações, que está sendo feito no metrô, e que pode ser feito nas estações municipais. Tem também a ideia de tarifas modulares. Dependendo do horário, você paga mais ou paga menos, porque às vezes, num dia de turismo, a pessoa está com mais dinheiro para gastar do que no horário comercial. Se a distância é muito longa, deve-se pagar um preço, mas a distância curta pode ter um preço diferente. Washington tem essas tarifas modulares, e é muito interessante", completou.
Retomada dos horários
Ao EM, Marcela também apontou que, especialmente após a pandemia, os horários de funcionamento dos ônibus foram reduzidos, o que tem impactado negativamente o comércio e os cidadãos.
"Sabe quanto o Chopp da Fábrica gasta por mês com Uber para funcionários? R$ 15 mil, porque não tem mais ônibus. Vários empreendedores sofrem com isso. Tem que pagar o transporte por aplicativo, que eu sou super a favor, acho que tem que continuar vigorando, mas tem que ter transporte público. E, desde a pandemia, os ônibus se reduziram e não voltaram ao horário padrão. Então, isso tem que estar no contrato e tem que ser cumprido”, pontuou.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia
A vereadora também defendeu a revitalização do transporte suplementar, que está sendo progressivamente descontinuado, segundo ela. "Tem deslocamentos que não precisam de um ônibus com quase 50 lugares. Você pode ter um transporte suplementar para atender vilas e favelas, para atender deslocamentos que têm menos demanda, menos pessoas naquele horário. Falta criatividade no transporte público, mas por isso que a pesquisa origem-destino é fundamental”, afirmou.