Neste domingo, o nome “Fuad Noman” aparecerá com destaque nas urnas apenas pela segunda vez em 77 anos de vida do atual prefeito, cerca de 50 como personalidade pública. A estreia do economista como cabeça de chapa ocorreu há três semanas, no primeiro turno da eleição para a Prefeitura de Belo Horizonte. Com uma campanha marcada pela defesa dos pouco mais de dois anos de gestão e esforço ininterrupto de evitar atritos com seus concorrentes, ele tenta hoje tirar uma vantagem de quase cem mil votos que o deputado estadual Bruno Engler (PL) construiu em 6 de outubro.



Fuad busca engrossar a lista do PSD, partido líder na eleição de prefeitos no primeiro turno. Foram 749 municípios conquistados. Ele almeja ainda incluir seu nome entre os candidatos à reeleição bem-sucedidos no pleito, que marcou o maior índice de permanência na prefeitura na história brasileira, com 81% dos chefes de Executivo reconduzidos ao cargo no primeiro turno. Como companheiro de chapa, o pessedista tem o vereador Álvaro Damião, do União Brasil, que tem a quinta legenda de maior êxito na corrida pelo Executivo local este ano.

 

 





Fuad abriu a campanha desconhecido por quase 80% dos belo-horizontinos e precisava, antes de tornar o seu nome viável nas urnas, fazer-se presente no imaginário do eleitor. Hoje, a imagem de um senhor com uma calvície ornada com cabelos laterais, bigode e inseparáveis suspensórios é rapidamente associada ao comando da cidade.

 



O atual prefeito assumiu a mais importante cadeira da capital em meados de 2022, quando seu então aliado Alexandre Kalil deixou o cargo para concorrer ao governo de Minas, em malograda corrida contra o atual governador Romeu Zema (Novo).  Naquele momento, Fuad começava seu afastamento do antigo companheiro de chapa e eram construídas alianças hoje reatadas neste segundo turno, como a com os partidos de centro-esquerda, em especial o PT.



Ainda que o prefeito lidere sua primeira campanha eleitoral, a vida nos corredores do poder não lhe é nada estranha. Ele próprio começa a narrar sua trajetória na política ainda no governo de José Sarney (MDB), antes mesmo da primeira eleição direta para a Presidência da República após a ditadura militar, em 1989.



Bacharel em Ciências Econômicas pelo Centro de Ensino Unificado de Brasília (Ceub) e pós-graduado em programação econômica e execução orçamentária, Fuad foi funcionário de carreira do Banco Central e do Banco do Brasil. Passou a ocupar cargos públicos ao ser chamado para a função de secretário-executivo da Casa Civil da Presidência da República na gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), eleito em 1994. Ainda no exercício de cargos por trás dos holofotes da política eleitoral, ele foi consultor do Fundo Monetário Internacional (FMI) no governo de Cabo Verde.



O retorno a Minas Gerais, após longa jornada no Planalto Central e passagem pela África insular, se deu a partir do pouso tucano no governo estadual. No primeiro governo de Aécio Neves (PSDB), em 2003/2006, e no de Antonio Anastasia (então no PSDB), em 2010/2014, Fuad Noman chefiou as secretarias de Fazenda, de Transporte e Obras Públicas e a Extraordinária da Copa do Mundo de 2014.



KALIL



O ingresso na Prefeitura de Belo Horizonte veio junto de Kalil. Em 2017, primeiro ano do ex-correligionário no comando da cidade, Fuad começou como secretário municipal de Fazenda. Quatro anos mais tarde, ele seguiria no número 1.212 da Avenida Afonso Pena, mas já na condição de vice-prefeito. Entrou na campanha já sem o apoio de Kalil, que preferiu se aliar a Mauro Tramonte (Republicanos) e adotar uma estratégia beligerante de ataques a seu sucessor.

 

A gestão atual na prefeitura foi o principal alvo dos adversários. Embora se mostrasse perceptivelmente incomodado com as críticas recebidas, a postura oficial da campanha do pessedista apostou em não entrar em confrontos.



Mais do que não contra-atacar, Fuad preferiu evitar oportunidades diante da imprensa e de seus concorrentes. No primeiro turno, foi a apenas três debates. Nesta segunda etapa da campanha, compareceu apenas aos dois últimos, transmitidos pela rádio Itatiaia e pela TV Globo, e desmarcou sabatinas com jornalistas.

 

À frente nas pesquisas de intenção de voto, o prefeito atravessou a campanha de segundo turno como favorito também ao angariar mais apoios que seu adversário, preso ao ímã da extrema direita bolsonarista representada por PL, PP e parte do Republicanos. Já na reta final, Fuad comemorou a remissão de um linfoma não Hodgkin, que o obrigou a aliar os compromissos eleitorais, de prefeito e do tratamento oncológico nos últimos meses.

 



Dizendo-se revigorado, animado e até mesmo já saudoso de sua experiência de estreia em campanhas eleitorais, o prefeito viveu na semana derradeira o momento mais agressivo de uma disputa até então relativamente morna na capital mineira.

 

Além da atuação nos bastidores, e agora no palco principal, da política, Fuad é autor de três livros, “Marcas do passado”, “O amargo e o doce” e “Cobiça”. Este último ganhou destaque na reta final da campanha. A obra tem trechos eróticos e passagens que narram episódio de violência sexual contra uma adolescente. Esses pontos caíram na graça de Engler e seus apoiadores, em especial o deputado federal Nikolas Ferreira (PL), que inundaram as redes sociais com materiais que deixam em absoluta evidência as partes do livro pretensamente censuráveis com uma notória ignorância da distinção entre literatura e sugestão.

 

 

O ataque mais duro chega no momento crucial em que Fuad tenta fechar uma campanha em que optou por ater-se quase exclusivamente a falar sobre a própria gestão, sem mesmo explorar a rejeição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), inexoravelmente ligado a Engler e seu grupo político. À frente nas pesquisas, mas numa corrida de recuperação com quase cem mil votos de desvantagem, o quase octogenário prefeito de BH encerra hoje o momento mais decisivo de sua longeva trajetória públicas até aqui.

 

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