O pacote de medidas para controlar o crescimento dos gastos do governo e tentar equilibrar a dívida pública não pode ser visto como “uma rendição” ao mercado financeiro. O recado do presidente Lula já ficou claro para equipe econômica que coordena a definição das medidas. Gato escaldado, após duas gestões na Presidência, Lula também cobrou rigor nos cálculos e previsões. “Uma conta mal calibrada e o que fica é que o governo é incompetente ou vira um imbróglio jurídico”, argumentou um interlocutor do presidente.
A cobrança de Lula tem como pano de fundo uma queda de braço que ele trava com uma parcela do mercado e que, segundo avaliações internas no governo, “critica a gestão petista faça ela o que for”. No Palácio do Planalto, há quem defenda que, se o presidente precisará ceder e mexer em áreas sociais, algo a que ele sempre resistiu, então “não é possível errar”. Em outras palavras, ele precisa colher os benefícios que espera.
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Lula foi convencido de que não pode empurrar mais a discussão fiscal sob o risco de comprometer o desempenho da economia num momento determinante: 2026, ano da próxima eleição presidencial. Nesse ponto, avalia-se ainda que o estresse econômico das últimas semanas, seja pelos questionamentos com a escalada da dívida pública ou com a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, contribui com os planos do governo, pelo menos, em duas frentes: i) minimizar a choradeira dos ministros porque suas áreas serão afetadas; e ii) ajudar nas negociações com Congresso Nacional.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o pacote será discutido previamente com lideranças políticas. As rodadas de debate com os ministros, segundo Haddad, já acabaram. Falta ainda o alinhamento final com o presidente. “Os ministros estão conscientes”, disse Haddad nesta quarta-feira, 6.
Expectativas elevadas
No mercado financeiro é grande a expectativa pelas medidas. O sentimento de que o governo deve fazer algo de fato relevante dominou uma parte dos analistas depois da narrativa oficial dos últimos dias para mostrar absoluto “senso de urgência”, conforme destacou o PlatôBR.
A avaliação é que se a equipe econômica incluir todas as despesas dentro das regras do arcabouço fiscal, “será um golaço”. O argumento é que, assim, será possível assegurar a sustentabilidade das contas públicas, já que, pelo arcabouço fiscal, o aumento das despesas fica limitado a um percentual do crescimento das receitas e ainda há um teto. O problema atualmente é que, como vários gastos ficam fora dessa conta, as despesas vazam como água no casco de um barco furado.
“Se mandar um pacote nota 10 para o Congresso, a equipe econômica, vai receber de volta um texto nota 07, mas, ainda assim, será bom para o país”, avaliou um alto executivo do mercado financeiro.
Ele concorda com a avaliação interna do governo de que “o senso de urgência” favorece nesse momento. “O primeiro a viver isso é o próprio governo, que só resolveu agir nos últimos minutos do jogo”, critica. “Mas é fato que, em situações assim, o presidente Lula sempre se move em direção ao centro”, diz, numa referência aos partidos de centro que defendem a chamada agenda liberal, criticada por muitos petistas.
Lula quer empenho na elaboração e, sobretudo, na comunicação das medidas. Ele sabe que não será possível resolver todos os problemas na estrutura do gasto público de uma vez, mas quer reconhecimento pela atitude. “Primeiro, vamos ver antes de crer”, ironiza o diretor de um grande banco.