Minutos antes de bombas explodirem na Praça dos Três Poderes, em frente ao STF (Supremo Tribunal Federal), e um carro pegar fogo próximo ao Congresso Nacional, um perfil no Facebook atribuído ao autor do atentado, Francisco Wanderly Luiz, e com 4,8 mil amigos conectados, exibia postagens com fotos dele no plenário do STF. Uma das imagens mostrava Francisco, apelidado de Tiü França, cercado por 80 emojis de raposas e a frase: “Deixaram a raposa entrar no galinheiro (chiqueiro) ou não sabem o tamanho das presas ou é burrice mesmo. Provérbios 16:18 (A soberba precede a queda)”.
A postagem, que teve 82 curtidas, 127 comentários e 39 compartilhamentos, rodou as redes sociais após as explosões e foi bloqueada horas depois. Ela exibia as imagens de 30 mensagens no WhatsApp que Francisco teria mandado para ele mesmo. Em todos os prints, a foto de Francisco aparece ao lado de um número de telefone com DDD 47, prefixo utilizado em 78 municípios de Santa Catarina, entre eles Rio do Sul, a cidade do homem-bomba.
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Uma das imagens destacadas no post exibia 60 emojis de bombas. Tiü França desafiava a Polícia Federal a desarmar bombas em 72 horas na casa de políticos e jornalistas e dizia que essa ameaça começaria às 17h48 desta quarta-feira e se encerraria no dia próximo dia 16. “Cuidado ao abrir, gavetas, armário, estantes, depósito de matérias etc”, escreveu, sempre tropeçando em erros.
‘Revolução’
Tiü França sugeriu uma “data especial para iniciar uma revolução”: 15/11/2024, escreveu. “Após este grande acontecimento, vocês poderão comemorar a verdadeira proclamação da república!!!”. E conclui: “Em espírito estarei na linha de frente com minha espada erguida. Deus nos abençoe”.
Em outra imagem, ele acusava os presidentes da Câmara (Artur Lira) e do Senado (Rodrigo Pacheco) citando letra de uma música dos sertanejos Milionário e José Rico, “O último julgamento”. A música é uma reflexão sobre os erros cometidos pela humanidade ao longo do tempo, no momento do juízo final.
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O post continha ainda claras sinalizações de que Tiü França cometeria suicídio: “Saibam todos vocês; Os governantes que rouba nossa dignidade, esperança, fé e também nosso dinheiro; São os mesmos que te levam a cometer suicídio por total descrença! (sic)”. Em seguida, ele completava: “Saibam todos vocês que a vida é bela!!! Porém se realmente quiseres partir, leve um maligno com você; Deus e seus familiares vão te perdoar”. O texto estava rodeado por 80 emojis de ninja.
Em outro momento, com uma foto erguendo uma taça de vinho, o homem sugeria um brinde e dizia que entregaria sua vida “para que as crianças cresçam com liberdade”. A postagem trazia ainda várias frases indicando que ele é apenas a primeira pedra a cair em um efeito dominó, e que era preciso tomar cuidado com o povo que “ainda só grita”.
O perfil no Facebook destacava um suposto diálogo entre pai e filho, onde o filho questiona se Tiü França era terrorista e, na sequência, dizia que ele apenas soltou “uns foguetinhos pra comemorar o dia 13!!!!!” e que não gostava do “número 13”, número do partido do presidente Lula, o PT. “Eu não gosto do número 13!!! Tem cheiro de carniça, igual a caxorro (sic) quando morre.”
‘Esperança no futuro’
Tiü França faz menção a um boato que circulou entre bolsonaristas na internet segundo o qual ministros do STF e governadores seriam presos por forças de segurança internacionais, numa denominada de operação Storm. “Donald Trump, se você ama e respeita as crianças, acelera a operação STORM. Manda o FBI aqui pra ilha de Marajó…No Brasil não temos justiça nem polícia federal; o que é (Gestapo) & (SS). Mas não serve pra nada !!! Aliás, serve sim, prender velhinhas inocentes”, prossegue, em aparente referência aos presos do 8 de janeiro.
O homem-bomba cita o momento em que teria se questionado se existiria a “possibilidade de uma única pessoa restabelecer a esperança de um futuro melhor para as crianças e seus pais?” e diz que, logo após, teve um “sonho” com orientações.
A postagem segue com recados que mesclam posicionamento político, aparentes delírios e ameaças a figuras de destaque no mundo político e na polarização que tomou conta do país nos últimos anos.
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Os generais Freire Gomes (comandante do Exército no governo de Jair Bolsonaro e que teria ameaçado prender o então presidente em caso de uma tentativa de golpe) e Tomás Paiva (atual comandante do Exército) são orientados a ficar “ao lado do povo” em caso de “Estado de sítio”. “Do contrário, a inteligência vai entrar em ação; E esse caso (sic) eu só lamento por vocês”.
O presidente Lula e o ex-presidente Jair Bolsonaro são aconselhados a sair da vida pública se, de fato, “amam o Brasil”. Numa tentativa de criar os “10 mandamentos da nova política”, Tiü França lista desde auditoria nas urnas a vetos na reforma tributária, fim do fundo partidário, estados independentes e limitação do número de partidos políticos.