SERGIO  BRAS..LIA DF 24.11.2023 S..RGIO PRA..A/COLUNISTA  POL..TICA  OE - O colunista S..rgio Pra..a durante sess..o de fotos para o Estad..o realizada  na tarde desta sexta-feira (24) no Pal..cio do Planalto em Bras..lia.  FOTO: WILTON JUNIOR/ ESTAD..O
     -  (crédito:   Wilton Junior)

SERGIO BRAS..LIA DF 24.11.2023 S..RGIO PRA..A/COLUNISTA POL..TICA OE - O colunista S..rgio Pra..a durante sess..o de fotos para o Estad..o realizada na tarde desta sexta-feira (24) no Pal..cio do Planalto em Bras..lia. FOTO: WILTON JUNIOR/ ESTAD..O

crédito: Wilton Junior

Francisco Wanderley Luiz, o primeiro terrorista suicida da história do Brasil, escolheu o Supremo Tribunal Federal como alvo de sua tentativa de atentado. Sua ex-esposa afirmou que o plano era assassinar Alexandre de Moraes, o ministro do STF mais identificado com o combate ao radicalismo político, e em seguida se matar. O vídeo do atentado mostra que o terrorista, ex-candidato a vereador pelo PL em 2020, se mata apenas após ser abordado por seguranças do STF. Não parece que ele chegaria perto de matar Moraes, mas nunca se sabe.

O alvo não surpreende. Desde 2018, a extrema direita brasileira, liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), trata o STF como instituição inimiga. Procuradores da Operação Lava Jato, como Deltan Dallagnol (Partido Novo), continuam a adotar essa postura. Alegando uma recente conversão à crença na democracia, como argumentou na Folha de S. Paulo, Bolsonaro divulgou uma nota aguada, desejando “pacificação nacional”. Provavelmente teme ser preso pela conexão com os atos (de terrorismo menos explícito, digamos) de 8 de janeiro do ano passado. Bolsonaro quis um golpe sem violência e, agora, não pela primeira vez na vida, tem conexão indireta com um ato terrorista mais tradicional.

Chamar o caso de Francisco de “explosão no STF” é eufemismo. Ele foi o primeiro terrorista suicida da história do Brasil, considerando que a morte dos militares Guilherme Pereira do Rosário e Wilson Luís Chaves Machado, no Riocentro em 1981, foram acidentais.

Mas seria Francisco mesmo um representante da extrema direita?

Vejamos o que disse, no Instagram, a deputada federal Carla Zambelli: “O suicida e possível terrorista deixou claro [em postagens nas redes sociais] que não era nem Lula, nem Bolsonaro, pois clama para que ambos deixem a vida pública. Além disso, ele foi candidato pelo PL [em 2020] quando Bolsonaro sequer cogitava ir para o partido, pois a situação com o PSL estava tensa. Na minha opinião, ele estava em surto, pois além das mensagens estranhas que ele mandava para si mesmo e depois postou no Facebook, ele se vestiu com uma roupa de Coringa (o que luta contra o Batman). Por fim, este episódio não tem nada a ver com o 8 de janeiro de 2023, pois os presos políticos daquele dia não possuíam qualquer arma letal ou explosivos”.

Zambelli, representante da extrema direita organizada no Brasil, não demonstra apoio ou condenação ao terrorista.

O que liga o terrorista aos golpistas de 8 de janeiro é o sentimento antissistema, que, por vezes, se manifesta no seio do bolsonarismo. Segundo Bruce Hoffmann e Gordon McCormick (2014), no texto “Terrorism, Signaling, and Suicide Attack” , ataques suicidas são um tipo de sinalização de forte compromisso ideológico. Além disso, se houver aceitação popular das táticas de ataque suicida entre outros extremistas, a morte do terrorista pode ser lamentada como uma perda coletiva.

No triste caso de Francisco Wanderley Luiz, ainda não vi manifestação pública de pesar pela sua morte. Caso nenhum grupo político o veja como mártir ou vítima do “sistema”, as chances de alguém imitá-lo diminuem. No entanto, não se pode afirmar que está tudo normal e que ele era somente um indivíduo mentalmente perturbado, pois não está nem ele era apenas isso.

Sérgio Praça é professor e pesquisador da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV CPDOC). Doutor em Ciência Política pela USP, é autor de “Guerra à Corrupção: Lições da Lava Jato” e “Corrupção e Reforma Orçamentária no Brasil”