WEST PALM BEACH, EUA (FOLHAPRESS) - O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) avalia que a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos vai influenciar a correlação de forças políticas no Brasil, favorecendo o seu pai, Jair Bolsonaro (PL).

 



 

Em entrevista à reportagem, o filho do ex-mandatário afirma que a vitória do republicano, que obteve maioria no Senado e pode ampliar sua ascendência sobre a Justiça americana, pode pressionar o STF (Supremo Tribunal Federal) e outras autoridades brasileiras a reverter a inelegibilidade do ex-presidente, um cenário hoje improvável.

 

 

"Certamente a Suprema Corte ficará menos confortável para fazer perseguições." 

 

Eduardo está na Flórida, onde acompanhou na terça-feira (5/11) a contagem dos votos em Mar-a-Lago, resort de Trump, junto com o presidente eleito, com Elon Musk, dono do X (ex-Twitter), e lideranças do Partido Republicano.

 

O deputado ainda avalia que o fato de Trump ter conseguido maioria no Senado facilita a aprovação de um projeto de lei que impede a entrada nos Estados Unidos de quem tenha violado a liberdade de expressão de cidadãos americanos, apresentado em setembro, por dois congressistas republicanos.

 

A proposta poderia atingir o ministro Alexandre de Moraes, do STF. Por trás da projeto está a ideia de que o magistrado violou a Constituição americana ao suspender o X e bloquear perfis de usuários.

 

 

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Motivo para a vitória

 

O deputado federal afirma que a esquerda "se distanciou da realidade e ficou muito conectada com esses metacapitalistas, que têm um discurso perfumado, mas que não se conectam com as massas".

 

"Então, por exemplo, você vai falar de emissão de carbono, de aquecimento global, de agenda woke [forma como é chamado o discurso de pautas identitárias nos Estados Unidos]. Isso é distante para o cara que está vivendo o problema dele de alta criminalidade em algumas cidades, problemas de saúde, geração de emprego e inflação. A inflação foi o tema determinante."

 

 

Efeito da eleição para o Brasil

 

Eduardo afirma que a vitória de Trump "tem total impacto" no país. Ele afirma que, além de ter ganhado a eleição, Trump conseguiu maioria no Senado, deve obter maioria na Câmara dos Representantes e tem maioria conservadora na Suprema Corte.

 

"Eu diria que o impacto está muito mais no poder que terá agora os Estados Unidos contra os abusos de autoridades patrocinados por um ministro do STF [referindo-se a Moraes, sem mencioná-lo]."

 

Segundo ele, a nova configuração do cenário político americano, com o controle republicano do Senado, "torna totalmente factível a aprovação do projeto que tem como objetivo retirar o visto de autoridades estrangeiras que não respeitem a liberdade de expressão de americanos".

 

"Isso se enquadra perfeitamente no recente caso do X, em que houve uma briga entre o Elon Musk e certas instituições brasileiras."

 

No STF, ministros afirmam reservadamente que a volta de Trump à Casa Branca não terá consequências no Judiciário brasileiro em relação às condenações impostas a Bolsonaro na Justiça Eleitoral nem em investigações já avançadas, como a que trata da trama golpista. Os ministros, porém, entendem que pode crescer a pressão política por anistia concedida por meio do Congresso Nacional.

 

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Brasil pode repetir história dos EUA

 

Na entrevista, Eduardo fez um paralelo das trajetórias de Trump e de Bolsonaro, dizendo que os dois venceram eleições "com circunstâncias improváveis" e perderam reeleições, "alegando muita suspeita no processo eleitoral".

 

"Trump retornou. Ele foi perseguido, indiciado, atolaram um monte de processo nele, ameaçaram de prisão. É a mesma história que acontece com o Bolsonaro. Se o Trump voltou aqui, então tem a chance de Bolsonaro voltar lá. Certamente a Suprema Corte ficará menos confortável para fazer perseguições. Porque, vamos ser sinceros, não tenho outra palavra para usar."

 

Ele disse também: "Botar a Polícia Federal para pegar cartão de vacina do presidente, que acabou de sair do poder. Isso aí tem um objetivo claro, que é matar um movimento espontâneo liderado pelo Bolsonaro. Então, como o Trump resistiu, se o Bolsonaro resistir, já fica no imaginário das pessoas que ele pode ser um nome viável, sim, para 2026." 

 

 

Reversão da inelegibilidade de Bolsonaro

 

O ex-presidente Bolsonaro está inelegível até 2030 após ter sido condenado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por abuso de poder político e econômico e uso indevido dos meios de comunicação após difundir mentiras sobre o processo eleitoral em reunião com embaixadores e utilizar eleitoralmente o evento do Bicentenário da Independência.

 

Sobre a hipótese de essas condenações serem revertidas, Eduardo disse: "Impossível foi tirar o Lula da cadeia, limpar ele, tornar ele elegível. Isso, sim, que foi impossível".

 

Segundo Eduardo, não há alternativa hoje para substituir o pai na corrida pela Presidência em 2026, e Bolsonaro "é o plano A, B e C".

 

"O Bolsonaro está inelegível por quê? Porque ele se encontrou com embaixadores? Porque subiu num carro de som e discursou, um carro de som que foi pago pelo [pastor] Silas Malafaia, e aí foi condenado por abuso de poder político? Lula foi condenado por lavagem de dinheiro, por corrupção. Então, sim, eu acredito que dá para reverter [a inelegibilidade]." 

 

 

Anistia

 

O deputado defende o projeto em discussão no Congresso que propõe anistiar condenados pelo 8 de janeiro. Questionado se isso não seria eximi-los de responsabilidade pelos ataques às sedes dos três Poderes, ele pondera ver crime, mas não uma tentativa de golpe de Estado. Disse que "não foi dado nenhum tiro e não foi apreendida nenhuma arma".

 

"São totalmente exageradas e absurdas as condenações. Agora, tem alguma responsabilidade? Sim, você vai ter que individualizar a conduta e essa pessoa tem que responder por isso. Mas como a intenção, mais uma vez, não é fazer um julgamento justo, mas colocar medo nas pessoas de se manifestar a favor de gente conservadora, de Bolsonaro, de direita, estão ocorrendo prisões arbitrárias."

 

 



Raio-X | Eduardo Bolsonaro, 40

 

Deputado federal pelo terceiro mandato consecutivo, é o terceiro filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Formado em direito pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), é escrivão da Polícia Federal. Membro da Comissão de Relações Exteriores, se tornará secretário de Relações Internacionais e Institucionais do PL na próxima semana.

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